Chega acusado de hipocrisia por ser contra plano anti-corrupção na Câmara de Santarém

Autarcas do CDS e do PSD criticaram de forma contundente na Assembleia Municipal de Santarém a posição do Chega contra a proposta de Plano de Prevenção de Riscos de Corrupção e Infrações Conexas do município, aprovado por larga maioria. Chega alega que documento é um paliativo.
A Assembleia Municipal de Santarém aprovou por esmagadora maioria a proposta de Plano de Prevenção de Riscos de Corrupção e Infrações Conexas do município, com apenas dois votos contra dos eleitos do Chega, que seguiram o sentido de voto da vereadora do partido quando o assunto foi debatido em reunião de câmara.
A posição do Chega suscitou críticas contundentes de outras bancadas na assembleia municipal, com o eleito do CDS/PP Pedro Melo a dizer que o Chega apresenta-se “como paladino do combate à corrupção” e depois vota contra um plano nesse sentido, sem ter apresentado qualquer proposta alternativa. “Há um plano melhor do Chega? Onde é que ele está?”, questionou o eleito do CDS, acusando o Chega de “dizer uma coisa e fazer outra” e de apresentar “justificações que não fazem sentido” para votarem contra. “É bom que isto tenha acontecido, porque é a demagogia no seu esplendor. Caiu-vos a máscara (…) Os senhores criticam, atacam tudo, são todos corruptos menos as pessoas do Chega e depois votam contra”, atacou Pedro Melo.
A resposta veio da parte do eleito do Chega Manuel Inez, que começou por censurar Pedro Melo por estar a criticar a vereadora do Chega Manuela Estêvão, presente na assembleia municipal, sem que esta pudesse retorquir. O que Pedro Melo contestou: “claro que pode intervir, aliás, espero isso mesmo”. Mas a vereadora optou por não falar, tendo Manuel Inez assumido a defesa da posição do Chega, classificando como “um paliativo” o plano em apreço. “Foi-nos dado a conhecer um documento com 200 páginas mas gostaríamos que nos explicassem claramente de que forma é que ele é aplicado. Como é que aquele documento ajuda a impedir a corrupção? Eu pessoalmente não sei como”, confessou o autarca do Chega, que justificou também a não apresentação de sugestões pelo partido alegando que “quem tem que dar contributos e de se preocupar com ele é quem está a liderar”.
Da parte do PSD, Jorge Rodrigues atirou mais achas para a fogueira, rotulando a posição do Chega de “surreal” por fazer da luta contra a corrupção uma bandeira e depois votar contra um plano “concreto, robusto e legalmente sustentado” nesse sentido. “O Chega é um partido de slogans, vazio de propostas, incapaz de contribuir para o debate e para as soluções que o município e o país precisam”, atirou.
O presidente da câmara, João Leite (PSD), juntou-se às críticas, sublinhando que o plano decorre de uma obrigação legal e que o Chega teve muito tempo para avaliar o documento e apresentar eventuais propostas alternativas. “Ficámos todos com uma sensação clara: o Chega não leu o documento”, afirmou o líder do executivo, que não foi meigo nas palavras: “Hoje o Chega deu nesta assembleia um importante contributo para a democracia. Clarifica a sua verdadeira razão de existir. É um verbo de encher que em nada contribui para o desenvolvimento e crescimento do nosso território”.
Da bancada do PS, Rui Barreiro disse que subscrevia “de alguma forma” a intervenção de Jorge Rodrigues e lembrou que o plano decorre de um decreto de lei.