Política | 19-09-2025 21:57

Megacentro de dados anunciado para Abrantes levanta dúvidas

Megacentro de dados anunciado para Abrantes levanta dúvidas
foto ilustrativa

Centro de dados com investimento de sete mil milhões de euros continua a suscitar dúvidas e a gerar polémica em Abrantes. Forças políticas da oposição questionam o Governo e criticam a falta de informação e o momento do anúncio. Empresário gestor diz que o Data Centre abre em 2028 e que tem investidores estrangeiros.

A instalação de um megacentro de dados nos antigos terrenos da RPP Solar, junto à antiga central do Pego, em Abrantes, com um investimento de sete mil milhões de euros até 2030, foi anunciada sem pompa e circunstância, na reunião pública, de 2 de Setembro, do executivo da Câmara de Abrantes, pelo presidente, Manuel Valamatos. O facto de o anúncio ter chegado em altura de pré-campanha eleitoral para as autárquicas de Outubro não agradou às forças políticas da oposição, mas foram as dúvidas e os contornos do anunciado investimento os levaram a questionar o Governo e a confrontar o presidente daquela autarquia, na reunião de câmara seguinte, a 16 de Setembro.
O assunto voltou a aquecer o debate com o vereador do PSD, Vítor Moura, a acusar o presidente do município de ter referido, falsamente, tratar-se de um Projecto de Interesse Nacional (PIN), quando a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) confirmou – segundo o Jornal de Negócios- que não existe nenhum processo nesse âmbito para a empresa em causa, a EDC One Lda. Entretanto, no mesmo dia da reunião, o sócio da empresa por detrás do projecto, José Meneses da Silva Moura, avançou ao ECO que apenas tem aprovação de Projecto de Interesse Municipal (PIM), mas que o projecto para o Data Center, que segundo disse abre em 2028, “tem tido o devido acompanhamento das entidades responsáveis por suportar o onboarding de investimento internacional no país”.
Vítor Moura (PSD) considerou também que o valor anunciado levanta suspeitas, sobretudo por ter sido anunciado num período de pré-campanha eleitoral, afirmando que “um investimento de sete mil milhões de euros nem é para o ministro da Economia anunciar”, mas para o primeiro-ministro.
O vereador Vasco Damas, do ALTERNATIVAcom declarou, por sua vez, que deseja a concretização do investimento, mas assumiu-se céptico, lembrando que Abrantes já foi palco de anúncios de grandes projectos que não chegaram a avançar. “Convém esclarecer que aquilo que aprovámos foi um conjunto de isenções fiscais que só terão efeito se o investimento se concretizar. Não há prejuízo para o município”, sublinhou. Questionou ainda o presidente da câmara sobre as garantias dadas pelo empresário responsável e se existem condições para afirmar, sem margem para dúvidas, que o investimento se vai concretizar nos termos anunciados.
Recorde-se que os dois vereadores da oposição votaram favoravelmente a atribuição de isenções de IMI, IMT e Derrama no valor de 16,2 milhões de euros à empresa promotora do megaprojecto no âmbito de uma candidatura a Porjecto de Interesse Municipal (PIM).
O presidente da Câmara Municipal de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos, explicou que o processo está ainda dependente de transações de imóveis e negociações com investidores, e que poderá vir a ser enquadrado como projecto de interesse nacional. Sublinhou que, apesar da dimensão do anúncio, a câmara municipal não controla os tempos nem a decisão final dos investidores: “só consigo garantir quando, no dia, abrirem as portas para trabalhar. Este projecto foi-nos apresentado muito bem estruturado, com fases de edificado e projetos avançados. Mas certezas absolutas não existem”. Manuel Valamatos sublinhou ainda que a autarquia apenas respondeu a um pedido formal de uma empresa, trazendo à reunião "a aprovação de um projecto de interesse municipal e um conjunto de isenções fiscais e tributárias. Não anunciámos nenhum investimento”, afirmou.
Em declarações à mesma publicação online, o sócio da EDC One, empresa sediada na Maia, com capital social de cinco mil euros, que foi criada em 2024 para se dedicar à compra e venda de bens imobiliários, afirmou que o investimento envolve mais parceiros nacionais e estrangeiros, alguns com vasta experiência nos sectores de energia e data center, e que irá desenvolver-se em diversas fases. A primeira, de 8,5 mil milhões de euros, que representa quase o mesmo valor que a Start Campus está a aplicar em Sines, vai ter 300MW. Mas o plano é muito mais ambicioso e pretende chegar aos 800MW no final da terceira fase de implementação. Quanto à escolha por Abrantes e, em particular pelo Pego, o empresário da Maia argumentou que reúne condições infraestruturais e territoriais de excelência para alicerçar este sector, com a designação da Zona Livre Tecnológica de Abrantes a permitir consolidar a decisão de se acomodar o projecto na região.

PCP questiona Governo
O PCP, através do seu Grupo Parlamentar, dirigiu ao Governo perguntas sobre o anunciado projecto de instalação de um Data Center no Pego, nomeadamente se “estão a ser mobilizados recursos públicos – financeiros, infraestruturais ou outros – para viabilizar este investimento” e “se foram ou estão a ser realizadas avaliações de impacto ambiental e social, e quais os respectivos resultados”.
Considerando “inaceitável que se usem anúncios desta natureza para criar ilusões e confundir os cidadãos, transformando intenções não confirmadas em factos consumados”, a CDU acusa o presidente da Câmara de Abrantes de abusar do cargo ao apresentar como PIN um projecto cuja classificação só compete ao Governo. A coligação lamenta ainda que se avance “sem qualquer avaliação de impactos social e ambiental, respostas dos serviços públicos e sem garantias de real utilidade para o concelho e para o país”.
Também a Aliança Democrática, coligação do PSD e CDS-PP com candidatura à Câmara de Abrantes emitiu um comunicado onde critica a forma como o anúncio do investimento foi feito, considerando que o processo levanta dúvidas e exige esclarecimentos. “A confiança dos abrantinos não pode ser posta em causa com anúncios precipitados, meias-verdades ou encenações políticas em véspera de eleições”, lê-se na comunicação, onde não são esquecidos investimentos anunciados que não deram em nada, como a RPP Solar, a Tectânia, o Ofélia Club e a aposta na cannabis medicinal pela GR+CW SA, considerando que esses casos deveriam ter servido de lição.

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