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Autoestrada paga a partir de Abrantes

Autarcas criticam decisão do Governo de colocar portagens nas SCUT

Os autarcas dos concelhos atravessados pela auto-estrada 23 estão contra as anunciadas portagens aprovadas pelo Governo no último dia de Setembro. Mas nem tudo é mau. Os 37 quilómetros da via entre Torres Novas e Abrantes não deverão ser taxados por não estarem concessionados.

Se o actual mapa das novas vias com portagens, apresentado publicamente pelo ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, for avante, os primeiros 37 quilómetros da A23, entre Torres Novas e Abrantes, manter-se-ão sem uma única portagem.Esse troço não foi concessionado a nenhuma empresa, estando sob a responsabilidade do Instituto de Estradas de Portugal, através da Direcção de Estradas de Santarém. A situação foi confirmada ao nosso jornal pelo director de Estradas de Santarém. “Os 37,5 quilómetros de ligação da A1 a Abrantes são da nossa responsabilidade, como se tratasse de qualquer estrada nacional do distrito”, referiu Alcindo Cordeiro.Por isso, a tão polémica decisão do Governo passa praticamente ao lado da região, podendo apenas ficar com portagens o troço da A 23 que liga Abrantes a Mação, que tem pelo meio a saída para Mouriscas (concelho de Abrantes).Apesar deste importante pormenor, a maioria dos autarcas que governam os concelhos atravessados pelos primeiros 37 quilómetros de auto-estrada mostram-se descontentes com a posição tomada pelo executivo central.Dizem não ter alternativas, que haverá uma regressão no desenvolvimento que a região teve na última década, muito por via da construção do então IP6 (agora A23). Têm receio de que futuros investimentos sejam desviados para outras zonas e que não haja rejuvenescimento da população activa.O presidente da Câmara de Constância é um desses casos. “Mesmo que não sejam colocadas aqui mas só para lá de Abrantes, a questão mantém-se”, diz António Mendes, adiantando que muitos automobilistas voltarão a circular pela estrada nacional (EN3) que passa pelo meio da vila.“A Nacional 3 em Constância já é um arruamento urbano, não pode funcionar como uma alternativa sustentável”, justifica o edil, que estranha a decisão governamental, tanto mais que ainda recentemente teve a palavra de um governante de que a A-23 não iria ser taxada. “Hoje diz-se uma coisa, amanhã faz-se outra”, critica António Mendes, que considera o facto desmotivante para quem ainda honra a palavra.Poder-se-ia questionar a posição de António Mendes pelo facto de ser um eleito da CDU. Mas o descontentamento estende-se no entanto aos autarcas da esquerda mais moderada (PS) e da própria direita (PSD). Como o presidente da Câmara de Mação (PSD), aliás o mais crítico em relação à implementação de portagens na A23. Para Saldanha Rocha já basta ter um concelho onde a interioridade é “castrante”, tornando por isso a região pobre e desertificada.O autarca vai ainda mais longe ao afirmar que o Governo poderá estar a cair numa gritante injustiça ao aplicar o conceito apenas no troço entre Abrantes e Vilar Formoso.“Gostava de saber como é que vão resolver esta questão, quero que me digam se na A-23 há utentes de primeira e de segunda”, critica Saldanha Rocha, apelando ao bom senso antes de se fazer qualquer coisa que depois será irreversível.O PS de Abrantes apelou na última segunda-feira à criação de uma frente conjunta de protesto dos autarcas e dirigentes partidários dos concelhos prejudicados pela decisão do Governo, considerando que as SCUT (auto-estradas sem custos para o utilizador) não podem ser “apenas uma questão de contabilidade”.Mas há quem concorde com a introdução de portagens exactamente pela questão contabilística. Quanto mais dinheiro entrar, mais dinheiro haverá para desenvolver o plano rodoviário na região. A posição do presidente da Comunidade Urbana do Médio Tejo (CUMT), que engloba todos os municípios do distrito atravessados pela A23, é bem clara – a introdução de portagens é a melhor forma de se viabilizar futuros investimentos em itinerários principais e complementares (IP e IC).António Paiva (PSD) nega estar a pensar só nas obras rodoviárias no seu concelho – IC3 e IC9. “Estou a puxar a brasa à sardinha do distrito, que ainda tem muitas estradas por construir e por manter”.Suficientemente crítico relativamente às posições assumidas pelos seus colegas autarcas, que apelida de discursos demagogos, o presidente da CUMT diz ter de se decidir de uma vez por todas se se quer ter uma auto-estrada sem portagens e estradas sistematicamente com construção adiada. Ou se se utiliza o princípio do utilizador-pagador e de uma vez por todas a região terá ligações rodoviárias eficazes entre as vilas e cidades e a rede nacional.António Paiva concorda com o princípio do utilizador-pagador mas não admite excepções. “Se é para pagar que se pague em todas as auto-estradas do país”.O representante dos empresários da região também partilha da mesma opinião. José Eduardo Carvalho já concordou publicamente com o princípio do utilizador-pagador na A-23, salientando que o país não pode continuar com este despesismo.“É uma ilusão, estamos a criar problemas para o futuro se continuarmos assim”, garante o presidente da Associação Empresarial da Região de Santarém.Margarida Cabeleira

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