Socialistas de Constância abstêm-se em voto de pesar por Jorge Sampaio
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Bancada do PS na assembleia municipal não gostou de parte do texto proposto pela CDU, que só viria a ser aprovado pelos comunistas e independentes.
A Assembleia Municipal de Constância aprovou um voto de pesar pelo falecimento de Jorge Sampaio, que foi Presidente da República de 1996 a 2006 e também líder do Partido Socialista. Curiosamente, a proposta partiu da bancada da CDU, que votou a favor tal como o eleito do MIC, tendo a maioria PS optado pela abstenção porque não gostou de um parágrafo do texto produzido pelos comunistas.
Em causa está a seguinte redacção, que remete para momentos distantes da nossa democracia e à cumplicidade então existente entre Sampaio e os comunistas: “A sua relação (de Jorge Sampaio) com o PCP durante a campanha eleitoral para a Presidência da República em 1986, em que a direita mais retrógrada, herdeira do regime fascista, se escondia atrás da candidatura de Freitas do Amaral levou a uma relação de forte confiança que se traduziu no acordo posterior para governação da Câmara Municipal de Lisboa”.
Outra singularidade é que foi o presidente da câmara, Sérgio Oliveira (PS), quem fez as despesas pelo lado dos socialistas na contestação a essa parte do texto, quando não devia intervir num tema que competia apenas à assembleia municipal - órgão autárquico autónomo - avaliar, debater e votar. E, ainda para mais, o jovem autarca demonstrou uma deficiente interpretação do que foi escrito na proposta da CDU.
Sérgio Oliveira disse não entender “a referência a Freitas do Amaral como um fascista”, considerando “um exagero dizer isso neste voto de pesar”. Embora não seja isso que está escrito, o autarca socialista prosseguiu dizendo que “o Dr. Freitas do Amaral tinha as suas convicções de direita, mas não foi nenhum fascista e acho que isso é forte demais”, lembrando o papel que o ex-ministro e líder do CDS teve a seguir ao 25 de Abril.
Uma intervenção que o líder da bancada da CDU, Rui Ferreira, classificou como “estranha e desadequada”. E explicou dizendo que o texto não apelida Freitas do Amaral de fascista mas sim a direita mais retrógrada, concluindo com ironia, dirigindo-se ao presidente da câmara: “Se calhar o senhor era muito jovem e não se lembra destas coisas”.
O texto da CDU descreve ainda Jorge Sampaio como um “homem de convicções, de rigor, de compromisso e lealdade aos acordos firmados” que “deixa o exemplo daquilo que pode e deve ser a gestão do bem público e das relações entre as diversas formas de pensamento”.
Jorge Sampaio morreu no dia 10 de Setembro em Lisboa, com 81 anos de idade.