Cláudio Lotra renunciou ao secretariado do PS e acusa executivo municipal de autismo
Ex-presidente da União de Freguesias de Alverca do Ribatejo e Sobralinho não poupa nas palavras numa mensagem interna enviada aos camaradas, dizendo não se rever no rumo actual do PS de Vila Franca de Xira e que não pode respeitar quem não o respeita. Fala de uma vitória de Pirro no concelho e acusa a gestão de Fernando Paulo Ferreira ser “autista” e distante das freguesias.
Cláudio Lotra, o socialista que há quatro anos conquistou a União de Freguesias de Alverca do Ribatejo e Sobralinho à CDU e que decidiu não se recandidatar em 2025 por divergências com o presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Fernando Paulo Ferreira (PS), escreveu uma carta aos camaradas de partido onde não poupa nas palavras e apresenta a renúncia ao lugar que ocupava no secretariado e na comissão política concelhia.
Na missiva, a que O MIRANTE teve acesso, diz que Ana Cristina Pereira, que perdeu a Junta da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa para o ex-socialista António José Inácio, foi vítima do pior que há na política, devido ao “oportunismo e falta de seriedade de alguns que, pelo poder, vendem a alma ao Diabo”. E refere que a responsabilidade do PS ter perdido a União de Freguesias de Alverca do Ribatejo e Sobralinho para a CDU não se deve a Rita Merenda. “Abraçou esta candidatura de alma e coração numa situação muito complicada e difícil e lamento que na noite das eleições, face ao resultado menos favorável, não tenha recebido a solidariedade nem do presidente da comissão política concelhia nem do presidente da câmara”, critica.
Cláudio Lotra considera que o PS teve no concelho uma “vitória de Pirro”, uma expressão usada para se referir a uma vitória obtida a alto preço, potencialmente acarretadora de prejuízos irreparáveis. “Não temos motivos para contentamentos, temos motivos de preocupação (…). Tínhamos todos os pássaros na mão e os eleitores deram ao PS condições para fazermos o que nunca antes tinha sido feito. Aproveitámos? A resposta é evidente”, critica.
Falando de um mandato que se desmoronou, Cláudio Lotra queixou-se também da baixa transferência de verbas para a câmara, criticando o executivo de Fernando Paulo Ferreira por ter avisado os presidentes de junta que a câmara se encontrava numa situação difícil, para depois apresentar um saldo de gerência de 23 milhões de euros. “Dificuldades, onde? Fomos solicitando intervenções importantes à câmara mas sem resposta”, condena.
Um executivo “autista e distante”
Aludindo às cheias de 2022, o ex-autarca lembra que as mesmas causaram prejuízos de 300 mil euros que reduziram a capacidade de trabalho da junta para valores quase nulos. “Em cima desta situação outra, o PSD - o nosso ‘parceiro de governação’ imposto pela concelhia, porque não cedemos entachar um dos seus porque esse tacho custaria ao erário público 12 mil euros por ano - resolveu chumbar-nos o orçamento. Tivemos de ser nós, sem qualquer apoio da concelhia, a resolver o problema”, escreve.
Apesar dos pedidos de reforço de verbas nas transferências para as juntas nunca houve essa abertura por parte da câmara, diz. Para Cláudio Lotra, “alertas foram feitos, reuniões havidas, mas o resultado prático das mesmas foi igual a zero. Tudo continuou na mesma com um executivo camarário autista e distante das freguesias”, critica.
O ex-autarca diz mesmo, na missiva, que um ano antes das últimas eleições o executivo municipal iniciou uma operação para “sacudir a água do capote” e colocar nas juntas de freguesia a culpa por tudo o que estava mal no concelho. “90% dos atendimentos que realizei neste mandato incidiam sobre competências da câmara”, lamenta, acrescentando que a decisão de não se recandidatar não foi por ter medo do veredicto popular, mas sim porque não se podia continuar a sacrificar por um projecto que, diz, “não era mais do que uma luta inglória”.
“Até ao dia de hoje nunca houve por parte do presidente da câmara comigo uma questão, uma pergunta ou uma abordagem sobre o tema e sobre as razões. Não é normal. Não me revejo neste percurso, neste PS, o partido que quase desde o berço aprendi a gostar e a respeitar (…). Voltei à condição de militante base, à espera de um PS novo, com alma e acima de tudo um PS com respeito pelos seus quando os seus se sacrificam por ele”, termina Cláudio Lotra.


