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Folgazão Serafim das Neves.

Tive um sonho estranho na noite de segunda para terça-feira. Um sonho influenciado pela inauguração do aterro para resíduos industriais banais na Carregueira, Chamusca. Dei voltas na cama que nem um cão à volta do rabo. Acordei com os pés na mesa de cabeceira e com uma mão enfiada numa bota. Felizmente já não se usam penicos. Tudo se passava num amplo mas obscuro espaço. À porta havia um letreiro. Aterro de políticos municipais banais. E lá andavam dezenas e dezenas de zombies a vaguear.À porta do aterro havia manifestações de alegria. Eleitores sorridentes diziam adeus aos resíduos...perdão, aos políticos. Aos políticos residuais. Acordei mais cedo do que devia e pus-me a pensar na injustiça da distribuição dos fundos comunitários. Há comparticipações para a reciclagem do lixo mas não há um cêntimo destinado à reciclagem de políticos. Depois de beber um café e de expor a minha reflexão a alguns amigos fiquei mais calmo. “Tu sabes qual é a percentagem de sucesso na reciclagem de políticos?”, perguntou-me o Freitas. Não sabia mas ele explicou-me com a habitual eloquência. “Muito mais baixa que a recuperação de toxicodependentes”. Fiquei esclarecido. Estarrecido.Esta noite até estou com medo de adormecer. É que os resíduos que não são recicláveis enterram-se.Eu sei que há muitos políticos soterrados pelo pó da história. Pessoas que cortaram fitas de edifícios que nunca serviram para nada; que se armaram em trolhas de trazer por casa no lançamento de primeiras pedras de equipamentos que nunca foram construídos; que anunciaram com pompa e circunstância investimentos que nunca foram concretizados; que prometeram mundos e fundos e nunca passaram das palavras à acção. Mas, Serafim. Eu também não ignoro as partidas que os sonhos me costumam pregar. E se aquelas nulidades políticas me aparecem transformadas em minhocas? Em toupeiras?...eu sei lá.Estamos pertinho do Natal e eu não deveria massacrar os políticos. Era muito mais cristão conceder-lhes uma trégua. Mas o anjo mau que há dentro de mim deu um pontapé no cu do anjo bom que também anda por lá. No cu e nos tomates. Até a mim me doeu que não sou anjo. Nem santo. Nem sequer beato. O safardana disse-me ao ouvido. “Quando se trata de políticos não há que ter piedade. É o nosso dinheirinho que anda a rebolar. É a nossa vidinha que eles andam a tramar. Os que fazem bom trabalho não fazem mais do que a obrigação deles. Os que fazem mau trabalho é desancar até cair para o lado”. E riu-se, o destemperado.Serafim, tu já viste o que eu vi e por isso compreendes as minhas ganas críticas. O chefe de redacção do nosso O MIRANTE, o iglantónico João Calhaz, que é cá dos nossos, escreveu na semana passada uma frase lapidar num texto sobre o percurso do jornal. Repito-a aqui para quem não a leu e já não a pode ler porque pôs o jornal a forrar o caixote do gato. “(...) cada vez mais comungo a ideia de que a política é realmente a arte de fazer os cidadãos desinteressarem-se das coisas importantes, como a educação e a saúde, por exemplo”. Um aumento de ordenado para este homem. E já!Depois desta citação eu poderia acabar com o conselho habitual: “merdunça às mãos cheias para cima dos políticos que prometem e não cumprem”, mas não posso despedir-me sem uma referência à Câmara Municipal de Alpiarça. O executivo socialista, liderado pelo senhor Rosa do Céu, andou meses e meses a arrancar cartazes da vila com o argumento que numa sociedade democrática a publicidade selvagem não poderia ser permitida. Os principais visados foram os do Partido Comunista e ainda bem porque pensam que ainda estão no PREC (Processo Revolucionário em Curso) de 1974/75. Só que, depois da limpeza feita, começou ele próprio a mandar colocar publicidade selvagem pelas bermas das estradas do seu próprio concelho e de concelhos vizinhos. Ora merda! Borrou a pintura, como diria o meu tio António. Borrou a pintura e o ambiente, acrescentava eu. Borrou-se mesmo todo! Que grande cagada política!!!Um abraço higiénico do Manuel Serra d’Aire

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