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A ver passar os comboios

A ver passar os comboios

Alcanhões está bem servida de infraestrutruras e serviços mas faltam melhores acessos

As passagens de nível da Linha do Norte são o maior obstáculo à qualidade de vida na freguesia de Alcanhões, onde as infraestruturas e serviços básicos dão resposta. Quem trabalha em Santarém perde regularmente minutos preciosos à espera que passem os comboios.

De Santarém a Alcanhões são apenas oito quilómetros. As estradas não são muito más, mas esse curto percurso entre a vila e a cidade sede do concelho, que normalmente se faz em cerca de 15 minutos, pode demorar mais de meia hora e, com muito azar, o trajecto pode mesmo alongar-se por uma hora. Para tal, basta que as duas passagens de nível que é preciso atravessar para ligar as duas localidades estejam fechadas e os comboios demorem a passar.A promessa da construção de passagens desniveladas sobre a linha de comboio já foi repetida vezes sem conta à população. Tantas que os mais velhos têm de esforçar a memória para se lembrarem de quando a ouviram pela primeira vez. Nos últimos anos as coisas até pareciam estar finalmente a avançar. Até que se começou a ouvir falar na possibilidade da mudança do traçado da linha entre Vale de Santarém e Vale de Figueira. O que pode levar o comboio para mais longe de Alcanhões.O problema é que até lá a população de Alcanhões ainda terá que perder muito tempo à espera que os comboios passem. Ou talvez não. Pelo menos a fazer fé no presidente da Junta de Alcanhões, que põe como prioridade para o ano de 2004 a construção de uma variante à Estrada Nacional 365, que liga a Ribeira de Santarém à sua freguesia.A variante, que sairá da rotunda junto ao complexo aquático de Santarém, passará a oeste da linha-férrea e evitará o seu atravessamento. No entanto, a obra ainda nem sequer começou e os mais cépticos querem ver para crer, até porque de boas intenções está o inferno cheio.Alcanhões tem outra ligação a Santarém, pela EN 3, mas, além de serem mais quatro quilómetros, obriga os condutores a atravessarem a Portela das Padeiras, o que, às horas de ponta, é tão ou mais demorado do que esperar que os comboios passem. Além disso, a freguesia pertence ao agrupamento escolar da escola D. João II, que fica mais a jeito para quem segue pela Ribeira de Santarém.E são muitos os pais que, a caminho do emprego, em Santarém, fazem um pequeno desvio para deixar os filhos na escola. Em Alcanhões só há pré-escola e escola primária, pelo que, a partir da quarta classe, os miúdos vão estudar para a sede do concelho. Quem não vai em viatura própria pode apanhar um dos autocarros que fazem a ligação entre a freguesia e Santarém de manhã, à hora de almoço e ao princípio da noite. A população até nem tem muitas queixas dos autocarros a não ser que, sobretudo de manhã, as camionetas vão superlotadas e é frequente irem miúdos de pé.Ao contrário de outras freguesias da região, em que uma das características principais é a dispersão das casas, Alcanhões concentra-se num aglomerado urbano único, que se estende por cerca de dois quilómetros em ambos os lados da EN 365. Talvez por isso, a vila possui electricidade, água e esgotos praticamente a cem por cento.A população de Alcanhões tem-se mantido estável, na ordem dos dois mil habitantes, mas a tendência é para o crescimento. Nos primeiros anos da década de 90 alguns jovens saíram da localidade e foram morar para Santarém, sobretudo porque os limites do Plano Director Municipal (PDM) impediam a construção nos terrenos dos familiares. Mas agora muitos começam a regressar e mais poderão vir quando a alteração ao PDM entrar em vigor corrigindo, como se espera, os erros do passado.Esta tendência de crescimento é visível, por exemplo, com a lotação da pré-primária, que poderá ter de ser alargada em breve, e pela aprovação de uma urbanização junto à auto-estrada, que prevê a construção de 80 fogos e que inclui ainda mais oito hectares destinados a zona industrial.Na freguesia não há nenhuma empresa de grande dimensão, mas existem várias unidades fabris e oficinas de pequena dimensão. A maior parte da população trabalha no comércio e serviços em Santarém, mas o número de pessoas que exerce a sua actividade profissional na grande Lisboa tem aumentado.O trabalho agrícola, que ainda não há muito tempo sustentava grande parte das famílias, está em declínio, mas ainda dá trabalho permanente ou temporário a algumas pessoas, sobretudo na área da vitivinicultura. A Adega Cooperativa de Alcanhões, a única existente no concelho, é a guardiã da qualidade dos vinhos da terra, afamados na zona e não só.A vida social da população de Alcanhões reparte-se essencialmente pelos nove cafés existentes na freguesia. É lá que se põe a conversa em dia, se fala dos problemas comuns, da política e, claro, da bola. O futebol é, de resto, a principal modalidade da Associação Popular de Alcanhões (APA), a colectividade mais representativa da freguesia, que disputa actualmente o distrital do Inatel. Há ainda mais três associações: o rancho folclórico, o grupo de dadores de sangue e os escuteiros.Na freguesia falta um espaço condigno para espectáculos e convívio da população. A sede da APA é alugada e está longe de corresponder às exigências. Um problema que poderá resolver-se se com a construção de bancadas e cobertura no ringue actualmente existente, assim se consigam as verbas necessárias.Posto médico, serviço de ambulâncias, agência bancária, farmácia, estação dos CTT, posto de abastecimento de combustível e vários estabelecimentos de comércio tradicional, completam a auto-suficiência de Alcanhões, uma terra que se tem desenvolvido, mas que ainda não perdeu todos os traços de ruralidade de tempos antigos.
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