Política | 02-03-2025 18:00

Perpétua Rodrigues é, aos 81 anos uma das últimas bordadeiras da Glória do Ribatejo

Perpétua Rodrigues é, aos 81 anos uma das últimas bordadeiras da Glória do Ribatejo
Perpétua Rodrigues

Cerimónia contou com actuação do Rancho Folclórico da Casa do Povo da Glória do Ribatejo e lançamento do livro “Recolhas na Glória: Reminiscências e Evidências”. Há três anos que os bordados da Glória do Ribatejo estão no Inventário Nacional do Património Imaterial.

A Glória do Ribatejo celebrou no passado sábado, dia 15 de Fevereiro, o terceiro aniversário da inclusão dos bordados da Glória do Ribatejo no Inventário Nacional do Património Imaterial. A cerimónia ficou marcada por um espectáculo proporcionado pelo Rancho Folclórico da Casa do Povo e pelo lançamento do livro “Recolhas na Glória: Reminiscências e Evidências”, que celebra e imortaliza o património cultural da localidade.
O auditório do Espaço Jackson, inaugurado em 2020, recebeu o evento, que contou com a presença do presidente da autarquia, Hélder Esménio. A cerimónia teve grande afluência por parte da população, que demonstrou ser fiel às suas raízes e manifestou entusiasmo em manter viva a tradição dos bordados. Durante o evento, foram destacadas as iniciativas municipais e comunitárias que têm contribuído para a preservação e divulgação deste património imaterial.
Perpétua Rodrigues aprendeu a “marcar” (expressão que os habitantes locais utilizam para “bordar”) desde cedo, pois era a mais velha entre os irmãos. Aos 81 anos, entre a colecção de bordados da Glória do Ribatejo que está exposta no Espaço Jackson, consegue reconhecer aqueles que foram feitos pela sua mãe e até pela sua avó, relíquias que “trouxe lá de casa” para deixar em exposição. O seu olhar emocionado ao identificar estas peças evidencia o forte laço entre as gerações e a importância de perpetuar a história através da arte dos bordados.
Cresceu na pequena aldeia ribatejana e lembra-se de brincar junto ao Poço da Roda quando era criança. “A minha mãe dava-me linhas e um pouco de tecido e dizia ‘tens de aprender a marcar’”, recorda, afirmando que começou pela técnica da cercadura de dois pontos, progredindo depois para métodos mais exigentes. Enquanto passeia pela exposição, consegue identificar os diferentes tipos de bordados e as ocasiões em que eram utilizados, como em dias de casamentos ou presentes que eram oferecidos na altura da Páscoa. “Os namorados costumavam oferecer um saco de amêndoas às namoradas e elas retribuíam com um bordado”, conta a O MIRANTE. Agora reformada, ainda faz questão de continuar a “marcar” de vez em quando, fazendo adereços para os mais próximos, mas não esquece outros tempos, em que as condições não eram tão fáceis. “À noite chegavam a ser sete ou oito mulheres em torno de uma candeia, todas a marcar e a contar os fios”, relembra, referindo que ainda conseguiu ensinar a arte à sua filha. Apesar das dificuldades, a partilha e a união das bordadeiras criavam um ambiente de cumplicidade e transmissão de saberes que permanece na memória colectiva da comunidade.
A transmissão e continuidade deste património imaterial continua a depender do empenho da comunidade, que, através de iniciativas como esta celebração, reforça a importância da identidade da região.

Alexandra Dias e Álvaro Pote apresentaram livro sobre testemunhos recolhidos na aldeia

Um casal que imortalizou a tradição em livro

Um dos pontos altos da cerimónia foi o lançamento do livro “Recolhas na Glória: Reminiscências e Evidências”, da autoria de Alexandra Dias e Álvaro Pote. A obra, que contou com apoio e promoção da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, é resultado de anos de recolhas de testemunhos das “gentes” da aldeia, contabilizando cantigas, orações, expressões e outras tradições da Glória do Ribatejo.
A O MIRANTE, os autores explicam que a obra surgiu de forma inerente, dado que as recolhas sempre foram feitas pelo interesse no tema e nunca com a finalidade de as tornar num livro. No entanto, como “filhos da terra”, Alexandra Dias e Álvaro Pote não deixaram escapar a oportunidade de imortalizar a tradição e as pessoas da localidade. O processo de pesquisa e recolha de testemunhos foi minucioso, garantindo que cada detalhe reflectisse fielmente a riqueza cultural e histórica da Glória do Ribatejo. O casal, que leva uma vida ligada ao Rancho Folclórico da Casa do Povo da Glória do Ribatejo, atribuiu o mérito às pessoas da terra pela obra e património cultural da região.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1705
    26-02-2025
    Capa Médio Tejo
    Edição nº 1705
    26-02-2025
    Capa Lezíria Tejo
    Edição nº 1705
    26-02-2025
    Capa Vale Tejo