Política | 23-12-2025 18:00

“Livre representa uma alternativa democrática aos votos de protesto”

“Livre representa uma alternativa democrática aos votos de protesto”
João Bernardo é o primeiro eleito do Livre na Assembleia de Freguesia da Póvoa de Sta. Iria e Forte da Casa - foto O MIRANTE

João Bernardo, primeiro eleito do Livre na Assembleia de Freguesia da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa, manifesta preocupação com o acordo firmado entre a Coligação Nova Geração e o Chega. Em entrevista a O MIRANTE, o autarca critica a ausência de comunicação do executivo para com os eleitos, mas, para já, deixa o benefício da dúvida de que a situação possa tomar novo rumo. Licenciado em Geologia mas a trabalhar na banca, João Bernardo diz que o Livre se constitui como alternativa aos votos de protesto e promete apresentar propostas que vão ao encontro das preocupações dos jovens.

Desde a tomada de posse do executivo da União de Freguesias da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa e da mesa da assembleia de freguesia que existe ausência de comunicação para com os eleitos, diz João Bernardo, eleito pelo Livre nessa união de freguesias. O autarca vê a situação com preocupação, mas diz que vai aguardar algum tempo para ver se a situação muda.
O Livre candidatou-se pela primeira vez à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, assembleia municipal e União de Freguesias da Póvoa e Forte da Casa onde João Bernardo foi o único eleito. A O MIRANTE diz que vai trabalhar nos próximos quatro anos para que o partido tenha mais representação. Uma das propostas que defende é ao nível da cultura, com as Casas da Criação, onde as pessoas possam explorar e descobrir novos talentos. As comunidades de energias renováveis são outro projecto, em que os moradores de uma determinada zona se possam juntar para produzir energia renovável. “Acreditamos que a junta deve adoptar uma postura de diálogo para com os executivos municipais para que seja possível realmente fazer alguma coisa. Temos vários espaços na união de freguesias subaproveitados como na Quinta Municipal da Piedade, onde por exemplo pode ser implementada a Casa da Criação”, defende.

Preocupação com os pelouros atribuídos ao Chega
João Bernardo diz ter sido apanhado de surpresa com o acordo entre o novo executivo presidido por António José Inácio, da Coligação Nova Geração (liderada pelo PSD), com o Chega. Segundo o autarca, nunca tinha sido mencionada a possibilidade de acordos pós-eleitorais, nomeadamente com o Chega, e por isso a posição do Livre será de oposição. “Vemos com preocupação os pelouros que foram distribuídos aos eleitos do Chega, nomeadamente os que se relacionam com o ambiente, segurança, desporto e juventude. Dá a ideia que se calhar são áreas que não são tão importantes para a Coligação Nova Geração”, sublinhou.
O eleito considera ainda que os espaços verdes devem ser geridos directamente pela junta, mas só após conhecer o orçamento será possível analisar se as verbas alocadas são suficientes para o executivo desempenhar essa competência. “Aquilo que vimos este ano é que chegámos a meio de Agosto e havia espaços verdes por limpar. Sabemos de casos em que uma determinada associação ou condomínio que requer a limpeza de um espaço verde adjacente tem de completar toda uma burocracia para conseguir que passado um mês ou mais alguém faça a manutenção. E isso é algo que não pode acontecer. As propostas do Livre centram-se em devolver as competências às juntas de freguesia e capacitá-las com pessoal que consiga dar resposta a este tipo de pedidos”, afirma.
Sobre o atraso no pagamento do salário de Novembro aos funcionários da junta, João Bernardo lamenta o sucedido e sublinha a ausência de uma comunicação oficial por parte do actual executivo.

PAMA deve ser revisto
As ideias do Livre para o concelho de Vila Franca de Xira passam por disponibilizar 10% de habitação pública. Para isso o partido está a trabalhar em propostas que serão submetidas ao crivo da Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira. “A habitação é, neste momento, a questão mais perigosa a nível nacional. E, obviamente, há muita coisa que é difícil implementar ao nível da junta de freguesia, mas ao nível da câmara já existem alguns mecanismos. A junta pode propor o aproveitamento de espaços por parte da câmara para habitação pública”, refere.
João Bernardo defende também alterações ao Programa de Apoio ao Movimento Associativo (PAMA) da Câmara de VFX, que, apesar de ter sido revisto, a seu ver continua a apresentar falhas. “Nas conversas que tivemos com as associações era um denominador comum que o PAMA é insuficiente. O trabalho do Livre será sempre uma optimização desse plano, é algo que tem de ser revisto”, afirma.
Outra das preocupações do Livre ao nível da união de freguesias é o das localizações das feiras. João Bernardo diz não ter cabimento, por exemplo, que a Feira da Bagageira se realize na zona ribeirinha da Póvoa, com poucos moradores e com pessoas que se deslocam ao local com outras motivações, como fazer exercício ou caminhar.

Uma “esquerda diferente”
O Livre veio ocupar um espaço na política portuguesa que estava desimpedido, refere o autarca. Uma esquerda progressista, ecologista, europeísta, que não se enquadra totalmente com aquilo que os partidos que já existiam cobrem. “Não gosto de arrumar isto em caixinhas, mas se imaginarmos um encaixe gráfico do que é o Livre, podemos dizer que há ideais que tocam naquilo que o Partido Socialista defende, que a CDU defende e também algumas coisas que o Bloco de Esquerda defende, portanto, é claramente de esquerda, mas uma esquerda diferente”, explica o eleito na assembleia de freguesia.
Sobre a ascensão do Chega, o autarca considera tratarem-se “provavelmente votos de protesto, que não olham ao que é de esquerda ou direita” sendo algo que historicamente o PCP também já teve, e em certa medida também o Bloco de Esquerda. “Boa parte do discurso do Livre, em termos nacionais, tem sido precisamente para tentar que estes votos de protesto também se juntem ao partido e que percebam que existem alternativas democráticas que nos permitem de forma mais sustentada e equilibrada para todos, construir um futuro”, afirma.

Um bancário com espírito de Abril

João Bernardo, 33 anos, cresceu em Almada mas reside há seis anos na Póvoa de Santa Iria com a companheira e a filha. Encontra semelhanças históricas entre o concelho de Vila Franca de Xira e o da margem sul do Tejo, precisamente por ter sido um bastião de resistência antifascista. A política era tema em casa, com a família, e cresceu com valores ligados à revolução do 25 de Abril de 1974 e aquilo que significou a liberdade e a vida em democracia.
Licenciado em Geologia, acabou por entrar para a banca e actualmente faz análise de conduta e de regulamentação no contexto de mercados financeiros. No entanto não exclui trabalhar na Geologia do Ambiente, onde tem formação, um tema ligado às suas preocupações a nível político.
Ambiciona deixar o Mundo um lugar melhor e defende que quem se envolve na política tem sempre ambições. A sua, para já, é trabalhar com a equipa do Livre para fazer da União de Freguesias da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa um lugar melhor para se viver e, quem sabe, um dia vir a ser presidente da junta.

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