António José Ganhão diz que fez mais obra em Samora Correia para corrigir assimetrias face a Benavente

António José Ganhão, antigo presidente da Câmara Municipal de Benavente, participou numa conferência onde reconheceu as assimetrias acentuadas entre Samora Correia e Benavente quando assumiu o cargo e sublinhou a importância de corrigir desequilíbrios históricos. Na tertúlia discutiram-se memórias, identidades e os desafios do futuro da cidade.
António José Ganhão afirmou, na tertúlia “Samora Correia 2030”, que fez “mais obra em Samora Correia do que em Benavente” por considerar essencial corrigir as assimetrias históricas entre as duas localidades. “Quando se perder este norte, então haverá rivalidades grandes”, alertou o antigo autarca, que presidiu à Câmara Municipal de Benavente entre 1979 e 2013. O antigo autarca explicou que os serviços estavam todos concentrados em Benavente, “porque era assim que funcionava o Governo da outra senhora”, e que a descentralização que promoveu visou dar a Samora Correia as mesmas condições de que já dispunha a sede de concelho. “Havia atraso em Samora Correia e havia população equivalente à de Benavente”, afirmou.
Na conversa, promovida pela Associação Social Amigos de Samora Correia (ASASC) no Dia da Cidade, o ex-presidente recordou os primeiros anos de governação autárquica. “Saiu-me a sorte grande quando tomei posse como presidente da Câmara de Benavente em 2 de Janeiro de 1980. No cofre da câmara estavam 30 mil contos, deixados pelo antecessor, que transitaram da gerência anterior”, contou, revelando que a transferência de fundos da Lei de Finanças Locais, que deveria ter entrado em vigor em 1979 só aconteceu no final do mandato de Cassiano Andrade.
A autarquia dispunha, naquele tempo, de dois dumpers, dois tractores, duas camionetas do lixo e até palha para as mulas no estaleiro de Benavente. Essa quantia foi decisiva para o salto qualitativo que foi possível dar nos anos seguintes. “Era uma época em que sobrava terreno (…) Foi possível começar a fazer estradas, redes de saneamento básico e construir habitação social, assim como o sonho da Escola C+S”, referiu António José Ganhão, destacando ainda que o município foi o primeiro do país a garantir escola para crianças dos 3 aos 6 anos com vagas em todos os jardins-de-infância.
O ex-autarca e professor sublinhou que a política “deve ser feita com base no consenso” e que é, acima de tudo, negociação. António José Ganhão contou que, no tempo em que era professor e vereador, usava as horas livres para visitar todas as localidades do concelho. “Estabeleci de imediato contactos com as pessoas e criei o sentimento de que essas pessoas tinham que ter protagonismo se quisessem ver resolvidos os seus problemas”, disse, incentivando a organização comunitária para facilitar o diálogo com o poder local.
Em 1976, quando António José Ganhão foi eleito vereador em Benavente, o concelho de Coruche tinha cerca de 30 mil habitantes e o concelho de Benavente à volta de 17 mil. “Aprendi muito todos os dias. Foi essa a minha principal lição enquanto presidente de câmara. Fui colhendo muitos factos e momentos que serviram para a vida. Sinto que tive sucesso na minha actividade, isso foi para mim uma felicidade”, finalizou o ex-autarca que, no final da intervenção, desafiado por O MIRANTE preferiu não tecer considerações sobre o futuro aeroporto previsto para a freguesia de Samora Correia e outros temas da actualidade como a polémica da possível mesquita a construir na Avenida O Século.
Faltam transportes, habitação e cuidados de saúde
A conversa decorreu no Palácio do Infantado na tarde de 12 de Junho e reuniu população, autarcas, associações locais e empreendedores da freguesia. Após o testemunho de António José Ganhão, o estudante e activista Francisco Ambrósio, participante no Parlamento Jovem, trouxe à discussão preocupações com o presente e o futuro da cidade. “Precisamos de transportes para nos levar para Alcochete, Vila Franca de Xira, Lisboa. Assistimos à destruição dos transportes públicos nesta zona na última década”, denunciou.
O jovem apontou ainda dificuldades no acesso à habitação e aos cuidados de saúde. “Foram alocados 32 milhões de euros para habitação no âmbito do PRR, mas é importante que exista disponibilidade real para o concretizar”, referiu. Criticou também a falta de urgências 24 horas, de consultas de planeamento familiar e as dificuldades de acesso ao Serviço Nacional de Saúde, sobretudo para os mais idosos. “Temos de pressionar o poder político para que seja disponibilizada uma boa saúde no concelho”, defendeu.
O debate contou ainda com várias intervenções do público, que alertaram para a falta de médicos, escolas, serviços públicos e para um crescimento urbano sustentável. A cidade, diziam, está “esgotada” e carece de meios. Entre os problemas identificados destacaram-se também o trânsito pesado, a ausência de uma Loja do Cidadão ou de um notário para resolver assuntos burocráticos e necessários da vida diária.
Rivalidade já não se justifica
António Duarte Cardoso, engenheiro e investigador da história de Samora Correia, procurou enquadrar historicamente as diferenças e rivalidades entre Benavente e Samora Correia, considerando que, apesar de antigas, estas tensões ainda se reflectem nas diferentes gerações das duas localidades. António Cardoso considera que os motivos dessa rivalidade já não se justificam, tendo em conta os séculos que os separam.