Política | 08-05-2024 18:00

Discursos contra o fascismo em destaque no 25 de Abril em Torres Novas

Discursos contra o fascismo em destaque no 25 de Abril em Torres Novas
Presidente do município, Pedro Ferreira, entregou um diploma aos homenageados no final da sessão solene das comemorações do 25 de Abril

Na sessão solene das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril em Torres Novas, da esquerda à direita, os discursos focaram-se na necessidade de lutar contra populistas e antidemocráticos e na importância do poder local para assegurar e melhorar os direitos e qualidade de vida das populações. Movimento independente não se quis juntar às celebrações.

O presidente da Câmara de Torres Novas, Pedro Ferreira, encerrou os discursos proferidos na sessão solene das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, no Parque da Liberdade, partilhando com o público como viveu o dia da revolução de 1974, como militar em Santa Margarida, para sublinhar que só quem viveu nesse tempo de ditadura “poderá valorizar ainda mais” os valores conquistados em Abril. “Só a liberdade conquistada permitiu a pluralidade política e a transformação social do país com direitos e deveres iguais para todos”, afirmou.
O autarca socialista destacou o poder local como “uma das maiores conquistas do 25 de Abril” e vincou que a revolução não pode ser uma data só para recordar. “Exige de todos uma responsabilidade enorme de viver em sociedade. O desrespeito pelas regras democráticas põe em risco a democracia e teremos que reconhecer que temos assistido a algumas acções políticas no país e no mundo que nos deixam muito preocupados”, disse.
Também o presidente da Assembleia Municipal de Torres Novas, José Trincão Marques destacou a importância do poder local e do crescimento do seu papel, salientando que “a descentralização dos poderes do Governo para os municípios melhora a governação e a transparência”. Na segunda parte da sua intervenção vincou que a “democracia é frágil” e que “é preciso combater de frente os movimentos populistas, extremistas, antidemocráticos e saudosistas da ditadura”.
“Há quem, hoje, de forma clara e desavergonhada, mas não inocente, afirme que a revolução foi um retrocesso para Portugal”, acrescentou José Trincão Marques para alertar que o povo não se pode calar “porque antes do 25 de Abril “não havia liberdade de expressão, Serviço Nacional de Saúde, não havia os níveis de escolaridade pública que existem hoje”. Pelos socialistas falou ainda Francisco Dinis que sublinhou que os ataques à democracia são uma realidade” e que “a liberdade não é um dado adquirido”, sendo necessário continuar a fazer-se Abril.
À direita, o PSD, pela voz de André Valentim, e o CDS-PP, representado por Nuno Cruz, criticaram o estado a que chegou a saúde em Portugal, no que toca à diminuição da sua capacidade de resposta e sublinharam que é preciso exigir mais para os portugueses também no que respeita, entre outros aspectos, à segurança e educação que enfrenta falta de vagas em creches e de professores. Nuno Cruz quis também notar que “sem moderação não há democracia” e André Valentim completou dizendo que “depende de cada um viver em permanente espírito de revolução e resistência, contra ideias retrógradas, ultrapassadas ou mensagens extremistas”.

Fascistas disfarçados com cravos na lapela
Também do lado do Bloco de Esquerda surgiram alertas sobre as ameaças à democracia com António Gomes a afirmar que existem muitos fascistas disfarçados com cravos na lapela. Depois de recordar algumas das maiores conquistas de Abril, como a emancipação das mulheres, o direito ao aborto, o fim da discriminação da comunidade LGBTQIA+ e a permissão para adopção por casais do mesmo sexo, o bloquista referiu que as políticas locais têm “todas” de atender aos desafios das alterações climáticas e que Torres Novas não pode ser excepção.
Pela CDU falou Ana Filipa Besteiro, que lamentou que alguns queiram fazer desaparecer as conquistas da revolução de 1974. Reforçou que é preciso lutar contra todos os que querem “enclausurar Abril” e afirmou ainda que continuam a existir aspectos negativos que é preciso mudar e desigualdades sociais que é preciso combater. O Movimento P’la Nossa Terra, com assento na assembleia municipal, optou por não se representar nas comemorações por considerar, referiu o vereador eleito António Rodrigues na reunião de câmara que antecedeu a data, que o programa, entre outros aspectos negativos, não dignifica a Revolução dos Cravos.

Trinta figuras homenageadas

No final da sessão solene foram homenageados os 30 nomes que integraram a comissão de honra das comemorações pelas acções desenvolvidas e a importância que estas tiveram no antes e no pós-25 de Abril de 1974. Entre outras, a fundação de partidos políticos, contribuindo, dessa forma, para a pluralidade partidária que foi uma das conquistas da revolução. Os homenageados foram Alice Vieira, Álvaro Maia, António Canais, António dos Santos, Arnaldo dos Santos, Carmelinda Pereira, Casimiro Pereira, Deolinda Zuzarte Reis, Eduardo Bento, Emídio Martins, Fernanda Tavares, Gualter Pedro, Guilherme Pinto, Hilário Teixeira, João Gonçalves, Joaquim Alberto, Joaquim de Oliveira, José Marques, José Pereira, José Paixão, José Ribeiro, José Vaz Teixeira, Luís Formiga, Luís Lopes, Manuel Rodrigues, Manuel Banito, Maria Manuela Fazenda, Maria Manuela Neves, Pedro da Luz e Rui Pereira.

À margem/opinião

Crise da habitação leva munícipe a interromper sessão

Antes do presidente do município de Torres Novas iniciar o seu discurso, uma munícipe ergueu-se da plateia de cravo na mão e, interrompendo a sessão solene, para espanto dos presentes, criticou a falta de habitação condigna e a custos acessíveis em Torres Novas. Um protesto que não passou ao lado da intervenção de Pedro Ferreira que vincou que o direito de qualquer cidadão de ter um lar digno é também uma conquista de Abril, assegurada pelo Primeiro Direito- Programa de Apoio ao Acesso à Habitação. Tenha ou não causado mais ou menos incómodo aos autarcas e público presentes, ou até a quem conduzia a logística da sessão, a intervenção da munícipe é uma ode à liberdade de expressão. E também foi para isto que se fez o 25 de Abril!.

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