Estado do centro histórico de Santarém deu discussão acesa na reunião de câmara
Nova vereadora do Chega em Santarém entrou ao ataque na sua estreia no executivo municipal e deu particular destaque ao estado do centro histórico da cidade, dizendo que está moribundo e à beira do colapso. Presidente da autarquia rebateu essa visão “catastrófica”.
A farmacêutica Manuela Estêvão assumiu o lugar de vereadora do Chega na Câmara de Santarém, depois da renúncia ao mandato do seu colega de partido Pedro Frazão, e entrou ao ataque na sua primeira aparição numa reunião do executivo, no dia 28 de Outubro. A nova autarca não esteve com paninhos quentes e criticou a governação da Câmara de Santarém, actualmente partilhada por PSD e PS, sendo particularmente incisiva no que toca ao estado do centro histórico da cidade, onde gere uma farmácia há muitos anos.
Entre as críticas apontadas ao executivo, a autarca mencionou o “abandono do centro histórico”, defendendo a necessidade “de fixar pessoas no território” através da criação de postos de trabalho. Manuela Estêvão disse que “o centro histórico está à beira do colapso” e que necessita de medidas assertivas e urgentes. Relevou a título de exemplo o “estado deplorável” da fachada do Teatro Sá da Bandeira, com fissuras e candeeiros partidos. Prestando uma “singela homenagem aos comerciantes do centro histórico cada vez mais desertificado pela falta de estratégia de sucessivos executivos”, a autarca afirmou que “o centro histórico está moribundo” e que “se desaparecerem meia dúzia de lojas âncora ficará à mercê dos pombos e dos ratos”.
Defendeu a elaboração de um gabinete técnico local para ajudar à regeneração urbana da zona antiga e de um plano estratégico para a cidade, garantindo que irá ser “a voz dos descontentes com a falta de rumo” no concelho de Santarém. “Santarém precisa de um plano estratégico integrado a médio e longo prazo, que nos perspective a 15 ou 20 anos”, enfatizou, pedindo também que se olhe para os exemplos de outras cidades, como Guimarães, no que toca à revitalização do centro histórico.
Algum desconhecimento e visão catastrofista
O presidente da Câmara de Santarém, João Leite (PSD), respondeu dizendo que Manuela Estêvão demonstrou “algum desconhecimento” da realidade, dizendo que já existe um gabinete de apoio ao centro histórico e explicando que algumas das exigências no âmbito do restauro ou manutenção de edifícios é da responsabilidade de organismos estatais da área do património. Enumerou o investimento de milhões na requalificação do espaço público no centro histórico e referiu que “é um erro e não corresponde à verdade dizer-se que a Câmara de Santarém não tem feito nada”.
Rebatendo essa “análise catastrófica” da vereadora da oposição, João Leite apontou os mais de 200 milhões de investimento privado em curso no concelho, o aumento das exportações das empresas de Santarém ou o aumento de dormidas turísticas como “dados objectivos” da “dinâmica no concelho de que nos devemos orgulhar”. O vereador Nuno Domingos (PS), que tem o pelouro do centro histórico, subscreveu a intervenção do presidente mas reconheceu a necessidade de intervir na fachada do Teatro Sá da Bandeira, estando as obras previstas para o próximo ano.
Manuela Estêvão ainda voltou à carga para se regozijar com o investimento privado no concelho, afirmando que não é um ‘velho do Restelo’, não é distraída nem ignorante, nem tem uma visão catastrófica. E enfatizou: “o estado do centro histórico é deprimente e o centro histórico vai morrer. Assumo isso aqui e lamento”, declarou, deixando um convite a todo o executivo para realizar uma visita ao centro histórico, que “está em fase de colapso”.
Pedro Frazão também foi alvo de críticas
Já em declarações à agência Lusa, Manuela Estêvão - que durante 40 anos foi militante do PSD (partido pelo qual foi eleita vereadora no Cartaxo e deputada municipal) - criticou também o trabalho realizado pelo antigo vereador do Chega por não ter apostado numa política de proximidade. “Somos pessoas completamente diferentes. Uma das críticas que lhe aponto é o facto de não ter ido a nenhuma das 18 freguesias e foi uma pena, porque se perderam três anos de ligação às pessoas, e o poder local é importante. Temos um ano para reverter esta situação”, afirmou, referindo-se às eleições autárquicas de 2025.