Ricardo Gonçalves compreende posição da CAP ao não querer governantes na Feira da Agricultura
Presidente da Câmara de Santarém acha que assiste razão à Confederação dos Agricultores de Portugal na guerra aberta que mantém com o Governo e lembra que não é a primeira vez que governantes não são convidados para a Feira Nacional de Agricultura, organizada pelo CNEMA onde o município é accionista.
O presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves (PSD), entende a posição que a CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal - tomou ao decidir não convidar membros do Governo para a Feira Nacional de Agricultura (FNA), que vai decorrer no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém.
O autarca recordou na reunião de câmara de segunda-feira, 29 de Maio, que já anteriormente a CAP havia tomado posição semelhante, então em relação ao ministro da Agricultura Jaime Silva, durante um dos governos de José Sócrates. E que há poucas semanas a CAP havia feito o mesmo durante a realização da Ovibeja.
Ricardo Gonçalves deixou algumas críticas à postura que a ministra da Agricultura tem assumido e admitiu que, pondo-se no lugar da CAP, “se calhar percebe” a posição de antagonismo assumida pela organização de agricultores que, entre outros pontos, tem contestado com veemência o eventual fim das direcções regionais de agricultura.
Afirmando-se “muito preocupado com a possibilidade de perda de fundos comunitários” para o sector agrícola, Ricardo Gonçalves referiu que a CAP tem agora um novo presidente, que passa também a liderar o CNEMA, diplomata de carreira. “Vamos esperar que esta diplomacia possa trazer melhores resultados para a nossa agricultura e fazer perceber de uma maneira clara a quem decide que não se pode estar a governar contra as entidades” disse Ricardo Gonçalves, frisando que essa opinião só o vincula a ele.
A Feira Nacional de Agricultura é organizada pelo CNEMA, sociedade de que a CAP é a maior accionista, sendo a Câmara de Santarém a segunda entidade com maior participação no capital social, 19%. Tal como O MIRANTE já noticiou, a CAP tomou a decisão unilateral de não convidar membros do Governo para a FNA em protesto contra as políticas do Governo numa posição em que o município não foi tido nem achado apesar de ter dois membros no conselho de administração do CNEMA – o presidente Ricardo Gonçalves e o vereador socialista Nuno Russo.
Na reunião de câmara de segunda-feira, Nuno Russo disse o mesmo que já tinha declarado dias antes na entrevista publicada nesta edição. Lamentou a posição da CAP por entender que a feira podia ser um espaço de diálogo para se exporem preocupações e reivindicações aos membros do Governo referindo que os autarcas foram colocados perante um facto consumado.
Ministra não comenta
Já a ministra da Agricultura optou por não comentar a decisão dos dirigentes da CAP. Questionada por O MIRANTE no final da semana passada, à margem da apresentação do projecto “Aire e Candeeiros Culinary Center”, na praia fluvial dos Olhos d’Água, em Alcanena, Maria do Céu Antunes respondeu que “não vale a pena falar no assunto nem responder sobre isso”, antes de sair para o almoço com os restantes convidados.
Esquerda impediu venda de acções do município no CNEMA
Em 2015, quando a Câmara de Santarém se encontrava sob assistência financeira do PAEL, a gestão PSD, que não tinha maioria absoluta, pretendeu vender grande parte das acções que o município detém tanto no capital social do CNEMA como na Escola Profissional do Vale do Tejo (EPVT). Os vereadores do PS e da CDU, que juntos tinham maioria no executivo, manifestaram-se contra essa possibilidade e o assunto morreu aí.
Para Ricardo Gonçalves, a intenção de venda passava pela necessidade de o município precisa de encaixar receitas extraordinárias, conforme recordou na reunião do executivo de segunda-feira. A autarquia tem cerca de 19% do capital do CNEMA e 25% na Escola Profissional do Vale do Tejo e pretendia reduzir a sua participação para apenas 3% em cada um dos casos. Na altura, Ricardo Gonçalves estimava que o município pudesse encaixar com o negócio cerca de dois milhões de euros com a venda de acções do CNEMA e cerca de 300 mil euros com as da EPVT.