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Jornalismo com rosto

Nelson Silva Lopes *

“O direito a informar, o acesso às fontes de informação controladas pela administração pública, a igualdade de tratamento dos órgãos de informação, estão consagrados em lei, mas em Salvaterra de Magos quem dita as leis é a presidente da câmara, eleita pelo Bloco de Esquerda, um partido que ainda há pouco tempo se indignou quando os tribunais queriam obrigar um jornalista do semanário Expresso, a revelar as suas fontes. Se calhar há leis neste país que só se aplicam a determinados jornais e jornalistas".

Uma das maiores vantagens da imprensa local e regional é a relação de proximidade que mantém com o leitor e com a comunidade que serve. Os profissionais da província são jornalistas com rosto, mulheres e homens que respiram o mesmo ar dos leitores e que, na maior parte dos casos, enfrentam os mesmos problemas e partilham as mesmas preocupações.Dificilmente, um jornalista de Lisboa é abordado por um leitor que o questiona sobre um artigo que escreveu. Mas para quem trabalha numa região como a nossa, os encontros cara a cara com o leitor são frequentes e por vezes geradores de situações pouco agradáveis.Quantas vezes o jornalista é responsabilizado pela bola que não entrou na baliza adversária, pela derrota do partido nas eleições, pela não atribuição do tal subsídio que era quase certo.Na verdade, são bem menos frequentes as situações agradáveis, aquelas que nos reforçam a motivação para encararmos o jornalismo como um serviço público, mas também existem. Quantas situações urgentes foram resolvidas com um artigo ou reportagem, depois de se arrastarem meses e meses sem solução? Em alguns casos, bastou uma pequena notícia para que as autoridades competentes (?), percebessem que a reivindicação do cidadão era justa e agissem em conformidade.Recordo o caso de um idoso que viveu em condições desumanas durante anos, enquanto aguardava uma vaga no lar. No decurso de uma longa insistência, a entrada foi-lhe sempre negada por ausência de camas na instituição. A história foi publicada no jornal e dias depois o idoso entrou para o lar que afinal até tinha 10 camas reservadas para acolhimento de casos sociais “urgentes”. Outro caso que pode servir de exemplo é o de um deficiente que viveu durante anos numa caixa de madeira com a ajuda dos pais já velhotes. A reportagem foi manchete no jornal e, dias depois, as mesmas assistentes sociais que deixaram andar a situação durante anos, encontraram uma solução mais digna para acolher o pobre cidadão.É nestas alturas que o jornalista sente que o teclado do seu computador tem peso, mas não o deve usar como arma de arremesso, mesmo que seja contra aqueles que por tudo e por nada lhe complicam a vida, sonegam informação e limitam a liberdade de trabalhar. Um exemplo prático de bloqueio à livre actuação dos jornalistas, é a maioria do Bloco de Esquerda (partido que defende as virtudes da democracia e o pluralismo) na Câmara Municipal de Salvaterra de Magos. A presidente, Ana Cristina Ribeiro, a do slogan de campanha “Próxima de ti, próxima de todos”, continua a seleccionar os órgãos de comunicação social que têm direito à informação sobre as actividades da câmara e impede os profissionais dos jornais O MIRANTE e VALE DO TEJO (ambos da mesma empresa) de trabalharem em igualdade de circunstâncias com os jornalistas que estão ao serviço de outros órgãos. O direito a informar, o acesso às fontes de informação controladas pela administração pública, a igualdade de tratamento dos órgãos de informação, estão consagrados em lei, mas em Salvaterra de Magos quem dita as leis é a presidente da câmara, eleita pelo Bloco de Esquerda, um partido que ainda há pouco tempo se indignou quando os tribunais queriam obrigar um jornalista do semanário Expresso, a revelar as suas fontes. Se calhar há leis neste país que só se aplicam a determinados jornais e jornalistas. * Jornalista

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