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Em pouco mais de quinze minutos a máquina está pronta para engolir com a sua enorme boca as pequenas oliveiras

A máquina de sugar azeitona

Colheita mecânica em olival super-intensivo na zona de Abrantes

A estranha máquina entrou pelo olival dentro e foi sugando, uma a uma, toda a azeitona das pequenas árvores. Foi em S. Miguel de Rio Torto, concelho de Abrantes, no primeiro olival super-intensivo da zona, pertencente à Sociedade Agrícola Casal das Sarnadas. Apesar do cepticismo do coordenador do Programa Nacional de Olivicultura, o futuro do sector pode estar ali. A acção de apanha mecânica, realizada por uma empresa espanhola, inseriu-se numa campanha de sensibilização da câmara municipal, para que sejam plantados, no concelho, mil hectares daquele tipo de olival nos próximos anos.

Eram três da tarde de sexta-feira. À azáfama misturava-se a curiosidade. Vários olivicultores da zona observavam uma corpulenta máquina amarela que se preparava para fazer a primeira colheita mecânica de azeitona num olival super-intensivo. A matrícula da viatura numa chapa de fundo branco com letras e números a vermelho denunciava a sua origem: Espanha. O condutor e ajudantes também eram espanhóis. Antes de começar a colheita o motorista desce da cabina no alto da estrutura de metal da máquina por umas estreitas escadas de ferro. São dois metros até ao chão. Agarra num pulverizador verde alface cheio de água que repousava num compartimento da máquina. Despeja lá para dentro um produto químico de cor amarela. Abana o recipiente com energia. Enquanto enrosca a tampa explica ao repórter que vai pulverizar os sistemas de colheita da máquina para matar os microrganismos que possam vir de outra exploração, evitando assim a transmissão de doenças. Em pouco mais de quinze minutos a máquina está pronta para engolir com a sua enorme boca as pequenas oliveiras com pouco mais de dois metros de altura. Estão carregadas de azeitona, alguma ainda está verde, mas não se pode esperar mais porque muita também já caiu das árvores com as últimas chuvas. O operador aponta a máquina, idêntica às que são usadas na vindima, a uma carreira de oliveiras. Dá umas acelerações. O motor responde num tom rouco e potente. De um tubo de metal no cimo da máquina sai um vento frio. É por esse orifício que vão sair as folhas que eventualmente possam ir misturadas com a azeitona aquando da colheita. A máquina, que algumas pessoas equiparavam a um aranhiço, começa a andar a passo de caracol. Entra pela primeira árvore cuja copa se dobra para entrar na boca da máquina. À medida que passa pelas oliveiras um sistema de sucção e vibração faz desprender os frutos que são conduzidos para dois recipientes instalados nas partes laterais do aparelho. Em conjunto têm capacidade para armazenar 2.500 quilos. Depois de cheios são despejados para um tractor que aguarda à ponta das carreiras de árvores alinhadas no sentido Norte-Sul. “Estão dispostas desta forma por causa do Sol. Neste sentido elas apanham luz e calor de ambos os lados, evitando que fiquem tortas e proporcionando um crescimento equilibrado”, explica Nicolas Guerrero, o engenheiro agrónomo da empresa responsável pela colheita, a Todolivo com sede em Córdoba. Enquanto acompanha a máquina que faz um barulho ensurdecedor, Nicolas chama a atenção para as árvores por onde a máquina já passou. Só numa ou noutra é que ficaram duas ou três azeitonas mais resistentes. De resto a limpeza foi geral. E para além dos frutos até alguns ramos foram arrancados. “Os mais secos e frágeis acabam por ser sugados pela máquina, mas isso até é bom porque assim limpamos também a árvore de galhos que não prestam”, explicou aquele engenheiro.As rodas da máquina, que dão pela cintura, com pneus de sulcos profundos, deslizam pelo terreno húmido. Cheira a terra e a ervas. Quando se encontra algum obstáculo a máquina tem a possibilidade de subir e descer a sua pesada estrutura de metal através de um sistema hidráulico. “Mas o ideal é trabalhar o mais rente ao chão possível”, diz Nicolas Guerrero. Até porque “as árvores são muito flexíveis e dobram-se para entrar na máquina. O objectivo é mesmo isso. A madeira não dá produção. O que produz são os ramos pequenos, finos e flexíveis”, acrescenta. Na quinta da Sociedade Agrícola Casal das Sarnadas existem três hectares e meio deste olival, plantado há dois anos. É o primeiro na zona de Abrantes. Segundo Nicolas Guerrero cada hectare dá em média 10 a 12 mil quilos de azeitona. Mas esclarece que o ideal para que a produção seja rentável, inclusivamente em termos de colheita mecânica, é ter no mínimo 10 hectares. A empresa de Espanha, onde nasceu este tipo de olival, já tem plantados em Portugal cerca de 200 hectares de oliveiras da espécie arbequina, uma espécie espanhola que foi sofrendo modificações genéticas. Após a colheita a empresa vai começar a fazer a poda das árvores para que se mantenha o porte e a flexibilidade das árvores para uma boa colheita.
Em pouco mais de quinze minutos a máquina está pronta para engolir com a sua enorme boca as pequenas oliveiras

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