O burro, a carroça e os dois pequeninos nigerianos
Com uma carreira de 15 anos no desporto automóvel e participação nas provas mais carismáticas do mundo, Victor Jesus tem muitas histórias curiosas para contar. “A vivência com as pessoas do continente africano, que em muitos casos só vêem automóveis durante as provas de todo-o-terreno, é deveras aliciante, quer na forma aberta como nos recebem, quer também na sua maneira de nos abordar”, recorda.Um dia, já no Senegal, a apenas uma etapa para o final do Dakar, num troço de ligação, ele e Carlos Sousa resolveram parar à sombra de uma árvore, sem que se observasse mais nada em redor, para beber uma bebida fresca, que lhes tinha sido dada pela assistência uns quilómetros antes.Ao longe viram aparecer uma carroça puxada por um burro, acompanhada por duas crianças bem pequenas. A mais velha não teria mais de sete anos e a outra era ainda mais nova. Foram-se aproximando timidamente, pararam ainda longe, ficaram a olhar para eles e para o carro, e com passos lentos vieram ao seu encontro. Já bem perto deles começaram a falar no seu dialecto imperceptível para os portugueses, que finalmente chegaram à conclusão de que queriam que lhe sdessem qualquer coisa.“Não tínhamos mais nada e distribuímos o que ainda tínhamos na caixa da ração, e fomos explicando que aquilo era para comer, era uma barra de chocolate, umas caixas de doce e umas bolachas”, revela Victor Jesus. As crianças ficaram radiantes e espectacular foi a sua forma de agradecimento. Começaram a tagarelar e como viram que eles não os compreendiam, agarraram-os pelas mãos, obrigaram-nos a atravessar a estrada até junto da carroça, e aí chegados abriram a saca carregada de trigo que levavam e de dentro tiraram o cereal com a mão, comeram e fizeram questão que eles comessem também, ficando como uma troca de prendas. “Foi uma cena que nos tocou bem fundo, a mim e ao Carlos Sousa”, remata.
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