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Mais de um século de história e tradição

Casa Gerardo, há 107 anos a vender artigos de caça em Santarém

Se há estabelecimento comercial com história na cidade de Santarém a Casa Gerardo é um deles. A comprová-lo estão os seus 107 anos de existência e afirmação na área da comercialização de artigos de caça. Actualmente a Casa Gerardo está nas mãos de Carlos Ribeiro.

Foi no tempo em que ainda havia reis, mais propriamente em 11 de Janeiro de 1895, que tudo começou. A casa abriu nessa altura na rua Serpa Pinto, no centro histórico de Santarém, onde ainda hoje mantém as suas portas abertas. Para iniciar a actividade foi preciso um selo de 400 reis e as assinaturas do Escrivão da Fazenda e do Recebedor e, um ano mais tarde, a aprovação pelo juiz do Tribunal de Comércio.A mudança de regime em 1910, da Monarquia para a República, obrigou a nova constituição da casa. E lá foram da carteira mais 400 reis, desta feita sob autorização do Secretário de Finanças e do tesoureiro. O primeiro proprietário foi Joaquim Gerardo Freire e, após uma série de falecimentos, foi o pai do actual gerente da Casa Gerardo que assumiu a sua gerência. Com a sua morte em 1980, Carlos Ribeiro, mais conhecido pelo apelido Gerardo, assumiu os destinos da casa, gerência que ainda se mantém. Segundo os relatos, a loja vendia de início artigos para a caça e roupa, não só para caçador. A pouco e pouco foi introduzindo os materiais para a pesca.A loja, praticamente frontal ao Largo Padre Chiquito, é pequena mas acolhedora e recheada com tudo o que se possa imaginar. Nas vitrinas das paredes, repousam diversas espingardas à espera que alguém as leve. Além destas existem ainda armas de defesa e de recreio, roupa própria para caçadores, binóculos, facas e artigos de pesca, estrategicamente colocados num canto esquerdo da loja para não haver misturas. A Casa Gerardo faz ainda afinações e arranjos de armas da caça.Para Carlos Ribeiro, de 65 anos, natural de Santarém e que sempre cresceu num ambiente relacionado com a caça, esta “oferta diversificada já não tem a mesma saída de há 20 anos. Já não existe a mesma fidelização com os clientes. Temos umas dúzias de clientes fixos mas hoje aparecem-nos muitas pessoas de outros locais que vêm, sobretudo, para comparar preços”, explicou. Mas também frequentam a Casa Gerado os coleccionadores de armas ou de facas, navalhas e louças com motivos de caça.Algumas dessas armas, que vêm da Alemanha e Itália, podem chegar a custar 500 euros. Mas a partir de 300 euros já se pode adquirir uma arma razoável. Carlos Ribeiro dispõe de algumas relíquias na sua loja, no caso, três armas de calibre 12 das marcas Darne, Parkemy e Perazzi, que são manuseadas e guardadas com muita estima. Entre os clientes da casa encontram-se caçadores, pessoas que procuram uma arma para defesa pessoal, adeptos do tiro aos pratos e ao alvo, apaixonados da pesca ou de armas brancas, como punhais e facas. Uma clientela diversificada que já originou situações curiosas. Segundo conta Carlos Ribeiro, “um cigano que estava a comprar uma espingarda acabou por a levar gratuitamente quando, no meio da transacção, se convenceu que ele já tinha pago”. Carlos Ribeiro esclarece quem pensa que para comprar uma arma é só dispor de dinheiro que é necessário uma licença de uso e porte de arma. Quer se queira ser caçador ou possuir uma arma de defesa pessoal. No primeiro caso a atribuição da carta de caçador depende ainda de um exame escrito e prático a efectuar pelo instituto florestal com uma época de exames por ano.Acerca do panorama da caça em Portugal e a sua influência nos negócios, Carlos Ribeiro emprega um tom crítico. “Com a burocracia a aumentar, a pessoa tem que registar a arma e levar o cartão de eleitor e respectivos documentos à secretaria de polícia em cada três anos quer se trate de uma renovação ou de uma licença pela primeira vez. As dificuldades legais levam à opção fácil pelo negócio no mercado negro, que está a aumentar de maneira visível”, sublinhou apontando também o dedo à lei da caça dizendo que não foi respeitado o espiírito da lei de 1987, dando origem a que as àreas de caça associativas ou turisticas estejam mal distribuidas.

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