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Bem informado Manuel Serra D’Aire,

Essa história do aparecimento de restos de feijoada num cemitério lá para as bandas de Tomar, que foi associada a rituais de magia negra, tem que se lhe diga. Estou convencido de que ali há mão (e mais alguma coisa) do meu compadre Fanã. Desde que alguém lhe disse que os gases produzidos pelo seu sistema digestivo faziam levantar um morto que o homem não tem parado de tentar ressuscitar os antepassados e esse deve ter sido mais um dos seus ensaios. O sonho dele é ser famoso à força e ir ao programa do Herman - o que é que se há-de fazer?!Ainda me lembro que da primeira vez fui com ele, para assistir a um número que poderia ser inédito, num cemitério isolado lá para o meio da serra. Não te digo nem te conto. Foi a primeira e a última vez. O gajo abriu a marmita da feijoada, enfardou três doses e meio garrafão de tinto enquanto o diabo esfrega um olho, e daí a dez minutos havia ali uma barragem de artilharia que até o Carlos Fino ficaria admirado. Perante aquele espectáculo, eu ia olhando as tumbas através do visor da máscara à prova de gás, à espera de ver as pedras a levantarem-se. Aquilo durou para aí meia hora e nada... Os mortos ficaram nas covas, mas as flores que ornamentavam as campas murcharam perante a guerra química que lhes foi declarada. E os vidros que protegem as fotografias dos falecidos estilhaçaram. Uma coisa abismal...Implacável Manel, já que estamos no campo do mistério deixa-me dizer-te que há uma coisa que me anda a intrigar. Porque é que nas cerimónias oficiais há sempre uma cadeira reservada para o bispo católico ou para um representante e os elementos das outras igrejas e religiões nem sequer são convidados? Já reparaste que os desgraçados dos protestantes, dos muçulmanos, dos judeus, dos hindus, da IURD e dos jeovás nem um rissolzito ou um pastel de bacalhau têm direito a comer nas múltiplas cerimónias e recepções que por aí vão acontecendo.Isto na minha visão herética das coisas é pura discriminação e um atentado à liberdade religiosa. Deus queira que não seja condenado à fogueira pelo que vou dizer, mas parece que só a hierarquia católica é que tem direito a essas mordomias. E depois vêm-nos com a história de que somos todos filhos de Deus....Aliás, apesar do tempo das cruzadas e da Inquisição já lá irem há muito, o Estado nunca conseguiu ser verdadeiramente laico nem os políticos deixaram de mostrar em público o seu temor a Deus e a sua devoção. Têm um medo de ir parar ao Inferno que é obra! Basta lembrar-nos de Salazar ou de Guterres, dois beatos que nos governaram e que não deixaram saudades. Ou do sacristão Paulo Portas, que atribuiu a Nossa Senhora de Fátima o milagre da maré negra do Prestige não ter atingido a nossa costa.E que tal recordar a participação dos vereadores da Câmara de Tomar na procissão dos tabuleiros há duas semanas. Participação não, os políticos lideraram a marcha santíssima com ar solene e beatífico que já não se lhes via desde que fizeram o crisma. Agora, se forem homens, para demonstrarem o seu pluralismo e isenção e assim se penitenciarem perante as outras religiões (cujos fiéis também votam), espero vê-los nas a rebolarem-se nas missas da IURD, a andarem de porta em porta acompanhando jeovás e mormons e até, inclusivamente, abdicarem de comer toucinho e outras carnes porcas em louvor a Alá e à Tora.Um abraço do Serafim das Neves e não te estragues

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