Cisão entre socialistas em Amiais de Baixo levou à perda da junta e a críticas duras ao PS
O socialista Duarte Neto perdeu a presidência da Junta de Freguesia de Amiais de Baixo para um movimento independente apoiado pelo PSD, mas teve contra si militantes do PS que, inclusivamente, integraram as listas socialistas para a câmara e assembleia municipal. O autarca, que agora cessa mandato, vai desligar-se da política, para já, e não poupa nas críticas ao PS de Santarém.
O ainda presidente da Junta de Freguesia de Amiais de Baixo, Duarte Neto (PS), que perdeu as eleições de 12 de Outubro por 20 votos, acusa camaradas de partido de contribuírem para a derrota socialista ao apoiarem publicamente a lista do movimento independente que ganhou a junta. Em declarações a O MIRANTE, Duarte Neto, que cumpria o segundo mandato como presidente, afirma que “existiu uma cabala interna dentro do PS Santarém”, referindo que cinco militantes de Amiais organizaram uma campanha contra o próprio PS, fizeram campanha pela lista adversária e mobilizaram famílias e amigos. “Tudo do mais baixo que poderia existir. Não se esconderam nunca e fizeram campanha pública e sem vergonha”, vinca.
Duarte Neto refere que alguns desses militantes integravam as listas do PS para a vereação e para a assembleia municipal, sendo o mais conhecido o ex-vereador socialista José Augusto Santos, que integrava a lista para a câmara. Contactado por O MIRANTE, José Augusto Santos não quis fazer comentários. Mas Joaquim Neto, cabeça de lista do PS à Assembleia Municipal de Santarém, natural e residente em Amiais de Baixo e figura de proa do PS de Santarém, onde preside à assembleia municipal, reconhece que não é normal haver militantes do PS e candidatos a órgãos autárquicos a apoiarem publicamente listas adversárias numa freguesia, como aconteceu em Amiais de Baixo. “No mínimo, devia haver o necessário respeito e recato, nem que fosse por quem os convidou para integrar as listas”, diz Joaquim Neto a O MIRANTE, adiantando que, caso haja militantes do PS que tenham integrado a lista adversária em Amiais de Baixo, essa situação deve ser analisada à luz dos estatutos do partido.
“Um espelho da podridão do PS em Santarém”
“Os responsáveis do partido sabiam deste assunto e ainda assim aceitaram fazer parte deste jogo sujo”, acusa Duarte Neto sem paninhos quentes, revelando que já deixou isso claro numa reunião da comissão política concelhia do PS onde estavam presentes todos os candidatos e presidentes de junta do concelho. “Muitos ficaram incrédulos, outros surpresos, outros nem resposta tiveram”, afirma.
Para Duarte Neto, “o que se passou em Amiais é o espelho da podridão que existe dentro do partido”, em que se passaram “20 anos de eleições perdidas e continua tudo na mesma, diria até pior”. O presidente da Junta de Amiais de Baixo, que agora cessa funções, diz que se vai retirar da política mas admite que gostava de ver surgir um novo rumo para o PS de Santarém, que rompesse com o ‘aparelho’ que liderou a concelhia nas duas últimas décadas.
Enfatizando o “trabalho exemplar” deixado na freguesia de Amiais de Baixo, com obra feita e uma autarquia sem dívidas, lamenta que camaradas de partido tenham mobilizado eleitores para votarem na principal lista adversária, declarando que “não basta ser sério e fazer um trabalho exemplar, temos que ser estúpidos e maus e fazer parte de uma matilha desonesta e rude”. E conclui: “Não sou nem nunca serei assim. Direi sempre o que achar correcto e onde quiser. Não tenho amarras politicas, não devo favores políticos a ninguém”.
Contactado por O MIRANTE, o presidente da concelhia do PS de Santarém, Diamantino Duarte, também optou por não tecer grandes comentários, dizendo que os assuntos do partido tratam-se internamente.
À margem
O PS de Santarém e a maçã podre
Pedro Ribeiro tinha anunciado que aceitava candidatar-se à presidência da câmara de Santarém se lhe dessem carta branca para fazer as suas listas. Aparentemente terá conseguido os seus objectivos. Agora que as eleições já passaram, e que há mais tempo para escrutinar os nomes que compõem as listas, percebe-se que o velho PS está para durar e Pedro Ribeiro não conseguiu afastar os interesses instalados. Se não bastasse este exemplo, em que o próprio também tem algumas culpas no cartório, há outros como o envolvimento do empresário, político e funcionário do Estado Rui Barreiro, (porventura a maçã mais podre do PS de Santarém), o eterno Manuel Afonso, entre muitos outros que continuam agarrados ao aparelho partidário socialista como a lapa a uma rocha.


