Opinião | 13-11-2022 06:59

Perder barriga e ganhar músculo para poder entrar num ginásio e tirar uma carta para poder passear o cão

Emails do outro mundo

Vigoroso Serafim das Neves

Vigoroso Serafim das Neves
Ir a um ginásio ou a uma consulta num hospital privado não é para todos e não é por causa dos preços das mensalidades ou dos seguros de saúde. É pelo trabalho que dá pormo-nos em forma ou tratarmos das maleitas para não nos sentirmos excluídos quando lá vamos. Eu falo por experiência própria e não fiques admirado com o que te digo.
Como é que eu posso entrar num local onde só há gente jovem, musculada, elegante e a transpirar energia, com a minha grande barriga e os meus pneus de tractor? Se o fizesse iria sentir-me mais deslocado que um esquimó a guiar um trenó numa auto-estrada. Ainda se houvesse por lá um gordo ou dois, ou mesmo um trinca-espinhas sem músculos nos braços e com pernas de tira-linhas?!! Mas não há e eu nem me atrevo, sequer, a chegar à recepção.
A culpa é minha, eu sei. Quem me manda desleixar-me desta maneira. Agora vou ter que suar muito e passar muita fome, se quiser entrar num daqueles Olimpos repletos de deuses e deusas das casas dos segredos. Tenho muito trabalho pela frente até me conseguir enfiar num fato de lycra de boa marca para poder entrar num ginásio e ter à disposição aparelhos de treino futuristas e um instrutor chamado ‘Personal Trainer’.
E ir a uma consulta num hospital privado não é menos difícil. Pelo que vejo nos sites deles, os médicos, enfermeiros, recepcionistas e auxiliares, são todos modelos, sem uma ruga nas fardas nem na cara. Elegantes e jovens como frequentadores de ginásios. E mesmo os doentes, chamemos-lhe assim, quando aparecem nas imagens, respiram saúde por todos os poros, sejam novos ou menos novos.
De cada vez que penso marcar consulta desisto porque duvido que me deixem entrar assim estragado e torcido como estou. E lá está, a culpa é só minha e da carga genética. O meu medo é que o Serviço Nacional de Saúde não consiga…já não digo tratar-me, mas pelo menos pôr-me de maneira que me vendam um seguro de saúde razoável, mesmo com tudo excluído menos as consultas de clínica geral e os raio-x.
Fiquei a saber que a maioria dos cães e gatos de companhia não estão registados, embora o registo seja obrigatório. E também não têm as vacinas em dia. Se fossem pessoas eram clandestinas, mas sendo animais são…uns fofinhos.
Não me espanta esta situação. Há muitos donos que não suportam ver aqueles seus familiares, como alguns lhes chamam, serem perfurados para a colocação de um chip ou picados numa sessão de vacinas. E para que será necessária tal crueldade se eles só comem rações de alta qualidade e tomam mais vezes banho que muitos vizinhos lá do prédio?
Já ouvi amigos nossos defenderem que, tal como há operações stop para carros, deveria haver operações stop para cães, por exemplo. Não estou de acordo. Pedir a uns pacatos cidadãos que passeiam os seus bóbis que apresentem os registos e as vacinas dos mesmos é uma violência que só vai contribuir para indignar os defensores dos animais e incendiar as redes sociais de comentários. E de incêndios já estamos todos fartos.
É verdade que nos Países Baixos, por exemplo, quem quer ter um animal de companhia, tem que passar num exame. E provavelmente também tem que soprar no balão se andar a conduzir um rottweiller ou um pit bull na rua mas isso só acontece em países onde as pessoas não são tão amigas dos animais como nós!!
Saudações musculadas
Manuel Serra d’Aire

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