Alenquer prestou sentida homenagem ao pintor João Mário
Dezenas de amigos e familiares do mestre João Mário prestaram-lhe homenagem em Alenquer, numa iniciativa promovida pela Gerábriga. Entre recordações e promessas de continuidade do legado do falecido pintor, foram entregues os prémios do Concurso Literário com o seu nome.
Familiares, amigos, autarcas e artistas prestaram homenagem ao pintor João Mário, que faleceu em Fevereiro deste ano e deixou na vila de Alenquer uma vasta obra no museu com o seu nome. A homenagem foi organizada pela Gerábriga – Associação Cultural, na tarde de sábado, 8 de Novembro, no Museu João Mário, e contou com histórias e discursos dos amigos do mestre e de um dos seus três filhos, Duarte João, que afirmou que o espólio do pai permanecerá em Alenquer para ser visitado por todos.
“Este espaço é de Alenquer. Já temos ideias e um projecto que temos vindo a falar com a vereadora da cultura, Cláudia Luís. É importante manter a parceria com a câmara para dar visibilidade ao que acontece nesta casa. Não é trair a memória do meu pai fazer aqui coisas novas, trazer inovação e originalidade”, afirmou.
Joaquina Raimundo, da Gerábriga, recordou que João Mário foi um dos sócios fundadores da associação cultural, tendo inclusive sugerido o nome e desenhado o seu logo logótipo. “Ninguém ficava indiferente à sua boa disposição e entrega. Muito lhe devemos pela riqueza que deixou às gerações futuras, um legado único que o tempo não apagará”, vincou.
No seu discurso, a vereadora Cláudia Luís garantiu que o município de Alenquer vai dar continuidade ao trabalho de dinamização do museu, até porque o pintor continua a ser uma inspiração.
A cerimónia culminou com a entrega dos prémios do Concurso Literário “Mestre João Mário Ayres d’Oliveira”, que contou com a participação de mais de uma centena de autores de todo o país. Na vertente de poesia, o primeiro prémio foi atribuído a João Francisco da Silva, o segundo prémio foi atribuído a Joaquim Pereira Marques e o terceiro a Dulcí Ferreira. Na prosa, o primeiro prémio foi para Hernâni de Lemos Figueiredo, o segundo para Donzília da Conceição Ribeiro Martins e o terceiro foi para Paulo Jorge Galheto Miguel.
O autarca pintor que deu alma à vila presépio
O pintor João Mário Ayres d’Oliveira faleceu no dia 26 de Fevereiro de 2025, aos 92 anos, tendo sido decretado luto municipal em Alenquer por dois dias. Começou por ser vereador municipal em 1963 e, mais tarde, ocupou o cargo de presidente do município entre 21 de Abril de 1967 e 18 de Junho de 1974, tendo sido o primeiro a desempenhar funções pós-revolução dos cravos.
Nascido em Lisboa a 26 de Setembro de 1932, João Mário dedicou a vida a Alenquer e às artes. Foi na vila-presépio que mostrou ser um pintor naturalista com reconhecimento nacional. Discípulo de António Duarte Almeida e Domingos Rebelo, frequentou os cursos de pintura e desenho da Sociedade Nacional de Belas Artes e expôs em cidades como Madrid, Lisboa, Porto e Leiria.
O Presépio Monumental, figura icónica de Alenquer, saiu da mente de João Mário. Após as cheias de 1967, o então presidente da câmara imaginou a homenagem, que ainda hoje perdura, às centenas de vítimas da catástrofe sentida pela comunidade. O Museu João Mário abriu portas em 1992 e recebe, desde então, milhares de visitantes que pretendem ver, de forma livre, as mais de 400 obras expostas do mestre ou de autores reconhecidos como Silva Porto, José Malhoa, Veloso Salgado, Ortiz Alfau, Vicente Romero ou Helena Abreu.
João Mário esteve sempre ligado ao associativismo, tendo desempenhado vários cargos nas colectividades. Em 1993 recebeu o grau ouro da Medalha de Mérito Municipal e tem em Alenquer, no lugar de Casais Novos, uma rua com o seu nome.


