Junta de Mouriscas debaixo de fogo por dívidas e obras suspeitas
Presidente da Junta de Freguesia de Mouriscas foi questionado em assembleia de freguesia sobre dívidas superiores a 40 mil euros e compra de três telemóveis por quase quatro mil euros.
O executivo de maioria socialista, do qual já se demitiu o tesoureiro, foi ainda confrontado com relatos de limpezas e alcatroamentos de terrenos particulares com recursos públicos.
O executivo socialista que governa a Junta de Freguesia de Mouriscas, no concelho de Abrantes, está a viver um momento difícil. Depois das buscas da Polícia Judiciária à sede da junta e à residência do presidente por suspeitas de crimes de peculato, na última assembleia de freguesia o executivo PS perdeu o tesoureiro e foi acusado pela oposição de alegado favorecimento de particulares através da cedência de meios e recursos daquela autarquia e de apresentar dívidas que se estimam superiores a 40 mil euros e que não estão justificadas no relatório de contas.
Depois do PSD, através do eleito José Rocha, ter levantado questões acerca da dívida avultada, a intervenção da CDU surpreendeu pela dureza e um rol de dúvidas acerca das actividades da freguesia, investimentos duvidosos e práticas que, a comprovarem-se, constituem crime. Asseguram os eleitos da CDU que têm vindo a ser alertados para situações em que os recursos humanos e materiais da Junta de Mouriscas estão a ser usados em favorecimento pessoal, dando como exemplo o corte de ervas e limpeza de terrenos e imóveis privados, aplicação de herbicidas, massas quentes, desperdícios de alcatrão ou britas em propriedades e caminhos privados.
Relativamente às dívidas, a CDU fez notar, durante a sua intervenção no ponto da ordem de trabalhos sobre a prestação de contas, que o executivo da junta presidido pelo socialista Pedro Matos não detalha nem explica os valores referentes à receita e despesa no ano de 2022. Por este motivo, e por terem recebido queixas de pessoas e entidades sobre o não pagamento dívidas por parte da junta de freguesia, a CDU, representada por António Louro e Helena Lopes Gil, requereu a listagem das entidades a quem aquela autarquia deve e quais os respectivos montantes que continuam por saldar.
Presidente rejeita acusações
Contactado por O MIRANTE Pedro Matos rejeita as acusações da CDU sobre a alegada utilização de meios e recursos para fins privados. “Não é verdade, é lógico que não o fazemos”, disse, acrescentando que sobre os 40 mil euros de dívida não iria prestar declarações, mas que a Junta de Mouriscas se pauta pelos valores da transparência.
A construção do parque multiusos naquela freguesia foi outro ponto quente na assembleia de freguesia realizada na noite de sexta-feira, 14 de Abril, com a CDU a lembrar que em sessão anterior o presidente da junta disse que nenhuma verba tinha sido canalizada para aquela infraestrutura. No entanto, sabe-se agora que a junta investiu algumas centenas de euros em equipamentos como ares condicionados (cerca de 500 euros), televisão, câmaras (mais de 300 euros), robô de limpeza, aspirador sem fios, dois extintores e um aparelho de limpeza de alta pressão.
Ao nosso jornal, Pedro Matos, que está no segundo mandato como presidente da Junta de Mouriscas, garantiu que os equipamentos estão ao serviço do espaço multiusos assim como de outros espaços da junta de freguesia. “Não foi uma assembleia atribulada, é normal que a oposição questione”, disse, criticando de seguida que os eleitos da oposição se repitam acerca dos assuntos que já foram explicados anteriormente.
Tesoureiro salta fora após buscas da PJ
André Batista, que tomou posse como tesoureiro da Junta de Mouriscas nas últimas eleições autárquicas, apresentou a demissão. Na última assembleia de freguesia o presidente da junta explicou que os motivos da renúncia são a falta de tempo e a falta de confiança no presidente da Junta de Freguesia de Mouriscas.
Recorde-se que, tal como O MIRANTE noticiou, a Polícia Judiciária realizou buscas na Junta de Freguesia de Mouriscas e na residência do presidente daquela autarquia. As investigações continuam em curso e em causa estará um alegado crime de peculato por usufruto pessoal de bens públicos.
Quase quatro mil euros gastos na compra de três telemóveis
O orçamento de uma junta de freguesia com a dimensão de Mouriscas é, como noutros casos, limitado e por vezes insuficiente para suprir todas as necessidades do território e população. Talvez seja por isso estranho que esta autarquia tenha adquirido em 2022 três telemóveis por 3.888 euros - um Samsung Galaxy Z Fold 3 por 2.500 euros, um Samsung Galaxy S22+5G por 999 euros e um Iphone XS por 389.99 euros. Na assembleia municipal, a CDU perguntou quem são os utilizadores desses telemóveis mas não obteve resposta. Ao nosso jornal, o presidente de junta adianta que os telemóveis são utilizados por pessoas afectas à junta de freguesia, inclusive pelo próprio, mas não comentou a opção pela compra de aparelhos tão dispendiosos.