Política | 28-04-2023 11:39

Discurso de Ricardo Gonçalves no 25 de Abril em Santarém causou incómodos

Discurso de Ricardo Gonçalves no 25 de Abril em Santarém causou incómodos

Eleita socialista na Assembleia Municipal de Santarém criticou o tom contundente com que o presidente do município ilustrou o estado actual do país e o presidente da Câmara de Santarém reiterou o que afirmara dois dias antes, quando criticou o estado a que o país chegou.

O discurso do presidente da Câmara de Santarém nas comemorações do 25 de Abril não agradou a todos. Na sessão da Assembleia Municipal de Santarém de 27 de Abril, a eleita socialista Dina Rocha confessou que inicialmente ficou “um pouco incomodada” e numa segunda fase “desconfortável” por ter notado entre o público presente algumas reacções de desagrado às palavras do social-democrata Ricardo Gonçalves, ainda que discretas e em surdina. “Não o vou comparar à figura do Velho do Restelo criada por Luís de Camões, mas aquilo que leu remetia para esse tipo de negatividade”, disse a autarca socialista, que disse querer acreditar que “as palavras foram mal escolhidas” por Ricardo Gonçalves.

Na resposta, o presidente do município reiterou o que dissera sobre o estado actual do país e a acção de sucessivas governações. “Disse aquilo que devia dizer neste momento” afirmou, acrescentando que foi factual e que “efectivamente há coisas estão mal e temos que as apontar”, dando como exemplos os problemas na área da saúde, educação ou habitação. Ricardo Gonçalves recordou ainda que quando o seu partido era Governo também lhe dirigiu críticas públicas. “Estou tranquilo com o que disse”, concluiu.

No discurso do25 de Abril, o social-democrata Ricardo Gonçalves reconheceu que Portugal está mais desenvolvido que há 49 anos, mas longe do pelotão da frente da União Europeia, considerando que “falta coragem para fazer reformas estruturais e falta de vontade política para mudar o estado a que isto chegou”. E acrescentou: “Infelizmente, Portugal transformou-se num país que não consegue dar futuro aos seus jovens. Estes, saem cada vez mais novos para o estrangeiro, sem contribuir para o desenvolvimento do seu país. Esta perda de talento será dramática para o nosso futuro coletivo”, sublinhando que Portugal tem “das maiores cargas fiscais da Europa, salários cada vez mais reduzidos, uma crise grave na habitação que afecta todas as gerações”.

"Na Saúde, já são mais de 1,6 milhões de portugueses sem médico de família. Nos hospitais tem que haver escalas de especialidades, vejam o Exemplo do Hospital Distrital de Santarém onde faltam dezenas de médicos, colocando, muitas vezes, em risco a saúde de todos nós. Na Educação, os professores sentem-se enganados, e com razão, com o seu tempo de serviço e com a falta de uma estratégia para a Educação, para que a Escola Pública dê o salto qualitativo que todos desejam", criticou.

Em contraponto, Ricardo Gonçalves enfatizou o contributo do poder local, que considera um amortecedor social das crises do país. “Os 308 municípios portugueses, com cerca de 14% da receita do Estado executam 50% do Investimento Público”, vincou o autarca lembrando que as autarquias “fazem verdadeiros actos de multiplicação das suas verbas, para ajudarem os seus munícipes, enquanto reparam que o Estado Central cada vez mais se desresponsabiliza das suas funções”.

"Falta coragem para fazer as reformas estruturais de que Portugal e os Portugueses necessitam. Falta ambição política para que Portugal e os portugueses possam ver a sua qualidade de vida melhorada e próxima dos melhores padrões europeus. Falta vontade política para mudar o estado a que isto chegou, para procurar os entendimentos necessários para colocar novamente Portugal na senda do crescimento e do desenvolvimento económico. Falta coragem e vontade política como os homens e mulheres de Abril tiveram", foi outra das partes fortes do discurso onde elogiou a coragem e o exemplo de Salgueiro Maia e de todos os que estiveram envolvidos no golpe militar que depôs a ditadura.

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