Saúde | 29-05-2020 10:00

Covid–19 não pode impedir o tratamento de doenças do aparelho músculo-esquelético

Covid–19 não pode impedir o tratamento de doenças do aparelho músculo-esquelético
OPINIÃO

Luís Tomaz Gonçalves - Ortopedista*

Hoje poderemos afirmar que existe o perigo de falta de assistência em cuidados de saúde essenciais, numa população com patologias diversas, que não ocorrem aos hospitais, com receio de serem contaminados.

Com o aparecimento do actual quadro pandémico provocado pelo surto de Covid-19, a qualidade de vida ficou, na maioria dos casos, gravemente comprometida. A preocupação primária com a saúde colectiva e seus impactos, o cumprimento obrigatório das regras determinadas pela Direcção-Geral de Saúde, a emissão directa e permanente e de tema único nos órgãos de informação, torna o dia-a-dia difícil de gerir.


De uma forma mais ou menos dramática, somos todos atingidos. Mas nem tudo são más notícias. Os profissionais de saúde são enaltecidos na sua acção, deixando de ser os bodes expiatórios do mau funcionamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS).


Os dados epidemiológicos parecem traduzir o esforço colectivo, baixando a curva de crescimento de infectados a níveis suportáveis para o nosso SNS. Infelizmente não se evitaram as ocorrências dramáticas nos lares e em algumas vilas e cidades mas a mortalidade não parece ter atingido valores de outros países. Mas ainda é cedo para saber.


Do estado de emergência passamos para o estado de calamidade, numa altura em que a Primavera com cheiro a Verão, não nos fornece a confiança para dar asas á nossa necessidade de abraçar e beijar quem amamos. As máscaras protectoras passam a fazer parte da indumentária! A etiqueta de saudação social é condicionada. As nossas liberdades individuais estão condicionadas de forma nunca vista e não sabemos ainda qual o impacto na imunidade colectiva desta pandemia.


A saúde mental de todos nós irá ressentir-se. Os serviços públicos e privados vacilam com uma economia em dificuldades. As consequências económicas, ainda difíceis de determinar, exigem o regresso à actividade produtiva em todos os sectores, com foco preventivo, nos grupos de risco.


Vamos saindo lentamente do confinamento a que estamos obrigados com a discussão da sua velocidade permanecer entre nós e por esse mundo fora. O Serviço Nacional de Saúde procura responder de forma diferente aos desafios que lhe são colocados com uma rede de cuidados espalhados pelo país de forma assimétrica. Infelizmente há mais doenças para além da pandemia e é necessário não esquecer.
No terreno, as dificuldades em tratar doentes para além dos infectados por Covid, agravaram-se e os motivos são diversos.


As orientações governamentais para um reforço financeiro efectivo no SNS, para resolução da falta de recursos humanos e materiais, são bem acolhidas. Falta aguardar e verificar no terreno se não passam de um processo de intenções e se chegam aos locais certos a tempo e horas.


Os dados recentemente emitidos pelo Ministério da Saúde, referente á quebra de produção nos hospitais e Centros de Saúde (consultas e cirurgias), são preocupantes. Não basta anunciar as orientações dadas aos Conselhos de Administração. É essencial ouvir os serviços para encontrar as melhores soluções, as chefias intermédias têm de ser chamadas a um papel mais activo.


Se nada for feito, o déficit assistencial dos doentes da área de influência do Hospital de Santarém com patologia ortopédica, terá um duplo agravamento. Por um lado o impacto da pandemia, por outro a numerosa lista de espera de doentes a aguardar cirurgia que não tem resposta no programa SIGIC, prestado pelo hospital, sector privado e social.


Hoje poderemos afirmar que existe o perigo de falta de assistência em cuidados de saúde essenciais, numa população com patologias diversas, que não ocorrem aos hospitais, com receio de serem contaminados.


Esta é a altura para planear e encontrar soluções para o tratamento destes doentes no SNS, no Hospital de Santarém, em parceria com o sector social e privado, na atribuição de recursos humanos, resolução de acesso ao bloco operatório por parte das equipas ortopédicas e cirúrgicas, na dramática carência de médicos anestesistas.


Urge conhecer a estratégia de fixação de jovens médicos especialistas que continuam a abandonar os nossos serviços públicos e o Hospital de Santarém. A referenciação dos doentes dos Centros de Saúde para os hospitais tem de ser mais efectiva, evitando que se repitam e agravem as ocorrências aos serviços de urgência sem justificação e avaliação médica prévia.


Todos os responsáveis, gestores e políticos afirmam e bem, serem os Cuidados Primários a porta de entrada do sistema. Na prática os doentes não têm um alcance acessível a esses serviços e recorrem indevidamente aos hospitais públicos, entre os quais o Hospital de Santarém.


Nesta nova fase, esperam-se medidas eficazes da gestão, seja do Ministério da Saúde, seja da Administração do HDS, soluções para responder à crescente procura de doentes com patologia ortopédica, que aguardam e desesperam em lista de espera pela resolução da sua situação.


*Chefe de Serviço de Ortopedia do Hospital de Santarém; Médico Ortopedista do Hospital Lusíadas Lisboa / Almada; Médico Ortopedista Centro Clínico Climeco - Santarém.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1661
    24-04-2024
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1661
    24-04-2024
    Capa Lezíria/Médio Tejo