Especial 25 de Abril | 20-04-2005 03:31

Um amor separado pelo mar

Um amor separado pelo mar
Luísa e Jorge Nascimento namoriscavam já há cinco anos quando, em Outubro de 1964, o jovem sargento miliciano foi chamado para a guerra em Angola. Uma semana antes de partir o militar quis oficializar a relação e foi falar com o pai da pretendente.O pedido de namoro, começado às escondidas no liceu de Santarém, foi aceite pela família, mas o pai de Luísa, paradigma do chefe de família português, achou que ainda era cedo para a jovem acompanhar o seu enamorado ao embarque. A imposição do pai deixou a futura esposa de Jorge Nascimento de rastos. “Foi um vale de lágrimas. Chorei todo o dia. Não consegui fazer mais nada. Foi uma sensação de impotência. Sabia lá se voltava”, recorda Luísa Nascimento, 58 anos, então residente em Sobral de Monte Agraço.A partir dessa altura restava à jovem de 18 anos esperar pelas notícias de além-mar. O namorado começou a escrever-lhe ainda no barco. Em média recebia por semana três aerogramas, papel de avião dobrado e fechado num envelope pequeno.As notícias foram chegando sempre com regularidade. Com excepção de uma altura em que o correio se atrasou. Não eram abundantes, mas davam conta do agravamento da situação.O atraso na correspondência fez Luísa Nascimento temer o pior. As amigas de Santarém, a quem constava que tinha morrido um militar com o mesmo nome, já se preparavam para a consolar. Dias depois a circulação do correio foi retomada e as cartas atrasadas chegaram em catadupa.O estado de espírito que o namorado desvendava nas cartas era animador e nunca a deixou muito preocupada. Entre emboscadas, faziam-se caçadas e patuscadas entre camaradas.A meio da comissão o militar fez uma visita a Portugal. Luísa Nascimento nunca esquecerá o ambiente carregado do reembarque. “Viam-se pessoas a desmaiar. Vinha gente de todo o país que nunca tinha vindo a Lisboa para se despedir das famílias. E vinham de preto, como se estivessem de luto”, relembra.Na tarde antes do embarque Luísa Nascimento ainda tentou convencer o namorado a partir para a Bélgica, tal como muitos ilustres, mas o militar estava decidido a enfrentar o destino. O mesmo que os mantém juntos, há mais de 30 anos, em Azambuja.

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