Política | 13-10-2024 07:00

Sangue quente do presidente da Câmara de Abrantes desmotiva vereadores da oposição

Sangue quente do presidente da Câmara de Abrantes desmotiva vereadores da oposição
Última reunião de câmara de Abrantes contou com algumas polémicas entre maioria e oposição

Ânimos exaltados entre o presidente da Câmara de Abrantes, Manuel Valamatos, e o vereador da oposição Vítor Moura levaram este a abandonar a reunião, acusando o autarca socialista de ser um ditador.

Voltou a estalar o verniz entre o presidente da Câmara de Abrantes, Manuel Valamatos (PS) e o vereador do PSD, Vítor Moura. Na última reunião do executivo, o vereador do movimento AlternativaCOM, Vasco Damas, voltou a questionar o presidente sobre a colocação de alunos na Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes e sobre a residência de estudantes no concelho. Vítor Moura saiu em defesa de Vasco Damas afirmando que o município iria gastar 2,6 milhões numa obra para “deitar 54 estudantes”.
A expressão usada pelo vereador social-democrata já havia sido repreendida por Manuel Valamatos, em reuniões anteriores, voltando o autarca socialista a demonstrar o seu desagrado pelo termo escolhido. “Essa é que é a questão. Nós não deitamos alunos! O senhor não volta a utilizar essa linguagem numa reunião camarária. Todos os nossos alunos merecem muito respeito e esse é o termo que tem usado sempre aqui e é incorrecto. Não vamos deitar ninguém, vamos dar condições aos nossos alunos. Essa linguagem não faz sentido nenhum”, afirmou o presidente.
A discussão iria subir de tom ainda mais, depois de o vereador Luís Dias (PS) ter questionado Vítor Moura sobre se a posição de desagrado adoptada pelo vereador, face à Feira Nacional de Doçaria Tradicional, era partilhada pelo PSD. “Tem desmerecido, constantemente, a importância da feira que é um evento que traz muita notoriedade ao território, fortalece a actividade económica e dos vendedores e produtores locais, sendo decisiva para a notoriedade de Abrantes, a minha questão é se o PSD partilha da sua visão, enquanto vereador eleito pelo partido, e se assume declaradamente contra a feira?”, questionou Luís Dias.
No entanto, o vereador não obteve resposta, uma vez que Manuel Valamatos pretendeu iniciar a ordem de trabalhos, impedindo Vítor Moura de responder. “O senhor terá oportunidade de intervir durante a ordem de trabalhos. Neste momento, esgotou o seu tempo de intervenção”, explicou o presidente, para desagrado de Vítor Moura que acusou o presidente de ser um ditador. “Não é quando tivermos a falar de uma obra que vou responder ao vereador Luís Dias a propósito da Feira Nacional da Doçaria Tradicional. O senhor não é democrata, é um ditador! E eu, simbolicamente e por respeito a todos os que votam no concelho de Abrantes, vou-me ausentar da reunião. Não sei lidar com ditadores”, rematou Vítor Moura, abandonando a reunião.

À margem/opinião

Abandonar reuniões de câmara; para que serve?

É notícia um vereador da oposição abandonar uma reunião de câmara em protesto contra o presidente por discordar da forma como ele dirige a reunião? Sim, é notícia, mas não é caso para escrever que a oposição está em alta em Abrantes só porque não aceita os critérios do presidente da câmara quando este dirige a ordem de trabalhos. Manuel Valamatos já demonstrou que é um político de sangue quente, que está ali para dar luta mesmo sabendo que a oposição tem o seu espaço e o seu direito a fazer política. Mas ele é o líder da autarquia e está na posição que o obriga a conduzir os trabalhos da reunião. Se não os conduz como a oposição quer, eles abandonam a reunião. Ora isto não é respeitar os cidadãos que votam nos políticos da oposição. Os políticos da oposição têm de estar preparados para fazer oposição e não para abandonarem as reuniões por dá cá aquela palha, que o mesmo é dizer por não falarem quando querem e o tempo que querem. Mais ainda: o presidente tem o direito de protestar contra insinuações de que não gosta e os vereadores têm o direito de as manterem ou até de as enfeitarem ou renovarem à boa maneira dos tempos em que a política era uma actividade que obrigava a puxar da caneta e dos apontamentos e não uma discussão à moda das antigas varinas da Nazaré.

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