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Uma terra com tradições

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Feira de Outubro anima Vila Franca de Xira até domingo
Manuel Rodrigues sacrificou um dia de férias para ir a Vila Franca de Xira assistir a uma espera de toiros. Na segunda-feira, o operário não teve direito a ponte porque não é funcionário público, mas viajou desde a Moita do Ribatejo para reviver a aficion vilafranquense. “Há 30 anos que venho a Vila Franca. É já uma tradição. Mesmo quando chove, estou cá sempre”, explica.Este ano São Pedro não estragou os primeiros dias da feira como é hábito e na véspera do 5 de Outubro a espera decorreu debaixo de um calor tórrido. Lucraram os vendedores de águas, cervejas e refrigerantes que não tiveram mãos a medir e arrecadaram um euro por cada dose. “Agora é tudo um euro”, queixa-se Valentina Ramalho enquanto paga uma água para dar ao neto que a acompanha. Lá dentro, em terreno de valentões e homens de barba rija, Manuel Rodrigues, 62 anos, confessa que já não tem a destreza doutros tempos, mas ainda arrisca um bocadinho. “Há 20 anos eu andava sempre na cara do animal. Tive alguns sustos, mas felizmente nunca me aleijei”.João Duarte entra na conversa para acentuar o perigo da festa brava. “Lembras-te daquele rapaz da Moita que andava sempre aí? Está no hospital. Foi colhido lá na Moita e ainda não recuperou”. Romeu Augusto reforça lembrando um amigo que foi colhido em Vila Franca e ficou inválido. “Nunca mais vai largar as canadianas”.São muitas as histórias de infortúnio vividas em Vila Franca, mas não há tragédia que afaste os aficionados. Meia hora antes do início da espera já é difícil arranjar um espaço junto das centenas de metros das tranqueiras e quando soam os morteiros, quem não tem lugar já não consegue ver a cor dos toiros.O que ficou junto da Praça de Toiros é castanho. Entrou com o gás todo, mas cansou-se depressa. “Os toiros este ano não valem nada”, lamenta Augusta Mendes, uma idosa de Alenquer que não dispensa a Feira de Vila Franca. “Até os toiros já não são como dantes”, lamenta.Um jovem com uma t-shirt vermelha atravessa-se à frente do animal que terá quase 500 quilos, mas não dá sinal de bravura. “Este caramelo é manhoso e só corre pela certa”, explica o rapaz de 16 anos que sonha ser toureiro, nem que seja por alguns segundos. O relógio marca 12h30 e para desespero do vendedor de tremoços e amendoins o povo começa à procura de almoço. “Hoje não ganhei para a bucha”, lamenta o homem que já vende na Feira de Vila Franca há mais de 30 anos. “Não há dinheiro para nada, nem para os tremoços”. Quando entramos no espaço da feira, as queixas dos vendedores aumentam. As tendas da roupa, do calçado, dos utensílios para a casa e para a agricultura, da comida e da bebida, estão lá, mas a procura já não é o que era.“Um cobertor para o enxoval a 15 euros”, grita um feirante ao megafone. Do outro lado há baldes e alguidares a 1,5 euros e ali mais à frente compra-se um par de botas para o trabalho por 20 euros. Quem gosta de artigos mais personalizados e tem uma carteira mais abastada pode comprar no Salão do Artesanato onde mais de uma centena de artesãos vende peças de sonho e mostra ao vivo a arte de trabalhar a madeira, o cobre, o ouro, o pano, ou a massa dos bolos. Em redor do pavilhão, as diversões chamam as crianças e os jovens, enquanto dezenas de visitantes aconchegam o estômago com um coirato ou uma bifana numa das tascas das associações do concelho.No regresso a casa, quem utiliza a saída sul depara com o mau cheiro e o pó na zona dos animais do circo. “Isto é uma vergonha. Podiam melhorar este acesso”, comenta Alzira Duarte, visitante da feira há mais de 40 anos. Depois do investimento feito no parque do Cevadeiro, era de esperar que aquele corredor tivesse a cara lavada porque serve de entrada de milhares de pessoas na feira. E a primeira imagem é importante!Nelson Silva Lopes
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