Sónia Sanfona só governa Alpiarça se família Rosa do Céu deixar
A vice-presidente da Câmara de Alpiarça, Margarida Rosa do Céu, renunciou aos pelouros, mas vai manter o mandato como mera vereadora, deixando a presidente Sónia Sanfona numa situação de fragilidade, se a vereadora votar ao lado da CDU que tem dois vereadores no executivo de cinco elementos.
A situação acontece numa altura em que se fala num mal-estar entre as duas autarcas e quando o pai da vereadora e presidente da Fundação José Relvas, que foi mandatário da candidatura de Sónia Sanfona, veio criticar a gestão dos legados.
A vice-presidente da Câmara de Alpiarça pediu a renúncia a todos os pelouros e desde o dia 1 de Outubro que Margarida Rosa do Céu (PS) passou a mera vereadora sem pelouros, em que basicamente participará nas reuniões do executivo. A autarca, contactada por O MIRANTE, diz que a decisão foi ponderada e enquadrada, escusando-se a dizer os motivos que, revelou, foram expostos à presidente da autarquia, Sónia Sanfona (PS), no pedido de renúncia. Mas na câmara a versão que corre é que as duas estavam em rota de colisão com divergências que já tinham mesmo levado ao corte de relações.
Nas últimas reuniões do executivo a presidente e a vice-presidente não falavam uma com a outra, sendo perceptível o mal-estar entre ambas. Sónia Sanfona já tinha sido questionada pela CDU na assembleia municipal sobre a situação, mas a presidente não deu qualquer explicação. Com a saída da número dois, a presidente pode estar em maus lençóis em termos da gestão do município se a vereadora sem pelouros não votar favoravelmente as propostas socialistas. Margarida Rosa do Céu passará a ser o fiel da balança, uma vez que a CDU elegeu dois vereadores, num executivo de cinco elementos.
A vida de Sónia Sanfona pode complicar-se ainda mais porque o irmão da agora vereadora sem pelouros, João Pedro Rosa do Céu, é o presidente da concelhia do PS e jurista da câmara e o pai de ambos, Joaquim Rosa do Céu, ex-presidente da câmara, é o presidente da maior instituição do concelho, a Fundação José Relvas. O ex-autarca foi o mandatário e segundo alguns o estratega que levou à eleição de Sanfona após três tentativas para ser presidente da autarquia.
A saída da vice-presidente acontece também numa altura em que as relações entre o seu pai Joaquim Rosa do Céu e Sónia Sanfona parecem estar a degradar-se. Sinal disso são as críticas recentes do ex-autarca e presidente da Fundação José Relvas sobre a gestão dos legados por parte do executivo socialista.
Recentemente Joaquim Rosa do Céu acusou publicamente o executivo que ajudou a eleger de não estar a transferir os rendimentos dos legados para a instituição desde o início do mandato. Na altura a câmara já liderada por Sónia Sanfona teve de entregar 500 mil euros à fundação, depois de ter sido condenada num processo judicial que tinha sido interposto na altura em que estava a CDU a gerir o município.
À margem - opinião
Sónia Sanfona nas mãos da família Rosa do Céu
A família Rosa do Céu controla as instituições chave do concelho de Alpiarça e pode, se quiser, ser uma fonte de bloqueio que deixa a presidente da câmara, que o patriarca socialista ajudou a eleger, numa situação de vulnerabilidade. Sónia Sanfona entregou-se nas mãos de Joaquim Rosa do Céu, ex-presidente da câmara e actual presidente da maior instituição da localidade, a Fundação José Relvas, na candidatura à autarquia.
O ex-autarca, que a CDU chegou a acusar de liderar ilegalmente a instituição que também foi presidida pelo seu pai, foi mandatário da candidatura de Sanfona, conseguiu fazer elegê-la, meteu a filha na câmara e o filho na assembleia municipal (de onde já saiu) e como jurista do município. Joaquim Rosa do Céu já mostrou afastamento da sua discípula ao criticar a gestão dos legados por parte do executivo socialista.
A agravar o cenário, o filho do presidente da fundação, João Pedro Rosa do Céu, é também o presidente da concelhia do PS. Perante este cenário, Sónia Sanfona precisa de um grande jogo de cintura para se manter em estado de graça, porque se a sua ex-vice-presidente passar a votar ao lado dos comunistas, a sua gestão na câmara fica bloqueada. E o apoio do partido não será fácil porque não domina a concelhia.
António Palmeiro