Proposta do Chega sobre Salgueiro Maia divide PSD e PS na Câmara de Santarém
O Chega propôs um voto de saudação à participação de Salgueiro Maia e da Escola Prática de Cavalaria nas movimentações militares de 25 de Novembro de 1975 e, desta vez, o PSD votou a favor. O PS considera que a evocação da figura icónica de Salgueiro Maia exige muita ponderação e respeito.
O executivo da Câmara de Santarém aprovou uma proposta do vereador do Chega, Pedro Frazão, que visa a elaboração de “um voto de saudação à participação determinante do tenente-coronel Salgueiro Maia, no 25 de Novembro de 1975, na liderança da coluna militar que saiu da Escola Prática de Cavalaria (EPC) de Santarém, que determinou a vitória das forças moderadas” e a “promoção de uma conferência nacional pública e debate sobre o mesmo tema, em Santarém”.
A proposta do Chega foi aprovada com a ajuda dos quatro eleitos do PSD e sucedeu a outra proposta do Chega, apresentada duas semanas antes, que pretendia que o 25 de Novembro fosse celebrada solenemente em Santarém. Essa primeira proposta foi chumbada com 4 votos contra do PS e 4 abstenções do PSD. Os social-democratas justificaram então a abstenção por considerarem que Santarém não teve participação directa no 25 de Novembro, ao contrário do que sucedeu com o golpe militar de 25 de Abril de 1974, em que os militares da EPC, liderados por Salgueiro Maia, tiveram um papel relevante no derrube da ditadura.
Na última reunião de câmara, depois da explanação de Pedro Frazão, que classificou como “determinante” a participação da coluna da EPC, liderada por Salgueiro Maia, nos acontecimentos de 25 de Novembro de 1975, o PSD optou por votar a favor viabilizando a proposta. O presidente do município, Ricardo Gonçalves, justificou a mudança de posição dizendo que se trata de questões factuais e que concorda também com a realização da conferência sobre o tema.
Já o PS manteve o seu voto contra. O vereador Nuno Domingos referiu não estar em causa a relevância dos acontecimentos de 25 de Novembro de 1975 para a consolidação do regime democrático - “onde o PS esteve envolvido profundamente” -, mas sim o “respeito a Salgueiro Maia”, cuja evocação “exige muita ponderação” e “merece o respeito de não nos estarmos sempre a apropriar dele”. Acrescentou que, actualmente, o foco de Santarém deve estar nas comemorações do cinquentenário do 25 de Abril de 1974 e admite que 2025 seja um momento mais propício para se reflectir sobre o 25 de Novembro.
Na proposta de Pedro Frazão, agora aprovada, lê-se: “Sendo o 25 de Novembro de 1975 uma data que marca a estabilização e normalização da Democracia Representativa em Portugal, considero de extrema importância que deva ser relembrado a todos, em especial aos jovens, que foi após esta data que Portugal teve de facto grandes progressos Sociais, Económicos e Políticos. Sem o 25 de Novembro muito dificilmente estaríamos a defender a tão apregoada Democracia”.
Apesar dos argumentos avançados por Pedro Frazão, a verdade é que o papel da EPC e de Salgueiro Maia no 25 de Novembro foi bem mais discreto do que no 25 de de Abril, em que estiveram no centro dos acontecimentos. No 25 de Novembro de 1975, o sucesso da linha moderada do Movimento das Forças Armadas que travou os ímpetos da esquerda radical é atribuído a militares como Ramalho Eanes e Jaime Neves e às forças que lideraram, bem como a políticos como o líder do PS Mário Soares. Mas sobre esse golpe subsistem ainda hoje versões desencontradas sobre o papel e o posicionamento de alguns dos protagonistas à época.