A coluna militar de Salgueiro Maia voltou a sair de Santarém 50 anos depois
Santarém recriou a coluna militar que saiu da Escola Prática de Cavalaria a 25 de Abril de 1974 e que contribuiu para o fim da ditadura. Uma multidão assistiu ao momento. Para o vereador da Cultura, Nuno Domingos, a recriação representou uma tentativa de ilustrar a presença e a importância que a EPC e o Exército exerceram, e continuam a exercer, na cidade de Santarém.
Santarém assistiu cinquenta anos depois a uma recriação da saída da coluna militar da Escola Prática de Cavalaria, chefiada por Salgueiro Maia, que foi peça fundamental no derrube da ditadura, em 25 de Abril de 1974. A reconstituição contou com a participação de militares que, há meio século, participaram nas operações, tendo a coluna de veículos antigos percorrido algumas artérias da cidade perante os aplausos da multidão.
Sob o olhar atento e emocionado da população, que enchia as ruas de Santarém, sete viaturas transportaram os militares da ex-Escola Prática de Cavalaria (EPC) que, há 50 anos, participaram nas operações que derrubaram o Estado Novo. Foi ao som da marcha do MFA - Movimento das Forças Armadas que os militares entraram nas viaturas e percorreram as ruas da cidade, sempre rodeados pela população que, com os cravos na mão, aplaudiam e proferiam cânticos alusivos à revolução. A recriação da coluna militar fez parte do espectáculo de teatro “Esta é a madrugada que eu esperava”, que reconstituiu os momentos que antecederam a saída da coluna militar rumo a Lisboa.
A peça, com encenação de Rita Lello e texto do coronel Correia Bernardo, um dos principais responsáveis pelo planeamento e preparação da coluna militar da EPC, retrata a fadiga da guerra e da censura e a vontade e determinação em acabar com o regime por parte dos militares, que estavam preparados para sair a qualquer momento, assim que houvesse luz verde. “Isto é a realização de uma coisa que fizemos com um nó na garganta. A construção que fomos fazendo do 25 de Abril reflecte-se aqui, na manhã do dia 25”, disse Correia Bernardo à Lusa.
A coluna militar liderada por Salgueiro Maia integrava 245 militares e foi uma das maiores forças implicadas no golpe de estado de 25 de Abril de 1974. Com um longo caminho para percorrer, os militares da EPC saíram da cidade ribatejana às 03h00 e duas horas e meia depois já estavam no Terreiro do Paço, na altura sede dos principais ministérios e onde se poderia efectivamente neutralizar o Governo.
Para o vereador da cultura, Nuno Domingos, a recriação representa uma tentativa de ilustrar a presença e a importância que a EPC e o exército exerceram, e continuam a exercer, na cidade de Santarém. “Esta iniciativa demonstra a importância que a escola sempre teve nos cafés, nos cinemas, nos espectáculos e na vida social da cidade. A grande quantidade de militares que vivem na cidade, reformados e no activo, são bastantes, e há uma relação íntima e poderosa entre a cidade e o exército”, disse.
As comemorações iniciaram-se com a projecção de um espectáculo de ‘vídeo mapping’ na fachada da EPC a contar a história do exército português desde o fim do império até ao 25 de Abril. A projecção contou com fotografias de Alfredo Cunha, música de Rodrigo Leão, e desenhos de Vhils, e foi simultaneamente visionado em Lisboa, Porto, Matosinhos e Santarém.