Ânimos exaltados na Assembleia Municipal de Benavente após comentário inusitado

Trocas de acusações, dúvidas sobre a composição da futura empresa de transportes e um comentário polémico marcaram última Assembleia Municipal de Benavente.
A sessão extraordinária da Assembleia Municipal de Benavente, realizada a 31 de Julho, ficou marcada por acesas trocas de palavras entre eleitos, exigindo várias intervenções firmes da mesa. Em discussão estavam apenas três pontos: a 2.ª revisão orçamental para 2025, uma proposta de alteração ao Plano Director Municipal (PDM) e a aprovação do futuro sistema de transportes rodoviários da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT).
Foi este último ponto que gerou mais tensão, dividindo opiniões e originando confrontos entre bancadas. A presidente da mesa, Gertrudes Pardão (CDU), que substituía Mário Santos, teve de intervir várias vezes para manter a ordem, muitas delas sem sucesso. Após a apresentação do novo modelo de transportes pelo presidente da câmara municipal, Carlos Coutinho (CDU), Pedro Gameiro, deputado e candidato socialista à autarquia, afirmou que o PS concorda com a decisão da CIMLT, mas questionou a composição da nova empresa, apontando os elevados salários dos quatro cargos de direcção comparativamente aos restantes trabalhadores. Lançou ainda a dúvida sobre quem ocupará esses lugares, sugerindo que poderão ser preenchidos por figuras políticas locais ao invés de especialistas em mobilidade e transportes.
A intervenção gerou reacções imediatas na CDU. Paulo Reis criticou o que chamou de “sistema de portas giratórias” protagonizado por membros do PS ao longo das últimas décadas e, em tom irónico, perguntou se Carlos Coutinho, em final de mandato, integraria a nova direcção da empresa de transportes. O deputado elogiou ainda a opção pelo serviço público e deixou duras críticas à empresa actual concessionária no concelho.
Paulo Cardoso, eleito do Chega, declarou voto contra, defendendo que a decisão deveria ser tomada apenas após as eleições autárquicas de Outubro. O deputado apontou o exemplo de Santarém, onde o presidente da câmara, João Teixeira Leite, retirou o ponto de votação. Carlos Coutinho respondeu que a situação de Santarém se deve a outros motivos, nomeadamente à pendência de pareceres relativos à entrada do Cartaxo no sistema, estando o município a aguardar o parecer do Fundo de Apoio Municipal. O autarca considerou a criação da empresa como uma “pedrada no charco” face aos problemas de mobilidade no concelho, apelando à sua rápida aprovação.
Também António Rabaça, eleito independente recentemente desvinculado do PS, levantou dúvidas sobre as rotas previstas, a estrutura da empresa e a fiabilidade dos cálculos apresentados, questionando como se estimam custos sem viaturas adquiridas. A proposta acabou aprovada com os votos favoráveis da CDU (9), PS (4), PSD (6) e de um independente. Votaram contra os três eleitos do Chega e António Rabaça.
Troca de acusações após comentário polémico
O momento mais tenso ocorreu após a intervenção de Carlos Coutinho, quando Paulo Reis (CDU) interpelou a mesa devido a um comentário feito por Paulo Cardoso (Chega) à deputada Lucinda Mendes (CDU), perguntando-lhe se estaria “apaixonada” por ele. O comentário gerou de imediato uma troca de acusações entre as bancadas e os ânimos exaltaram-se na sala. Paulo Cardoso justificou-se, afirmando que Lucinda Mendes o estaria a encarar repetidamente e que se sentiu “intimidado”. A deputada respondeu lembrando que integra a assembleia desde 1997 e nunca se sentiu tão desrespeitada, acusando o deputado do Chega de não demonstrar respeito pelas mulheres.
A tensão escalou e a própria presidente da mesa admitiu nunca ter presenciado uma situação semelhante. Gertrudes Pardão apelou ao respeito mútuo e relembrou que os confrontos pessoais não contribuem para a discussão dos assuntos em causa.