Rui Barreiro tentou esconder processo disciplinar com a ajuda do Ministério da Agricultura
Castigado pelo Ministério da Agricultura por violação do dever de imparcialidade, o inspector da Inspecção Geral da Agricultura, Rui Barreiro, ex-presidente da Câmara de Santarém, nunca deixou que o Tribunal Administrativo de Leiria permitisse a consulta do processo disciplinar.
O ministério deu uma ajuda manifestando-se contra os requerimentos de O MIRANTE. Mas agora, passados cerca de sete anos, o tribunal superior, para onde recorreu por não lhe ter sido dada razão na primeira instância, disponibilizou o processo.
O ex-secretário de Estado e antigo presidente da Câmara de Santarém, Rui Barreiro, tentou esconder o processo disciplinar de que foi alvo enquanto inspector da Inspecção Geral da Agricultura e Pescas. O quadro do Ministério da Agricultura conseguiu sempre impedir que O MIRANTE consultasse o recurso que fez do castigo enquanto este esteve para julgamento no Tribunal Administrativo de Leiria. O político socialista teve a ajuda do ministério, que também se manifestou contra os requerimentos remetidos ao tribunal pelo jornalista que noticiou a promiscuidade de funções do inspector.
Os juízes de Leiria apenas deram sucintas informações sobre o estado em que se encontrava o caso, nomeadamente que estava a aguardar sentença e posteriormente que já tinha havido sentença que tinha sido alvo de recurso para o Tribunal Central Administrativo Sul. Foi o juiz deste tribunal superior que autorizou a consulta do processo, onde agora foi possível perceber as recusas dos juízes da primeira instância. Cada vez que O MIRANTE pedia a consulta do processo, a advogada de Rui Barreiro e os advogados do ministério, chamados a pronunciarem-se, diziam não concordar e os juízes seguiam essa posição.
Foi um artigo de O MIRANTE que levou a então ministra do CDS, Assunção Cristas, do Governo de coligação de Passos Coelho, a mandar abrir um inquérito seguido de processo disciplinar. A notícia de 2014 dava conta que Rui Barreiro tinha uma empresa que fazia candidaturas para obtenção de apoios por parte de agricultores, que eram avaliadas pelos seus colegas no ministério. O inspector, que antes tinha sido secretário de Estado das Florestas do Governo de José Sócrates, acabou castigado com suspensão de funções por 20 dias sem direito a remuneração, recorreu para o tribunal que confirmou a pena aplicada e voltou a recorrer pedindo agora uma amnistia no âmbito da Jornada Mundial da Juventude para fugir ao castigo.
O juiz de Leiria confirmou que o político socialista omitiu ser sócio da empresa de projectos para a agricultura, apesar de Barreiro dizer que tal era do conhecimento das chefias. O funcionário do Ministério da Agricultura tinha pedido autorização para acumulação de funções públicas com as privadas de avaliador e consultor, mas nunca mencionou ser empresário. Em 2012, o seu superior hierárquico pediu mais explicações, como o local do exercício de funções privadas e a duração, tendo voltado a esconder ser sócio da Afonso Barreiro e Melo, Lda, que também teve como sócio Rui Moreira, director regional de Agricultura e Pescas do Centro na altura em que Barreiro foi secretário de Estado.
A empresa ficou totalmente nas mãos de Rui Barreiro e da família um ano antes do processo disciplinar, tendo os anteriores sócios dado os lugares aos filhos e à mulher do político e a sede da firma mudou da Amora (Seixal) para Santarém para a morada de residência de Barreiro.