Grémio Dramático Povoense ouviu testemunhos de quem viveu a ditadura
Maria Eduarda Nobre, Carlos Coutinho, Vítor Torres e António Nabais deram o seu testemunho na primeira pessoa sobre como era viver em Portugal no tempo do Estado Novo. “Tertúlia de Abril” assinalou os 50 anos da Revolução dos Cravos, promovida pela colectividade.
Maria Eduarda Nobre foi a primeira presidente de Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira após o 25 de Abril e recorda que a sua casa foi palco de muitas reuniões clandestinas nos tempos da ditadura, num período ainda mais difícil para as mulheres, em que a maioria nem sequer tinha direito a voto. Iniciou a actividade política em 1967, socorreu presos políticos e assume-se uma mulher sem medo. Actualmente faz parte do núcleo da União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) de Vila Franca de Xira e da Direcção da Associação Alves Redol.
A ex-autarca foi uma das participantes na “Tertúlia de Abril”, uma iniciativa promovida pelo Grémio Dramático Povoense (GDP) e inserida nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974. A iniciativa, que decorreu dia 19 de Abril, reuniu testemunhos na primeira pessoa de quem viveu as agruras da ditadura, lidou com a repressão e a censura.
Carlos Coutinho, escritor e jornalista, recordou alguns episódios da sua vida, nomeadamente quando foi destacado para a guerra colonial, em Moçambique, como enfermeiro militar de neuropsiquiatria. Foi operacional da Acção Revolucionária Armada (ARA) e participou activamente em diversas acções políticas contra o regime e a guerra colonial. Na tertúlia recordou alguns episódios passados na prisão entre 1973 e 26 de Abril de 1974, quando foi libertado. Um período em que foi torturado pela PIDE, nomeadamente através da tortura do sono. Lembra-se ainda da primeira vez que conheceu o Grémio Dramático Povoense, quando a colectividade recebeu o falecido escritor e Prémio Nobel, José Saramago.
Natural da Póvoa de Santa Iria, Vítor Torres destacou a importância do papel da URAP para que as memórias de quem viveu a ditadura não se apaguem. Membro do Conselho Nacional da URAP e do Núcleo de Vila Franca de Xira da associação, explicou o trabalho desenvolvido com as escolas do concelho de Vila Franca de Xira, uma vez que faz a ponte com os estabelecimentos de ensino para que os antigos presos políticos relatem a sua experiência aos mais jovens.
Preso no Aljube e em Caxias e submetido a tortura
Ex-preso político, António Nabais foi o último a dar o seu testemunho. Contou que quando foi detido pela PIDE estava na tropa. Esteve preso no Aljube e em Caxias e foi submetido a diversas torturas pela polícia política. Enquanto “veterano” do teatro no Grémio contou o acompanhamento que fazia nas comissões culturais e os escritores de renome que a colectividade acolheu, antes de 1974.
Foi o primeiro presidente da Assembleia de Freguesia da Póvoa de Santa Iria depois da revolução, em 1976, e presidente de junta entre 1981 e 1985. António Nabais presidiu à extinta Associação Dom Martinho e não pára, sendo uma das figuras mais activas da freguesia da Póvoa de Santa Iria. A tertúlia contou ainda com poemas declamados por Elisabete Martins, Ana Pereira e Cristina Monteiro.