Hoje temos um país melhor mas há muitos desafios ainda por vencer
Partidos políticos com assento na Assembleia Municipal de Tomar recordaram os tempos vividos durante o Estado Novo e celebraram as conquistas de Abril, que não se podem considerar garantidas. A intervenção dos políticos assentou também nos problemas da actualidade.
A Assembleia Municipal de Tomar assinalou o cinquentenário do 25 de Abril com uma sessão solene, na Biblioteca Municipal de Tomar, marcada pela intervenção de políticos com assento nesse órgão, que agradeceram e elogiaram quem arriscou a vida pela democracia. Hugo Costa (PS) referiu que é o primeiro presidente da Assembleia Municipal de Tomar nascido em liberdade, alertando que “a democracia e a liberdade estão sempre em construção e nada está adquirido”. O poder local democrático é uma das conquistas de Abril, disse, assim como os avanços sociais, melhorias da saúde e educação.
Também Paulo Mendes (BE) relatou as condições de vida da população durante o Estado Novo e a repressão contra os opositores do regime que culminava em prisão, tortura e, por vezes, na morte. O porta-voz do Bloco de Esquerda alertou para os perigos do autoritarismo e enfatizou a importância de avaliar o valor do 25 de Abril em tempos de crise e descontentamento, referindo o aumento do número de portugueses que decidem não votar. “Impõe-se uma profunda reflexão de todos os partidos políticos, mas sobretudo dos que têm governado o país”, afirmou.
O PSD, na voz de João Tenreiro, dirigiu o seu discurso para os políticos. “Com a liberdade veio a obrigação da verdade e de não mentir na campanha eleitoral, de falar a verdade na gestão e prossecução do interesse público e nas promessas aos cidadãos que exigem de nós a verdade”, referiu. Destacou áreas problemáticas no país como a Justiça, Saúde, Habitação e Forças Armadas, incentivando a participação activa dos cidadãos na política para melhorar o país.
Francisco Tavares (CDS) focou o discurso no presente, no futuro e na liberdade, que tem que ser cuidada e mantida diariamente para que não se perca. Falou dos “tempos estranhos” que se vivem em que os próprios políticos contribuem para a divisão da sociedade. Falou dos direitos das mulheres, referiu que ter trabalho não é só por si garantia de não viver em pobreza e da geração mais qualificada de sempre que emigra para o estrangeiro à procura de melhores condições. Aconselhou ainda que os jovens não fiquem calados, nem deixem de lutar pelas liberdades e direitos, assim como lutar por uma vida boa.
“A rápida mudança política e social que se seguiu à Revolução dos Cravos trouxe consigo instabilidade e incerteza”, afirmou o representante do Chega, Américo Costa, sublinhando o 25 de Novembro de 1975 como um momento crucial na consolidação da democracia em Portugal. Referiu ainda a necessidade de proteger e preservar os princípios fundamentais da democracia.
Luísa Ruela (CDU) lembrou algumas vitórias de Abril que perduram como os direitos de maternidade e paternidade, educação e saúde. Assim como a implementação do salário mínimo, férias pagas e direitos das mulheres. Américo Pereira (InN) abordou o dia da Revolução dos Cravos como um marco histórico, que não se resume ao derrube da ditadura mas também aos desafios enfrentados após o golpe, recordando as vítimas mortais que aconteceram no pós 25 de Abril, e as desigualdades que ainda persistem. Susana Faria (PS) alertou para as ameaças à democracia numa sociedade que, maioritariamente, já nasceu em liberdade. “Por muito imperfeita que possa ser a nossa democracia, entre uma democracia imperfeita ou uma perfeita ditadura, preferirei sempre a democracia”, sublinhou.
O primeiro presidente da Câmara de Tomar nascido após a revolução, Hugo Cristóvão (PS), foi o último a discursar. “Hoje temos um país melhor e os portugueses estão melhor e a primeira prova é que mesmo os que acham que não, podem-no dizer livremente”, frisou. O autarca reconheceu que ainda há desafios a enfrentar, como a questão da habitação e da distribuição de riqueza, incentivando a participação de todos para melhorar.
À margem/opinião
Juventude inquieta
A certeza de que a idade não conta chegou pela voz de Luísa Ruela, da CDU, que se destacou entre os políticos dos vários partidos pela assertividade e confiança que demonstrou ao discursar. Na casa dos 20 e poucos anos, criticou as políticas de direita dos governos de PS, PSD e CDS. A jovem não poupou na condenação do sistema capitalista em que vivemos, enumerando problemas no ensino superior, a crescente desigualdade entre classes e os baixos salários dos empregados de grandes superfícies comerciais que atingem lucros recorde. As tentativas de branqueamento e a promoção do fascismo nos últimos tempos não foram esquecidas no discurso da jovem que impressionou muitos adultos presentes no público.