Bruxaria no cemitério
Uma galinha morta num pano vermelho para deitar mau olhado a uma casa
Uma galinha morta sobre a fotografia de uma casa, um pano vermelho, garrafas, cravos e cigarrilhas dispostos em círculo. Os restos de rituais de bruxaria foram encontrados a 24 de Abril no cemitério da Junceira, concelho de Tomar. Num outro local do mesmo espaço, um quadro idêntico, mas em vez da galinha um prato cheio de comida. A população só algum tempo depois soube do achado macabro. O coveiro, que nunca teve receio do convívio com os mortos, agora dá consigo a olhar em volta com a sensação de estar a ser observado.
O cemitério da Junceira, concelho de Tomar, foi palco de sessões de bruxaria. Os actos terão acontecido na noite do dia 23 para 24 de Abril. Foi na manhã desse dia que um visitante encontrou os vestígios de estranhos rituais, em dois locais diferentes, tendo alertado a junta de freguesia que, juntamente com a GNR, fez o levantamento dos objectos abandonados. Num dos locais, colocada entre um jazigo de mármore e uma campa, encontrava-se uma galinha morta, sobre um pano de seda vermelha. Por debaixo do animal, a fotografia de uma casa. À volta, dispostos em círculo, diversos objectos. Sete garrafas meias de aguardente, cada uma delas com um laço vermelho e preto atado ao gargalo, dezoito cravos vermelhos, sete cigarrilhas grandes com a ponta queimada.No outro extremo do cemitério, um cenário idêntico. Outro pano vermelho, o mesmo número de garrafas, cravos e cigarrilhas. Em vez da galinha morta, um prato repleto de comida. Grão de bico guisado com carne.O cemitério da Junceira fica afastado da aldeia e há dias em que não vai ali ninguém. O próprio coveiro só comparece no local quando é necessário abrir algum coval, ou proceder à exumação de algumas ossadas. Por isso, a descoberta, poderia ter acontecido muito mais tarde. Como o sangue da galinha morta ainda não estava completamente coalhado e a comida não aparentava estar estragada, deduz-se que tudo se terá passado poucas horas antes da descoberta.Como a pessoa que fez a descoberta não vive na aldeia e fez de imediato a denúncia na junta de freguesia, a população só alguns dias depois teve conhecimento do sucedido. Mas não é por isso que deixam de ser feitas conjecturas. Maria Olívia confessou a O MIRANTE: “Este ano as seguidoras vieram comemorar o dia das bruxas à Junceira”. E acrescenta: “mas não podem ter sido pessoas de muito longe porque sabiam que o portão está apenas no trinco”. Na realidade, Luís Gabriel, o coveiro, confirmou ao nosso jornal que o cemitério está sempre aberto. “O portão fica fechado apenas no trinco. Antigamente havia três chaves que ficavam à guarda de determinadas pessoas. Quando era necessário, as visitas iam-nas buscar. Só que depois esqueciam-se de as entregar e quando eram necessárias não se encontravam. Numa altura foi mesmo preciso rebentar o cadeado para se fazer um funeral e daí para cá o portão fica apenas no trinco”.Foi desse facto que se aproveitaram os amigos da magia negra, para virem à Junceira fazer a sessão. O secretário da junta de freguesia, Luís Marques, também diz que os autores dos rituais não são da aldeia. “Estou convencido que foram pessoas que vieram de longe. A fotografia da casa, que se encontrava por debaixo da galinha morta, foi revelada em Cascais e não é casa aqui da zona”, garante.O autarca acrescenta que ouviu falar de um ritual similar num outro cemitério do concelho e, apesar de não ser supersticioso, confessa que quando deu de caras com os vestígios dos rituais ficou apreensivo. “Queres ver que é a minha casa ou a de alguém da junta”, pensou. E só descansou quando verificou que afinal não era a casa de ninguém da zona. Quem continua afectado é o coveiro. Luís Gabriel, garante que nunca teve medo do convívio com os mortos mas reconhece que desde o dia 24 de Abril anda um pouco tenso. “Quando estou sozinho aqui no cemitério, já me tem acontecido levantar a cabeça e olhar em todas as direcções, porque tenho a sensação que me estão a observar”.
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