O poder local é a base da democracia e uma âncora do desenvolvimento regional
As eleições autárquicas são a grande festa da democracia, mobilizando milhares de candidatos por todo o país. Não surpreende por isso que captem mais interesse e adesão do eleitorado, que vê no poder local uma base sólida do nosso regime democrático e um catalisador do desenvolvimento regional. No dia das eleições, O MIRANTE foi ouvir a opinião de alguns cidadãos sobre o que pensam dos autarcas, das autarquias e da governação local.
Manuela Santos – Forte da Casa
Se fosse presidente da câmara dava prioridade à limpeza
A viver no Forte da Casa há quatro décadas, Manuela Santos espera que o seu voto nas autárquicas tenha feito alguma diferença. Nunca assistiu a reuniões de câmara ou assembleias de freguesia, mas acompanha as notícias locais. Se fosse presidente da câmara limpava a freguesia, que está suja, afirmando que é preciso tomar medidas.
Isabel Graça, ajudante de lar, Tomar
“Se fosse presidente apostava em mais habitação”
Esperamos sempre que o nosso voto faça a diferença, venho sempre com essa convicção. Não estou contente com o poder político em Tomar, porque acho sempre que podiam fazer mais do que fazem. Não sei se fazem o que podem, eu espero que sim, quero acreditar que sim, mas acho sempre e gostaria sempre que fizessem mais. Nunca fui a uma reunião de câmara ou assembleia municipal, não tenho tempo, não tenho interesse e não tenho vontade. Acho que não acrescenta muito, as pessoas têm o direito de se manifestar e vão para se manifestar, mas considero que não vale muito a pena.
Se fosse presidente da Câmara de Tomar apostava em mais habitação, eu tentava sempre promover habitação porque acho que há tanta habitação degradada na nossa cidade, em vez de se estarem só a fazer novas, apostar na reconstrução e na requalificação dessas mesmas casas antigas. Já havia um projecto, poderia ser ligeiramente alterado, mas estava lá e acho que os custos são menores do que fazer de novo. Nesta altura em que a habitação é tão cara e há tão pouca, acho que seria uma boa medida.
Francisco Jerónimo – engenheiro civil, Santarém
“Poder local tem sido a âncora do desenvolvimento regional”
Francisco Jerónimo costuma votar sempre e reconhece que as eleições autárquicas têm um carácter especial por serem as mais próximas da população, em que os eleitores melhor conhecem os candidatos e por estarem mais directamente ligadas aos problemas e anseios das populações. “No fundo, são a base da democracia em Portugal, sem dúvida nenhuma”, diz.
O engenheiro civil e antigo presidente da Associação de Futebol de Santarém diz que estas eleições suscitaram ainda mais interesse devido à cobertura mediática na comunicação social e nas redes sociais, e também pela certeza que muitos autarcas de câmara vão sair devido à lei de limitação de mandatos. “Isso cria uma nova dinâmica, com gente nova que vai aparecer”, vinca, referindo que, no caso de Santarém, as pessoas que lideraram as seis listas à câmara municipal “apresentaram-se num patamar de qualidade até acima do verificado nos últimos tempos”.
Francisco Jerónimo acompanha há muitos anos a actuação do poder local, até por razões profissionais, pois foi funcionário da Câmara de Santarém, e procura inteirar-se das propostas das várias forças políticas antes das eleições. Refere que as autarquias têm sido a âncora do desenvolvimento regional e que é notável o salto que proporcionou à qualidade de vida das pessoas.
Cremilde Mendes – Forte da Casa
“Fazem falta autarcas que resolvam os problemas”
Cremilde Mendes não mudou o sentido de voto nas eleições autárquicas, mas espera que o seu voto tenha feito diferença. Os buracos no pavimento da Escola Secundária do Forte da Casa e a falta de limpeza são alguns dos problemas da freguesia, onde diz gostar de morar, mas onde fazem falta autarcas que resolvam os problemas das pessoas.
Flávio Rodrigues – empresário, Santarém
“Muitas vezes vota-se mais na pessoa do que no partido”
Flávio Rodrigues faz questão de exercer o direito de voto em cada acto eleitoral e considera que as eleições autárquicas são um pouco diferentes e tocam mais os eleitores, porque os candidatos estão mais próximos das populações. “Muitas vezes, vota-se mais na pessoa do que no partido”, constata.
O empresário, que trabalha num café e pastelaria em Santarém, admite que não é um aficionado por política e não costuma acompanhar de forma muito próxima a actualidade e o desempenho do poder local. Mas tenta ir sabendo alguma coisa sobre o que é feito e o que não é feito na cidade e no concelho. Flávio Rodrigues nunca assistiu a nenhuma sessão de câmara ou da assembleia municipal e confessa que nem tem grande curiosidade
Artur Matos, técnico de construção civil, Tomar
“Estou contente com o poder político em Tomar”
Sinto que votei em pessoas que acho que são as certas. O meio é pequeno, as pessoas conhecem e a gente vota nas pessoas que consideramos serem as mais certas para as funções. Estou contente com o poder político em Tomar, acho que têm feito muita coisa, acho que é de apoiar. Já fui a algumas reuniões de câmara e assembleias municipais e também assisto à transmissão online, não muitas vezes, mas estou a par do que se passa. Acho que é importante ir acompanhando, temos que nos sentir úteis. As pessoas devem ir, nem que seja para perceberem como funciona.
Se fosse presidente da Câmara de Tomar tentaria fazer mais coisas dentro das possibilidades. Há sempre bens a melhorar, criar mais creches, mais emprego, apoiar empresas que possam fomentar empregos para poder fixar pessoas, para que não tenham que ir para outro lado.
Ana Cardoso e Rafaela Lucas - Abrantes
Abrantes precisa de mais espaços para os jovens
Ana Cardoso e Rafaela Lucas consideram que há muito para fazer no concelho de Abrantes, sobretudo medidas que contribuam para a fixação de jovens. Ambas admitem que gostavam de ver alterações na gestão da autarquia para haver “sangue novo” e “alguma mudança para melhor”. As jovens destacam sobretudo a falta de opções para os mais novos: “como jovens, gostaríamos de ter mais opções. Mais diversão nocturna, por exemplo, porque não temos praticamente nenhum sítio para ir na cidade, sobretudo ao fim-de-semana”, afirma Rafaela a O MIRANTE minutos antes de exercer o seu voto. A jovem sublinha que é fundamental criar espaços e iniciativas que atraiam não só os estudantes universitários, mas todos os jovens abrantinos, de forma a promover a convivência e o sentimento de pertença. “Esperamos que, pelo menos nessa parte, haja alguma alteração positiva, para que todos tenhamos mais alternativas de lazer na cidade”, acrescenta.
Além da componente social, ambas referem ainda a importância de um maior apoio ao comércio local e aos estabelecimentos da cidade, com o objectivo de estimular a economia e, consequentemente, a vida social de Abrantes. “Acho que seriam precisos mais apoios aos estabelecimentos para termos mais desenvolvimento económico”, acrescentam.
Elisabete Tito – Samora Correia
“Se fosse presidente da câmara construía umas piscinas ao ar livre”
O voto é útil e acho que o meu voto faz a diferença na medida em que se todos votarmos alguma coisa pode mudar. Nunca fui a nenhuma reunião de câmara ou sessão da assembleia municipal e, muito sinceramente, nunca senti curiosidade ou necessidade. Em relação ao nosso município e ao poder local, é uma situação sempre complicada porque todos queremos sempre mais. Há certas coisas que deviam melhorar. Se fosse presidente da câmara, penso que construía umas piscinas ao ar livre, algo com que pudéssemos ocupar o tempo no Verão, porque não temos nada e estamos relativamente longe de tudo. Parece que estamos perto, mas ainda estamos longe tal é a falta de transportes que sentimos.
Pedro Seixas – Samora Correia
“O voto faz a diferença, mas o povo já não acredita nas promessas”
O voto de todos faz a diferença, resta saber se as pessoas estão bem informadas sobre o que cada força política vai fazer na sua freguesia. Não sabia nem tinha ideia que era possível os cidadãos irem às reuniões de câmara e da assembleia municipal, talvez se deva ao facto de coincidir com horários de trabalho.
Em regra geral, o poder político tem muita lacuna, muitas falhas e promessas não cumpridas, o que faz com que o povo deixe de acreditar e faça com que não vão votar porque sentem que não fazem a diferença com o seu voto. Passo muito por Oeiras e vejo o que Isaltino Morais tem feito. Penso que, se fosse presidente de câmara, faria muitos espaços verdes, de lazer e dirigidos para as pessoas usufruírem no fim-de-semana, em especial as famílias e as crianças. Começaria por mudar em coisas que o povo realmente visse e, depois, ia mudando outras coisas.
Rui Ferraz – Samora Correia
“Samora é cidade, mas Benavente é que ficou com o proveito”
Temos muita falta de situações porque, apesar de Samora Correia ser cidade, Benavente é que ficou com o proveito. Precisamos de infra-estruturas, como por exemplo um hospital de pequena dimensão ou mesmo outras necessidades ao nível da educação, como é o caso da falta de creches. O meu voto faz a diferença se for eu e mais 9 milhões de portugueses a votar. Nunca fui a qualquer reunião de câmara porque nunca fui muito ligado à política. Estou contente com o poder local e tudo tem decorrido com normalidade.
Lívia Capote - Entroncamento
Entroncamento não tem dinâmica há anos
Para Lívia Capote a cidade do Entroncamento está parada há vários anos. “Olho para a cidade e vejo o mesmo há anos, não é feito nada de novo e não há dinâmica. Daí achar importante o voto, pois quando algo está a correr mal, as pessoas devem mobilizar-se e fazer a mudança”, afirma a O MIRANTE. Arranjar estratégias para o concelho conseguir captar mais investimento deve ser uma preocupação do próximo executivo, acrescenta. “Mais investimentos para haver mais emprego, mais dinamização de forma a que as pessoas possam viver num concelho que de facto está vivo e a crescer. E também melhorar a segurança, porque há várias zonas onde não me sinto segura”, sublinha.
Sónia Gomes – Entroncamento
Há um grande descontentamento com o poder local
Para Sónia Gomes há um grande descontentamento com o poder local no concelho do Entroncamento. “Acho que as políticas não têm afectado positivamente o desenvolvimento do concelho, principalmente em relação aos jovens. Algo que devia ser o contrário, porque hoje em dia sabemos que é difícil encontrar emprego com bons salários, então acho que deveria haver mais políticas em prol dos jovens e da criação de emprego”, considera.
Sónia Gomes diz que se fosse presidente de câmara implementava mais medidas para gerar dinâmica empresarial e boas opções para fixar famílias. “Nem toda a gente quererá ficar no município onde cresceu, mas acho que deve haver essa possibilidade de escolha. Até porque vivemos num país envelhecido, em que muitas pessoas não têm filhos não só pela situação económica, mas também porque tiveram de ir viver para longe e não têm a família por perto como base de apoio”, refere.


