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Entre a satisfação e o desânimo

António Palmeiro *

“Os novos censores estão na organização super burocrática dos tribunais. Nas câmaras que só muito lentamente vão despertando para a necessidade de comunicar com os munícipes. Em qualquer serviço público. Num funcionário que só sabe dificultar. Num porteiro que por ter a função de controlar a entrada das pessoas num recinto público se sente o homem mais poderoso do mundo. Tão poderoso que dita as suas próprias leis e as executa a cada momento de acordo com os humores.”

Numa manhã, como outra qualquer, saio de casa para mais um dia em busca de histórias do quotidiano. Para ouvir mais queixas de pessoas que se sentem alvos fáceis da injustiça. Às vezes, apesar da manhã ser de um tom primaveril, parece que acabo de mergulhar num dia cinzento. Tantos são os problemas com que temos de lidar diariamente. Tantas são as notícias que nos fazem arrepiar porque também somos humanos, apesar de algumas pessoas pensarem que somos “caça-histórias de sangue” e “profetas da desgraça”.A profissão tem muito de prazer e de recompensa pessoal. Em algumas dessas manhãs em que saímos de casa é gratificante ouvir, enquanto bebemos a primeira bica da manhã, num qualquer café, as pessoas a comentar as notícias que escrevemos. A folhear o jornal manchado de café e cheio de migalhas. Porque os jornais servem para isso mesmo. Para nos acompanhar na nossa rotina, faça chuva ou sol.Mas o desânimo mora ao lado da satisfação. Há dias em que a revolta preenche o pensamento. Há dias em que as dificuldades que sentimos no desempenho da profissão são muitas e as respostas são poucas. E quem devia responder refugia-se atrás de conceitos políticos, da burocracia, da mente fechada, do medo de falar ...só porque somos jornalistas. Só porque alguém pode ler e não gostar e depois outro alguém tem problemas com o chefe, com a instituição, com quem manda, com o Governo...A democracia tem tantos anos quanto os que tenho de idade. Cresci e abracei esta profissão num tempo em que o lápis azul da censura era apenas algo de que ouvíamos aos mais velhos falar. Mas depressa aprendi e constatei que nesta sociedade que se diz moderna existem outros lápis para outras censuras mais subtis, em que a cor já pouco importa.Os novos censores estão na organização super burocrática dos tribunais. Nas câmaras que só muito lentamente vão despertando para a necessidade de comunicar com os munícipes. Em qualquer serviço público. Num funcionário que só sabe dificultar. Num porteiro que por ter a função de controlar a entrada das pessoas num recinto público se sente o homem mais poderoso do mundo. Tão poderoso que dita as suas próprias leis e as executa a cada momento de acordo com os humores.É contra isso que lutamos. É por isso que não desistimos. É por isso que ainda quero acreditar que podemos contribuir para um mundo melhor, mais esclarecido, mais evoluído, com mais cultura geral. Apesar de sermos o povo com a mais baixa taxa de leitura da Europa.Em O MIRANTE o espírito de luta, de profissionalismo, está presente todos os dias. Seja quando nos sentamos à secretária a escrever os milhares de caracteres que salpicam as páginas do jornal, seja quando calcorreamos as estradas do distrito. É por isso que nesta redacção, onde já estou há quatro anos, estou sempre preparado para uma nova batalha nesta guerra pela informação e pela verdade.* Jornalista

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