Política | 14-10-2025 12:00

Deputado do Chega por Santarém sob investigação por contrato público pode perder mandato

Deputado do Chega por Santarém sob investigação por contrato público pode perder mandato
José Dotti, líder da Distrital do Chega de Santarém, é candidato à presidência da Assembleia Municipal de Benavente - foto DR

José Dotti, deputado do Chega eleito por Santarém e candidato à Assembleia Municipal de Benavente, está sob escrutínio da Comissão de Transparência da Assembleia da República por alegada violação da lei que proíbe titulares de cargos políticos de celebrar contratos públicos. O caso pode resultar em perda de mandato parlamentar, sanção prevista na lei.

A Comissão de Transparência e Estatuto dos Deputados vai abrir um inquérito ao deputado do Chega José Dotti, presidente da distrital de Santarém do Chega e cabeça-de-lista à Assembleia Municipal de Benavente, na sequência de um contrato celebrado por ajuste directo entre uma empresa de que é sócio-gerente e uma junta de freguesia.
A empresa Astel - Comércio de Equipamentos Industriais, da qual José Dotti detém 40% das quotas, assinou em Agosto deste ano um contrato no valor de 35.200 euros, mais IVA, com a União de Freguesias de Castanheira do Ribatejo e Cachoeiras, no concelho de Vila Franca de Xira, para a aquisição de uma máquina dumper recondicionada, com retoma incluída. O acordo foi formalizado já durante o actual mandato parlamentar do deputado, eleito pelo círculo de Santarém nas legislativas de 2025.
O documento publicado no portal base.gov apresentava uma anomalia. O nome do sócio-gerente foi ocultado, ao contrário do que sucedia em contratos anteriores celebrados pela mesma empresa. Confrontado com a omissão, José Dotti afirmou que “assinou a minuta enviada” e que essa explicação teria de ser dada pela União de Freguesias.
A junta reconheceu que a omissão resultou de um lapso e assegurou ter pedido a correcção, o que O MIRANTE confirmou numa nova consulta, verificando que o nome de José Dotti já figura no contrato enquanto segundo outorgante. Ainda assim, a situação levantou dúvidas sobre a legalidade do contrato, uma vez que a Lei n.º 52/2019, que regula o exercício de funções por titulares de cargos políticos, impede os deputados de participarem em procedimentos de contratação pública, quer exerçam o mandato seja em regime de exclusividade ou não.
Segundo a legislação, os deputados não podem exercer funções de gerência nem deter participações superiores a 10% em empresas que contratam com o Estado ou com autarquias locais, sob pena de sofrerem a sanção mais pesada, que é a perda de mandato. O caso já motivou a intervenção da Comissão de Transparência, que pretende apurar se houve violação efectiva da lei e, em caso afirmativo, encaminhar o processo para a Entidade para a Transparência, que funciona junto do Tribunal Constitucional.

Deputado diz estar protegido pelo estatuto de não exclusividade
Questionado sobre o caso, José Dotti disse ter consultado o gabinete jurídico do Chega e garantiu estar “protegido pelo estatuto de não exclusividade”, posição que, segundo especialistas, não o isenta dos impedimentos legais. “Não há muita margem para dúvidas. O regime de não exclusividade não iliba um deputado dos impedimentos estipulados pela lei”, afirmou um membro da Comissão de Transparência citado pelo jornal Expresso.
A empresa Astel foi fundada em 2011 e tem acumulado cerca de dois milhões de euros em contratos públicos, sobretudo através de ajustes directos com autarquias e serviços municipais.
Com formação em Engenharia Agronómica pela Universidade de Évora, José Dotti reside há mais de quatro décadas em Benavente, onde se destacou pela actividade agrícola e associativa. Antes de chegar ao Parlamento, foi gestor de empresas e dirigente distrital do Chega em Santarém. É candidato à presidência da Assembleia Municipal de Benavente nas autárquicas de 12 de Outubro.

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