Vídeo partidário motiva demissão do presidente da assembleia da Misericórdia de Alenquer

João Galvão Teles apresentou a demissão da presidência da mesa da assembleia-geral da Santa Casa da Misericórdia de Alenquer, após a divulgação de um vídeo do PS Oeste gravado nas instalações da instituição. Para o dirigente, a participação do provedor da instituição, Luís Rema, na peça comprometeu a isenção exigida. Já os órgãos sociais da instituição defendem o provedor e dizem não haver motivo para renúncia ao cargo.
O presidente da mesa da assembleia-geral da Santa Casa da Misericórdia de Alenquer (SCMA), João Galvão Teles, apresentou a demissão após a divulgação de um vídeo do PS gravado nas instalações da instituição. O vídeo, publicado pela Federação Regional do Oeste do Partido Socialista no dia 25 de Abril, promoveu a construção da nova creche, financiada por fundos do Plano de Recuperação e Resiliência, como resultado do trabalho do Governo do PS, apelando ainda ao voto no partido nas eleições legislativas de 18 de Maio.
Na gravação, é possível ver candidatos socialistas a visitar as obras, bem como a presença do provedor da instituição, Luís Rema, também candidato à presidência da Assembleia Municipal de Alenquer pelo PS. Apesar de Luís Rema não ter proferido declarações no vídeo, João Galvão Teles, que é também chefe de gabinete da secretária de Estado da Justiça, considera que a necessária separação entre funções institucionais e políticas foi quebrada, comprometendo a isenção e a idoneidade da Santa Casa.
“O senhor provedor da SCMA, Luís Rema, comunicou-me há alguns meses ter aceitado o convite do PS para se candidatar à presidência da Assembleia Municipal de Alenquer. Na ocasião, questionei-o se entendia ser essa candidatura compatível com o exercício do cargo de provedor da Misericórdia e se pretendia manter essas funções. Respondeu-me afirmativamente. Admiti então e esperei que Luís Rema soubesse garantir a indispensável e absoluta separação entre as qualidades de provedor e de candidato, pois assim o exigia não apenas o mais elementar bom senso e sentido de responsabilidade, mas também a isenção, a idoneidade e o foco nos superiores interesses da Santa Casa pelos quais se deve pautar o exercício da função executiva de provedor”, justificou João Galvão Teles.
Face à perda de confiança, João Galvão Teles decidiu renunciar ao cargo. “Lamentavelmente, ao consentir a realização do vídeo em causa e nele participar, Luís Rema colocou a SCMA no centro da disputa político-partidária e permitiu a apropriação da sua actividade por parte do partido político pelo qual milita e se candidata, tornando legítimo o entendimento, por parte da opinião pública, de que o cargo de provedor possa ter servido para promover as suas próprias aspirações políticas e as dos seus correligionários. (...) Em virtude desta falta ética, deixou de reunir as condições para continuar a exercer o cargo de provedor”, reiterou.
A O MIRANTE, a mesa administrativa da SCMA e demais órgãos sociais, dizem ter sido surpreendidos com a renúncia ao cargo de João Galvão Teles. Em comunicado, a instituição sublinha que é da competência da mesa administrativa aceitar visitas de movimentos cívicos ou forças partidárias ao espaço da futura creche e diz que as imagens e declarações proferidas no vídeo são da responsabilidade dos eleitos do Partido Socialista presentes na visita e não do provedor da Santa Casa e candidato autárquico que “não teve qualquer interferência nas intervenções nem incentivou ou colaborou na sua divulgação”.
Nesse sentido, a mesa administrativa da instituição considera que as razões evocadas pelo presidente da mesa da assembleia geral não sustentam a demissão do cargo e terminam agradecendo a colaboração de João Galvão Teles.