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Arreigado Manuel Serra d’Aire

Arreigado Manuel Serra d’Aire

Li, já não sei bem onde, que andam por aí uma jornalista e um fotógrafo a recolher material para fazer um guia do insólito do Ribatejo. A iniciativa só por si já merecia constar do dito guia, embora nesta região não faltem assuntos desse calibre.E como os profissionais que vão recolher as nossas facetas mais pitorescas não são de cá nem conhecem patavina disto, era importante que alguém lhes servisse de cicerone por este incrível Ribatejo onde, nalgumas zonas, se constroem hospitais uns em cima dos outros. Se houver justiça nessa publicação, um capítulo tem de ser dedicado ao presidente da Assembleia Municipal de Torres Novas, o socialista Manuel Piranga. Trata-se de um homem com super poderes que consegue ao mesmo tempo liderar o órgão fiscalizador da actividade do executivo camarário e assessor avençado do próprio presidente da câmara. Provavelmente os incautos forasteiros não vão acreditar nesse “mimo”. Tal como terão dificuldade em digerir a história da duplicação das estátuas de homenagem aos forcados em Vila Franca de Xira. Um pagode feito à custa dos contribuintes que levou alguns ingratos alhandrenses a protestar por a câmara lhes ter dado o alegado refugo estatuário que os forcados de Vila Franca não aceitaram.Os homens do “guia do insólito do Ribatejo”, se levarem a coisa a peito, conseguem fazer uma edição com mais volumes do que o número de esgotos a céu aberto que correm para os nossos rios. Tudo graças ao esforço dos nossos inestimáveis autarcas, que nunca têm dinheiro para essas coisas embora o graveto nunca lhes falte para construir rotundas e mandar fazer estátuas.E já agora, indómitos jornalistas, não se esqueçam de falar com o bombeiro de Tomar que transportou um cadáver numa carrinha de caixa aberta. Ou de lembrar os restos mortais, as lápides e pedaços de caixões que foram encontrados na encosta junto ao cemitério de Santarém. É verdade que são “relíquias” macabras, mas alguém tem o arrojo de dizer que não são insólitas?Tal como me parece estranho que as nossas cidades e vilas persistam na mania de fazerem as festas todas umas em cima das outras. No mês de Junho é uma farturinha! Foi o que se passou em Abrantes, Barquinha, Entroncamento, Constância, Almeirim, pelo menos que me lembre. Eu sei que os santos populares se comemoram nesta época. E que as elevações a cidade ou a concelho que se celebraram nalgumas dessas terras também sucederam no mês de Junho. Mas, caramba, ninguém os obriga a assinalar essas datas com programas tão recheados.Façam lá o hastear da bandeira e os discursos da praxe e arranjem calendários alternados. Porque assim não há fígado que aguente tanta borga, nem carteira que não se queixe. Passem a comemorar, por exemplo, o aniversário do último mamarracho autorizado pela câmara. Ou a assinalar devidamente a contratação do primeiro assessor pelo presidente da câmara. Vão ver que assim as festas se espraiam pelo calendário de forma mais harmoniosa, deixando de andar encavalitadas umas em cima das outras.As coincidências são tantas que esta semana até estão a decorrer feiras do livro em simultâneo no Cartaxo e em Santarém. Com um choque cultural destes um gajo vira intelectual mesmo que não queira. Arriscamo-nos a que as conversas de café passem a girar em torno da escrita saramaguiana sem pontos finais e parágrafos, sobre as metáforas do Lobo Antunes ou, em estabelecimentos menos conceituados, sobre o português vernáculo do José Vilhena. Uma despedida à francesa do Serafim das Neves
Arreigado Manuel Serra d’Aire

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