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José Esteves aplicou no muro da sua casa os azulejos que foi coleccionando em caixotes

Um muro que dá nas vistas

Morador do Entroncamento decorou parede da casa com azulejos comemorativos

Na rua Elias Garcia, no Entroncamento, não há que enganar. Quando der com um excêntrico painel de azulejos está à porta de José Esteves. Foi essa a forma encontrada pelo morador para não ter de andar a pintar constantemente o muro da sua casa e de dar utilidade aos azulejos que foi guardando ao longo dos anos. Ali há de tudo, desde peças comemorativas a ladrilhos de construção civil. O próximo objectivo é forrar uma sala com notas dos extintos escudos.

Quando decidiu dar um colorido diferente ao muro da sua casa, José António Esteves nunca imaginou que a ideia suscitasse tanta curiosidade. Este morador da Rua Elias Garcia, no Entroncamento, decorou a parede com azulejos comemorativos que foi guardando ao longo do tempo. E o resultado foi um painel que ele próprio intitula de “quadro abstracto”. Não se sabe se a obra já inspirou artistas, mas nos últimos tempos tem sido alvo de muitas visitas. A ideia, no mínimo original, surgiu há cinco anos. José Esteves tinha o muro pintado de branco e começava a cansar-se de ter que o pintar várias vezes ao ano. “Era uma chatice. Quando havia água no pavimento os carros ao passarem sujavam-me a parede toda”, conta. Como a necessidade aguça o engenho e pelos vistos também estimula a memória lembrou-se dos vários caixotes com azulejos comemorativos que tinha guardado. Do pensamento à acção foi um ápice e não tardou que os aplicasse de forma anárquica no muro. Só teve uma preocupação, os referentes ao Entroncamento ficaram juntos no lado direito, num pilar que sustenta o portão da garagem. “Como eram poucos achei que ficavam melhor num espaço pequeno”, sublinha. Muitos dos quadrados de cerâmica foram oferecidos pelo anterior presidente da Câmara do Entroncamento, entidade onde o autor da ideia trabalha como pintor de construção civil. Outros faziam parte de restos de obras ou foram oferecidos pelos amigos. GOSTOS NÃO SE DISCUTEM“A princípio limitava-me a juntar os azulejos. Como andava sempre a pedir os que sobravam das obras algumas pessoas vinham ter comigo para me oferecer alguns, pensando que fazia colecção. Mas apenas os guardava sem objectivo nenhum definido”, explica. Longe estava a ideia de vir a considerar o seu muro como “uma obra de arte”, apesar de haver quem não goste. “O antigo presidente da câmara chegou-me a perguntar se eu achava bem ter um muro assim. Respondi-lhe que sim e que se houvesse alguém que não gostasse que os viesse tirar e metesse outros”, lembra. Conceitos estéticos à parte, o certo é que ninguém é indiferente ao painel. “Os vizinhos contam-me que às vezes andam aqui pessoas a tirar fotografias e que outros ficam bastante tempo a admirar o muro”, diz, acrescentando que gosta de ter coisas “fora do normal”. “Gosto muito disto. Sei que alguns até estão tortos, mas acho que fazem um efeito bonito”, acrescenta.O azulejo mais antigo que está na parede tem 17 anos e invoca uma homenagem ao Mestre João Breda. Na parte inferior aparece o local e a data: Águeda 1986. “Há quem diga que alguns são pintados à mão, mas disso não percebo nada”, remata, enquanto aponta para outros. Vê-se um da “Cerâmica do Entroncamento” com um desenho do Castelo do Almourol a azul sobre fundo branco. Existem outros azulejos comemorativos da inauguração das piscinas cobertas da cidade (1988), do festival da canção infantil da catequese do Entroncamento (1987) e da inauguração do centro cultural no 46º aniversário do concelho, em 1991. Um pouco da história da cidade acaba por ser ali contada e o excêntrico painel tem também outras utilidades.“Isto até serve de referência. Quando preciso de explicar a alguém onde moro não digo o número da porta, mando a pessoa vir pela rua Elias Garcia e depois parar numa casa que tem uns azulejos muito esquisitos. Ninguém se perde”, conclui em jeito de brincadeira.
José Esteves aplicou no muro da sua casa os azulejos que foi coleccionando em caixotes

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