AD venceu em toda a linha em Santarém mas sem maioria absoluta

João Leite vai continuar como presidente da Câmara de Santarém, com a coligação PSD/CDS a vencer também para a assembleia municipal e a conquistar a maioria das juntas de freguesia. No executivo camarário mantém-se a maioria relativa e o PS já anunciou que não está disponível para renovar o acordo de governação.
A coligação PSD/CDS venceu em todas as frentes as eleições autárquicas no concelho de Santarém, conquistando a presidência do município e sendo a força política mais votada para a assembleia municipal e a que conquistou mais juntas de freguesia. Isso mesmo foi destacado no discurso da noite eleitoral por João Leite, que vai continuar como presidente do município, cargo que assumiu há pouco mais de um ano, quando Ricardo Gonçalves suspendeu o mandato.
Destaque também para a conquista aos socialistas da União de Freguesias da Cidade de Santarém, que passa a ter o ainda vereador Alfredo Amante como presidente de junta. O médico Gustavo Reis deverá ser o próximo presidente da assembleia municipal, actualmente liderada pelo socialista Joaquim Neto.
No seu discurso perante os muitos apoiantes que marcaram presença junto à sede de campanha, o social-democrata João Leite começou por agradecer a todos os que contribuíram para essa vitória, com particular destaque à sua família e a Inês Barroso, número dois da sua lista, ausente por motivo de doença. Saudou também os adversários políticos e manifestou a sua disponibilidade para trabalhar com todos, pondo sempre em primeiro lugar os superiores interesses de Santarém.
PS fecha a porta a pelouros e acordo de governação
Uma mensagem que tem em conta o cenário de maioria relativa em que João Leite vai trabalhar, já que o executivo mantém a mesma correlação de forças - 4 eleitos da AD, 4 do PS e 1 do Chega – mas já com a certeza de que, no próximo mandato, o PS não está disponível para acordos de governação. Isso aliás foi deixado com clareza pelo candidato socialista Pedro Ribeiro, na ressaca dos resultados. “Seremos oposição porque foi isso que Santarém escolheu. Oposição sem pelouros. Sem acordos. Votaremos sempre a favor do que nos parecer bom para o concelho”, escreveu nas suas redes sociais.
Contactado por O MIRANTE, Pedro Ribeiro refere que não tem qualquer convite para cargos em organismos públicos, ressalvando que, mesmo que tivesse, não queria dizer que aceitasse. Reforça ainda que o PS fará uma oposição responsável e que não vai obstar a escolha de pessoas para cargos, nomeadamente para as empresas municipais.
Para a câmara municipal, a coligação PSD/CDS teve 13.246 votos, o PS teve 11.815 votos, o Chega 3.454 votos, a CDU obteve 940 votos, a IL 546 votos e a coligação Livre/BE 393 votos. Para a assembleia municipal, PSD/CDS conquistou 11 mandatos, o PS também obteve 11 mandatos, o Chega conseguiu 4 e a CDU reduziu para 1. O Bloco de Esquerda deixa de ter representação nesse órgão.
O novo mapa das freguesias
Quanto às juntas de freguesia, a coligação PSD/CDS conquistou as da União de Freguesias da Cidade, União de Freguesias de Casével e Vaqueiros, União de Freguesias de Azoia de Cima e Tremês, Alcanede, Abitureiras, Abrã, Arneiro das Milhariças, Gançaria e Vale de Figueira.
O PS venceu em Almoster, Alcanhões, Moçarria, Pernes, Póvoa da Isenta, São Vicente do Paul, Vale de Santarém e União de Freguesias de Romeira e Várzea. Movimentos independentes venceram em Amiais de Baixo e na União de Freguesias de Achete, Azoia de Baixo e Póvoa de Santarém.
À margem
A vitória de leão de João Leite
João Leite trabalhou que nem um leão para fazer frente a outro leão.
João Leite ganhou a Câmara de Santarém e, aparentemente, parece que apenas cumpriu o seu dever beneficiando do facto de ser vice da câmara e no último ano ter exercido o cargo de presidente. Só quem não tirou as medidas a Pedro Ribeiro, o seu adversário, é que pode fazer juízes de valor quanto à vitória de João Leite.
Pedro Ribeiro tem um percurso como autarca que é o mais prestigiado da região. Está na vida política há três dezenas de anos. Aprendeu a gerir com um dos autarcas históricos chamado Sousa Gomes. Geriu o município de Almeirim trabalhando durante muitos anos de noite e de dia. Pode dizer-se que a sua casa de família era a câmara municipal, e a maioria dos seus familiares eram os funcionários do município. Era desde há muitos anos presidente da Comunidade Intermunicipal da Lezíria e é presidente da Associação Nacional dos Autarcas do Partido Socialista que diz bem da sua importância dentro do aparelho do partido. É um autarca habituado a entrar nos ministérios portugueses, mas também nos gabinetes de Bruxelas e Estrasburgo.
João Leite teve como adversário um líder político muito forte, que embora não seja natural de Santarém é conhecido em todo o concelho. Só um grande João Leite, com um trabalho muito bem feito e bem divulgado, poderia derrotar Pedro Ribeiro. E foi o que aconteceu. João Leite trabalhou que nem um leão para fazer frente a outro leão. Em vez de tremer perante a adversidade, foi à luta para mostrar que faz parte de uma nova geração de autarcas, comprometida com a verdade das suas promessas, onde Pedro Ribeiro também está incluído, com a vantagem de ser natural do concelho e ter conquistado nestes últimos anos o afecto e a confiança de muito eleitorado. Contas feitas ganhou quem teve mais braços, quem tinha trabalho para mostrar, quem foi mais inteligente e teve mais tempo para mostrar que falava verdade ao seu eleitorado. Nem todo o concelho está em festa com a vitória de João leite. No centro histórico há pessoas (quase) de luto. Mas o centro histórico da cidade é uma conversa que João Leite, e todos os autarcas, sabem que não se resolve sem uma revolução. JAE.