Acertar num toiro semental é quase uma lotaria
Ganadeiro da empresa Pontes Dias realça a importância das tentas para aquilatar da bravura do animal
Manuel Pontes Dias refere que os cruzamentos para “refrescar” o sangue, as tentas com toureiros e picadores são passos essenciais para descobrir o semental que pode ajudar a gerar boas crias.
Um toiro que ajuda cavaleiros, toureiros e forcados a brilhar é “feito” no campo, mas custa muito trabalho e uma boa dose de sorte a criar. Quem o diz é o ganadeiro Manuel Pontes Dias, a escassos dias de levar alguns dos seus animais para a Grande Corrida O MIRANTE, marcada para a tarde de 2 de Julho, na praça Palha Blanco, em Vila Franca de Xira.É a cerca de 200 quilómetros de Vila Franca que fica a Herdade da Pelica. No lugar do Senhor dos Aflitos, freguesia de Fortios, Portalegre, a propriedade estende-se por cerca de 200 hectares.Manuel Pontes Dias é da zona da Malveira, Mafra, mas migrou para a zona de Portalegre à procura de propriedades mais amplas e para dar seguimento ao seu sonho de criar toiros bravos. O ganadeiro tem 69 anos. Em jovem pôs de parte a ideia de ser toureiro que por alguns anos alvitrou na sua mente. Mas chegou a “tomar a alternativa” no tentadero da Herdade da Pelica.Com a presença de amigos e familiares, a cerimónia foi completa. Entrou na arena para as cortesias, lidou um novilho com muleta a que deu a estocada final. Para curar o vício que tinha de novo. O mesmo que se “pegou” a um dos netos que tenta a sorte da vida nas arenas da Escola de Toureio José Falcão.Na Herdade da Pelica hoje conta com 64 vacas e 23 toiros bravos na herdade, além de novilhos. Dois toiros sementais, para reprodução, ficam em permanência entre as vacas. Uma das formas de conseguir criar toiros com bravura é fazer cruzamentos para “refrescar” o sangue dos animais. Como explica o ganadeiro, a reprodução entre um grupo fixo de animais gera problemas de consanguinidade e deficiências físicas, como a perda de visão, além de se notar investidas menos salientes. Manuel Pontes Dias garante que acertar na escolha de um bom toiro semental é quase uma “lotaria”. O teste decisivo faz-se com as tentas, dentro do tentadero (pequena arena) da herdade, onde o animal é lidado e picado a cavalo, na esperança de dar boas indicações de bravura. O melhor que alguma vez viu integrar uma corrida foi em Abiúl, Pombal, em Junho de 2001. “Foi bravíssimo e fui chamado duas vezes à arena. Depois de lidado a cavalo, ainda participou numa festa do Forcão (em que vários homens recorrem a uma estrutura de madeira e vão aguentando as investidas do toiro) e voltou à herdade para ser picado e servir para semental. Parecia que estava puro”, recorda o empresário.Não apenas os machos contam para aferir da sua bravura. As fêmeas têm um papel essencial e são testadas nas tentas, com picadores e toureiros. As melhores são guardadas para a reprodução. As restantes são abatidas em matadouro. Este ano o ganadeiro “tentou” 26 novilhas e apurou quatro com potencial. Os toiros vivem soltos no campo. Cerca de 200 metros abaixo da casa da herdade e cercados por vedações reforçadas. Vivem em pura liberdade, no meio de pastagens, próximos de um ribeiro.Até Dezembro/Janeiro de cada ano vacas, novilhos e toiros estão juntos. Quando seleccionados para as corridas os toiros são separados com ajuda de cabrestos e passam a comer farinhas. Os restantes comem o que a terra lhes dá. “A não ser que haja uma seca terrível como a do ano anterior”, recorda o empresário.No escritório de Manuel Pontes Dias as paredes estão imersas de desenhos da tradição agrícola e da festa brava. Na sua casa o espaço nas paredes e em armários começa a escassear com os cartazes das corridas e troféus ganhos em Portugal e em Espanha. Corridas que acompanha sempre para ver a sua sorte com a lide dos toiros.“Recordo-me de ter sido chamado duas vezes à arena do Campo Pequeno durante uma novilhada e, em 2004, uma saída em ombros da praça da Moita, ao lado de João Moura, Velásquez e Pedrito de Portugal”. Um momento que tem registado numa ampla foto na sala. Manuel Pontes Dias chegou a fornecer animais para Espanha, para lides apeadas, mas a doença das vacas loucas fez diminuir a circulação de toiros e restringir o negócio à temporada tauromáquica nacional. Actualmente faz cerca de três a quatro corridas ano. A de Vila Franca é a sua primeira esta temporada.Ricardo Carreira
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