O José Estaline, esse grande democrata do Leste Europeu, criou, no tempo em que mandou na ex-União Soviética, uma famosa escola de retocadores de fotografias. A técnica ali desenvolvida consistia em fazer desaparecer dos retratos oficiais camaradas que se tinham tornado incómodos para o regime. Com duas ou três pinceladas ou golpes de borracha, mudava-se a história de um país.Esta breve nota histórica serve para te falar do reaparecimento em grande força daquela forma de expressão artística. A primeira vez que tive contacto com os novos seguidores do método foi através da ex-mulher de um amigo nosso. O Cristiano. Pois bem ela mostrou-me, com visível orgulho, a versão pós-divórcio do álbum das fotografias do casamento. Estavam lá todas, mesmo aquela em que tu, bêbado que nem um cacho, estás a despejar uma garrafa de cerveja para a cartola do noivo. Só o Cristiano é que desaparecera do mapa. Com uma paciência de tarântula e uma tesoura das unhas ela recortou a cabeça do nosso amigo de todas as fotografias onde ele aparecia. Um trabalho de grande minúcia e apurada técnica que me deixou de boca aberta. E a Conceição nem sequer é comunista, como sabes.Uma outra seguidora da escola do camarada Estaline é a presidente da Câmara de Salvaterra de Magos, a dona Ana Cristina Ribeiro. Todas as semanas aquela santa mulher faz desaparecer o jornalista de O MIRANTE que acompanha as reuniões do executivo. Trata-se de uma variante da técnica de apagar fotografias aplicada à realidade. A encantadora autarca utiliza o método dos cinco dês, o conhecido DDDDD - Diminuição Drástica Das Dioptrias Democráticas. Entra na sala de sessões e se há três jornalistas presentes, sendo um deles de O MIRANTE, cumprimenta apenas dois. “Boa tarde aos dois – e carrega no dois como quem carrega nos érres - representantes da comunicação social presentes”, diz com um olhar meio estrábico, acrescentando de seguida os nomes dos dois outros órgãos de comunicação social presentes para não haver dúvidas. Se por acaso fores à feira da ladra e vires à venda uma grã-cruz José Estaline, com foice, martelo e tudo, compra, porque a mulher merece ser condecorada. E se houver duas, compra as duas. Uma para ela e outra para o vereador da CDU na câmara do Entroncamento. É que o senhor António Ferreira quer aplicar o método de reformulação da história através da técnica de fazer desaparecer fotografias, lá no município. Eu explico-te Serafim. Há umas semanitas foram colocados na sala de sessões os retratos de todos os ex-presidentes da câmara. Pois bem, o senhor autarca acha que os que mandaram antes do 25 de Abril não têm o direito de ali estar. Nem sequer um chamado José Duarte Coelho que, quando ainda era presidente da Junta, mandou construir a actual sede da câmara. Nada de misturas defende o eleito da CDU. Homens daqueles não merecem figurar ao lado dos grandes democratas eleitos depois do 25 de Abril de 1974. Confusões, como calculas. O MIRANTE, que tem acompanhado a actividade dos últimos presidentes daquela autarquia, várias vezes deu notícia de acusações de falta de democracia feitas pela CDU a presidentes da câmara eleitos pelo povo. E não foram poucas. Mas adiante que quando a memória é curta não há nada a fazer. O que não se sabe, porque o senhor Ferreira não explicou, é se apenas defende a retirada das fotos, permitindo a permanência das molduras com os nomes, ou se quer aplicar a técnica na sua versão mais drástica fazendo desaparecer fotos, molduras e passes partus. No entanto tudo indica que a primeira opção seria suficiente para satisfazer a veia artística do zeloso democrata uma vez que os nomes dos maduros que governaram o concelho no tempo da outra senhora figuram em ruas, praças e viadutos, sem que ele alguma vez se tenha sentido incomodado. Saudações revolucionárias do Manuel Serra d’Aire