Política | 06-05-2023 15:00

Discurso de Ricardo Gonçalves no 25 de Abril em Santarém incomodou socialistas

Discurso de Ricardo Gonçalves no 25 de Abril em Santarém incomodou socialistas
Discurso do presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves, nas comemorações do 25 de Abril não agradou a todos os políticos

Presidente da Câmara de Santarém criticou o estado a que o país chegou e deixou algumas alfinetadas à governação socialista durante o discurso nas comemorações da Revolução dos Cravos. No PS escalabitano, que tem um acordo de governação no município com o PSD, houve quem acusasse o toque.

O discurso do presidente da Câmara de Santarém nas comemorações do 25 de Abril na cidade não agradou a todos. Na sessão da Assembleia Municipal de Santarém de 27 de Abril a eleita socialista Dina Rocha confessou que inicialmente ficou “um pouco incomodada” e numa segunda fase “desconfortável” por ter notado entre o público presente algumas reacções de desagrado às palavras do social-democrata Ricardo Gonçalves. “Não o vou comparar à figura do Velho do Restelo criada por Luís de Camões, mas aquilo que leu remetia para esse tipo de negatividade”, afirmou a autarca socialista, que disse querer acreditar que “as palavras foram mal escolhidas” por Ricardo Gonçalves.
Na resposta, o presidente do município reiterou o que dissera sobre o estado a que o país chegou e a acção de sucessivos governos. “Disse aquilo que devia dizer neste momento” afirmou, acrescentando que foi factual e que “efectivamente há coisas que estão mal e temos que as apontar”. Ricardo Gonçalves recordou ainda que quando o seu partido era Governo também dirigiu críticas públicas. “Estou tranquilo com o que disse”, concluiu.
No seu discurso no 25 de Abril, o social-democrata Ricardo Gonçalves reconheceu que Portugal está mais desenvolvido que há 49 anos, mas longe do pelotão da frente da União Europeia. “Infelizmente, Portugal transformou-se num país que não consegue dar futuro aos seus jovens. Estes saem cada vez mais novos para o estrangeiro sem contribuir para o desenvolvimento do seu país. Esta perda de talento será dramática para o nosso futuro colectivo”, sublinhando que Portugal tem “das maiores cargas fiscais da Europa, salários cada vez mais reduzidos, uma crise grave na habitação que afecta todas as gerações”.

“Falta coragem e vontade política”
“Na Saúde já são mais de 1,6 milhões de portugueses sem médico de família. Nos hospitais tem que haver escalas de especialidades, vejam o exemplo do Hospital Distrital de Santarém onde faltam dezenas de médicos colocando, muitas vezes, em risco a saúde de todos nós. Na Educação os professores sentem-se enganados, e com razão, com o seu tempo de serviço e com a falta de uma estratégia para a Educação, para que a Escola Pública dê o salto qualitativo que todos desejam”, acrescentou, não deixando de mencionar os “casos e casinhos” que têm envolvido o actual Governo.
Em contraponto, Ricardo Gonçalves enfatizou o contributo do poder local. “Os 308 municípios portugueses, com cerca de 14% da receita do Estado, executam 50% do Investimento Público”, vincou o autarca lembrando que as autarquias “fazem verdadeiros actos de multiplicação das suas verbas, para ajudarem os seus munícipes, enquanto reparam que o Estado Central cada vez mais se desresponsabiliza das suas funções”. “Falta coragem para fazer as reformas estruturais de que Portugal e os portugueses necessitam. Falta ambição política para que Portugal e os portugueses possam ver a sua qualidade de vida melhorada e próxima dos melhores padrões europeus. Falta vontade política para mudar o estado a que isto chegou, para procurar os entendimentos necessários para colocar novamente Portugal na senda do crescimento e do desenvolvimento económico. Falta coragem e vontade política como os homens e mulheres de Abril tiveram”, sublinhou, elogiando a coragem e o exemplo de Salgueiro Maia e de todos os que estiveram envolvidos no golpe militar que depôs a ditadura.

“Mais seriedade e dedicação à causa pública”

O presidente da Assembleia Municipal de Santarém, o socialista Joaquim Neto, também deixou críticas à classe política e pediu aos políticos “mais seriedade e dedicação à causa pública”, apontando a corrupção e a falta de transparência como cancros que minam a democracia e abrem caminho a extremismos e populismos. Depois de enumerar as múltiplas conquistas de Abril democracia, liberdade de expressão, garantia dos direitos humanos fundamentais, autonomia regional e local e criação do Serviço Nacional de Saúde – Joaquim Neto referiu que “a desigualdade económica continua a ser um problema significativo, levando ao aumento da pobreza e da exclusão social”.
Discursaram ainda Sónia Vieira, pela associação Comemorações Populares do 25 de Abril, o coronel Maia Loureiro, em nome da Associação Salgueiro Maia, e o coronel Correia Bernardo, em representação da Associação 25 de Abril.

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