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As lutas que o “Diabo” amassou

As lutas que o “Diabo” amassou

Joaquim Jorge Duarte, mais conhecido por “Diabo”, é uma lenda em Pernes. Grande instigador da luta anti-poluição, foi fundador e presidente da primeira organização ambientalista do país, a CLAPA (Comissão de Luta Anti-Poluição do Alviela), que teve sede na sua casa, na zona ribeirinha de Pernes, de 1976 a 1990.O nome herdou-o do pai, que, segundo conta a viúva de Joaquim Duarte, era pessoa com mau vinho para a mulher e filhos. Tanto que a vizinhança depressa o baptizou como “Diabo”. Alcunha a que um filhos viria a dar projecção mediática, graças às entrevistas e reportagens que órgãos de comunicação social de Lisboa fizeram em Pernes no auge da luta contra a poluição, que chegou a motivar boicotes eleitorais nessa freguesia e na de Vaqueiros.Durante a sua actividade, o “Diabo” e os seus correlegionários não deixaram em sossego os industriais de curtumes de Alcanena nem o poder político da época. Apesar de grande parte da luta ter sido feita nos tempos da ditadura. As acções de protesto daquele taberneiro de Pernes fariam hoje as delícias das televisões. Como a da entrega de um garrafão cheio de água podre do Alviela na Assembleia Nacional, que tinha como destinatário o presidente do conselho, Marcelo Caetano.Uma lápide na casa onde viveu assinala a sua passagem terrena. Faz este mês 13 anos que o “Diabo” partiu, vitimado por uma trombose, aos 59 anos. A viúva, Idalina Gonçalves Nogueira, já está habituada a viver com a fama do marido, que vai assumindo contornos de lenda. “Ele tinha mais amor ao rio que tinha à casa. Andava dias e dias nessa luta…”, revela.Enquanto o marido pugnava por um rio limpo como o da sua infância, a dona Idalina e um sobrinho tomavam conta da tasca de petiscos que pedia meças à fama do dono. E que, apropriadamente, se chamava Casa do Diabo. O pão caseiro, os molhinhos com piri-piri, a perna de porco capado assada no forno e o presunto constituíam iguarias que atraíam muita gente à ribeira de Pernes. E que ficaram descritas nas páginas do romance “Para a morte não ter razão”, que o escritor pernense Mário Rui Silvestre, sucessor do “Diabo” na presidência da CLAPA, dedicou à memória de Joaquim Jorge Duarte.O pão que o “Diabo” amassava e os petiscos da sua mulher serviram também para aconchegar os estômagos de alguns opositores do regime de Salazar que viviam na clandestinidade e que se reuniam secretamente numa quinta da zona. Joaquim Jorge Duarte era um acérrimo anti-fascista e esteve na linha da frente no apoio, no distrito de Santarém, à candidatura do general Humberto Delgado.Idalina Nogueira recorda esses tempos e diz que era cúmplice do marido na luta contra Salazar – “esse malandro”. Joaquim Jorge Duarte ainda esteve detido pela Pide em Santarém, mas, graças a alguns conhecimentos, conseguiu ser libertado antes de ser enviado para Caxias. Rodeada de recordações, Idalina Nogueira, que sofre na pele os anos em que viveu paredes meias com as águas tingidas do tóxico crómio, não esconde a saudade quando se fala do seu marido. “De vez em quando ainda há gente que diz que faz cá falta outro Diabo”.
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