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Quem quer ser jornalista?

Ana Santiago *

“ Deixam-se de lado os apontamentos de literatura, o volumoso livro de economia e aprende-se a “fazer” e a “ser”. A tarimba é a melhor escola. Sai-se para a rua em busca de uma reportagem. Abordam-se pessoas, ultrapassam-se medos e dificuldades. Às vezes ouvem-se recusas, outras encontram-se pessoas afáveis – felizmente a segunda situação é a mais frequente.”

Comunicação Social, Ciências da Comunicação ou Jornalismo. A escolha é variada (o que não acontece muitas vezes com as ofertas de trabalho) para quem quer seguir a profissão. As médias cada vez são mais altas, mas não o suficiente para fazer desistir de um sonho.Para quem acaba o ensino secundário - a saber como estudar e pouco mais - a área da comunicação é um mundo aliciante. As estrelas do cinema e da televisão, das revistas e da publicidade são inspiradores da vocação de muitos jovens. E há também quem pense que o jornalismo só se faz no pequeno ecrã.Mas tudo começa verdadeiramente no momento em que se desce a escadaria do instituto para se tentar a sorte no jornalismo. E, às vezes, a realidade é diferente da imagem romântica que se criou. Deixam-se de lado os apontamentos de literatura, o volumoso livro de economia e aprende-se a “fazer” e a “ser”. A tarimba é a melhor escola. Sai-se para a rua em busca de uma reportagem. Abordam-se pessoas, ultrapassam-se medos e dificuldades. Às vezes ouvem-se recusas, outras encontram-se pessoas afáveis – felizmente a segunda situação é a mais frequente. Interrogam-se os mais lacónicos que com sorte deixam escapar um “mais ou menos”, mas acontece também não conseguir dar a entender ao entrevistado que o bloco já está suficientemente cheio.É na escola da vida – onde aprenderam os grandes jornalistas da praça, quando os cursos de comunicação ainda não tinham sido inventados - que se aprende a ser jornalista. Tenho consciência das dificuldades de trabalhar com uma população que prefere a popularidade da câmara de filmar ao aborrecido bloco de apontamentos e à máquina fotográfica, mas há momentos que escapam à mais fértil imaginação. O último foi durante uma noite de reportagem, normalmente pacífica, na eleição da Rainha das Vindimas do concelho do Cartaxo. Quando me dirigi ao palco para tirar uma foto fui “atingida” na perna por uma mala de senhora. Acidentalmente, tinha esperança. Mas ao virar-me percebi pelos gestos de um casal de meia idade, que o objecto, atirado com pouca estima, tinha-me como alvo. O casal de meia idade, confortavelmente sentado, não admitia que a excelente vista, que se tem da segunda fila, fosse perturbada pela presença de uma máquina fotográfica. Insatisfeito com a explicação de que estava trabalhar, o esposo levantou-se, tocou-me no ombro, e disse que tinha pago o bilhete para assistir ao espectáculo.Terão compreendido que se tratava de uma jornalista no exercício da sua função? Saberão qual é a função de um jornalista? Ainda hoje não tenho a certeza. Mas também me interrogo porque é que uma das câmaras de filmar, que se movimentava para um lado e outro, passando muitas vezes em frente ao casal, nunca lhe terá causado qualquer incómodo.* Jornalista

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