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A moda dos piercings está em força na região e "consultórios" não faltam

“Esburacar” a pele por gosto

Os jovens ribatejanos também aderiram aos piercings

Argolas, pérolas, bolas, alfinetes espetados em vários locais do corpo. O piercing está na moda e a moda chegou em força à região. No distrito de Santarém há várias casas especializadas na sua colocação e um sem número de curiosos. A maior parte dos jovens não faz ideia das complicações que podem surgir.

O “Piercing” entrou no dia a dia dos jovens e o distrito de Santarém não ficou fora do mapa da moda. A palavra, de origem inglesa, é utilizada para designar o acto de perfurar a pele ou os tecidos do corpo humano, seguido de colocação de um objecto de adorno ou de uma jóia. Seja por uma questão de afirmação, influências musicais ou étnicas ou simplesmente porque é moda, a verdade é que cada vez mais jovens da região estão a aderir ao uso do piercing. Um, dois ou no máximo três piercings é geralmente o limite de adornos e sempre em zonas mais ou menos “públicas”. As orelhas, o nariz e o umbigo são os locais preferidos, este último mais desde que a moda ditou calças de cintura descida.Apesar desta prática ser quase sempre feita numa atitude de irreverência, a sociedade continua a olhar de lado para quem usa piercings. São juízos e preconceitos discriminatórios que se associam muitas vezes aos comportamentos chamados “desviantes” – auto-mutilação, desvios sexuais, consumo de drogas. SEM CONTROLOHoje em dia, qualquer vila ou cidade do distrito tem o seu “consultório”, local onde a “malta” se desloca para colocar os novos adereços. Em Santarém, Tomar e Almeirim há estabelecimentos próprios, onde além dos piercings se fazem também tatuagens. Mas na maior parte das localidades o tal consultório não passa de um gabinete de estética, onde a mesma pessoa que faz depilações às pernas ou axilas é também responsável pela colocação dos piercings.É aqui que reside a grande questão. Estarão essas pessoas habilitadas a perfurar a pele ou os tecidos do corpo? As excepções são aquelas que tiraram um curso específico para este tipo de actividade. Os outros vão-se desenrascando e até agora não se têm dado mal com o negócio. Colocar um pequeno brinco custa, em média, 40 euros (oito contos).Quem se coloca nas mãos de amadores corre potencialmente mais riscos, principalmente no que respeita a posteriores complicações, nomeadamente reacções alérgicas aos metais utilizados ou a rejeição do próprio organismo ao corpo estranho. As infecções são, grosso modo, as complicações mais frequentes associadas aos piercings. A maioria surge ao nível da pele e dos tecidos moles, geralmente sob a forma de abcessos, mas há piercings que já deram origem a quadros clínicos mais graves, podendo mesmo levar à morte.Saberão os jovens que riscos correm quando decidem perfurar o seu corpo? Muitos não. Pode parecer exagero mas antes do se colocar um piercing, principalmente em locais mais sensíveis como a língua, os mamilos ou as zonas genitais, todos deveriam consultar um médico. Mas é claro que ninguém liga.Poucos terão a noção que a colocação de piercings é incompatível com diabetes, doenças hepáticas provocadas por vírus ou por consumo de álcool, tratamentos com cortisona. E que quem tem doenças de pele, como psoríase, eczemas ou mesmo cicatrizes (se o objecto for colocado em cima delas) corre riscos adicionais.Para quem está decidido a pôr um piercing a qualquer custo, o melhor é informar-se do que poderá acontecer durante e depois da perfuração da pele. E lembrar-se que uma boa higiene diária é meio caminho andado para não vir a ter problemas.Susana Francisco tem um umbigo “novo”Como se coloca um piercingFica no centro histórico de Santarém, junto ao Banco Totta & Açores e dá pelo nome de Tattoo. Foi lá que Susana Francisco, jovem de 18 anos que há duas semanas se sagrou miss Santos (ver edição de 5 de Junho) decidiu fazer o seu primeiro piercing. E O MIRANTE acompanhou-a na “aventura”.Já passava das seis da tarde quando Susana Francisco transpôs a porta da Tattoo. A jovem estava um pouco nervosa mas determinada a colocar um novo adorno no corpo, mais precisamente no umbigo. “Eu queria pôr na língua mas aqui não o fazem”, queixava-se.Enquanto Susana escolhia um dos piercings expostos na vitrine em cima do balcão – “ponho o branco ou o laranja?”, perguntava à amiga que a acompanhava – Margarida Bernardino preparava os apetrechos necessários.A proprietária da Tattoo diz ter tirado alguns cursos mínimos para exercer a profissão. “Convém sempre termos umas noções porque há sítios que podemos furar e outros não”, diz, adiantando que há por aí quem “fure à toa”. Para Margarida Bernardino há locais do corpo “proibidos”. “Não tenho prática e não arrisco”. Margarida está mais habituada às tatuagens, que faz já há cinco anos, do que à colocação de piercings, actividade que iniciou há pouco mais de um ano.Em cima de um carrinho de metal Margarida vai pondo compressas, pinças, um cateter para furar idêntico aos utilizados normalmente nas transfusões de sangue, um frasco de Betadine, desinfectante da pele e um spray anestesiante, geralmente utilizado por desportistas.Com uma pinça, Margarida põe o piercing numa pequena máquina de esterilizar. A 300 graus, não convém que o piercing esteja lá dentro mais de 30 segundos. E está pronto a ser colocado.Susana Francisco optou por uma bola branca, que se torna florescente na escuridão. Deitada na marquesa pergunta a medo – “dói?”. O “nada” da resposta deixa-a um pouco mais descansada mas mesmo assim diz “sentir o coração na barriga”.Depois de desinfectar o local, Margarida agarra no cateter com uma mão e a pele do umbigo noutra. Em segundos espeta, passa o piercing e põe a bolinha mais pequena que serve de fecho ao adorno. E pronto, já está. Coloca-se um penso por causa da provável hemorragia e dá-se alguns conselhos para os próximos tempos, em termos de cuidados básicos. Demora mais tempo a preparação que propriamente a execução do trabalho. Em dois minutos o piercing está colocado. Olhando-se ao espelho, Susana Francisco suspira e desabafa – “a minha mãe vai-me matar”. Às vezes as mães são as últimas a saber...Margarida Cabeleira
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