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Ensino Profissional é fundamental para o desenvolvimento

Maria Salomé Rafael e os novos desafios

É uma profunda conhecedora da realidade do Ensino Profissional. O seu nome está associado a reconhecidos casos de sucesso naquela área. Maria Salomé Rafael é Directora da Escola Profissional de Salvaterra de Magos e da Escola Profissional de Hotelaria e Turismo de Lisboa; Presidente da Direcção da Escola Profissional de Coruche e Presidente do Conselho de Administração da Escola Profissional do Vale do Tejo em Santarém. Nesta entrevista fala dos 17 anos do Ensino Profissional em Portugal e perspectiva o futuro com grande realismo.

Como avalia a evolução do Ensino Profissional no nosso país e na região?Tem sido uma evolução extraordinariamente positiva e foi uma decisão muito acertada, por parte do Ministério da Educação quando há 17 anos decidiu criar o Ensino Profissional. De uma forma geral, as escolas profissionais têm conseguido responder aos desafios da sociedade actual e estão a cumprir os objectivos para os quais foram criadas. Apraz-me registar que, numa altura em que se coloca um novo desafio à sociedade portuguesa e ao tecido empresarial, no que se refere à aposta na inovação, na tecnologia e na investigação, algumas escolas profissionais do nosso país, nomeadamente as que represento, já estejam a trabalhar nesse sentido há muito tempo. Quais foram os principais desafios colocados ao longo destes anos de existência do Ensino Profissional? Um desses desafios, que ultrapassámos com distinção, foi o da autonomia pedagógica e administrativa para a construção de um projecto educativo diferente. Foi uma situação que incomodou o que estava instalado, porque tudo o que é diferente incomoda. Nós aceitámos o desafio sem reservas e essa autonomia que nos foi dada. Outros reivindicaram-na, têm-na, mas não a aplicam, porque ser autónomo obriga também a ser responsável e determinado, como bem o sabemos. Na sua opinião, quais são os pontos fortes das escolas profissionais?Vou basear a minha resposta em estudos que foram feitos por várias pessoas, nomeadamente o Prof. Dr. Joaquim de Azevedo, Margarida Marques, Antas de Barros, Santos Silva, e pelo próprio Ministério da Educação. Este é por isso o sistema de ensino mais estudado e todos estes estudos apontam as mesmas conclusões: as escolas profissionais têm custos mais reduzidos, menor abandono escolar, melhor nível de aproveitamento, alunos, professores e formadores mais motivados, aulas experimentais, elevados níveis de empregabilidade e uma ligação muito próxima com o tecido empresarial. Acrescento ainda menor resistência à mudança e grande abertura para a introdução de práticas pedagógicas inovadoras. Portugal é dos países da União Europeia que menos estudantes tem no ensino profissional proporcionalmente ao ensino secundário… Como avalia as medidas que o Governo anunciou para inverter esta situação e aumentar exponencialmente o número de alunos neste subsistema de ensino?Com estas medidas penso que finalmente se reconhece publicamente todo o mérito das escolas profissionais que, ao longo destes 17 anos, sempre apresentaram excelentes resultados e contribuíram de forma decisiva para a qualificação dos recursos humanos do nosso país.Relativamente aos objectivos agora traçados, penso que são extremamente importantes para o nosso país, que, nesta matéria, ainda está muito aquém dos seus parceiros da União Europeia. Contudo, parece-me que não deixa de ser um objectivo demasiado ambicioso, para ser atingido num espaço de tempo tão reduzido.Como encara o alargamento do Ensino Profissional à rede pública secundária?Com naturalidade, até porque a actual rede de escolas profissionais privadas não tem capacidade de resposta para todos os alunos que, ano após, ano nos procuram. Porém, sendo este um sistema de ensino com especificidades muito próprias, espero que ao ministrá-lo numa escola secundária que não se assista à transformação deste ensino, de cariz marcadamente prático, num ensino tipo liceal. Isso seria dar um passo atrás de quase 20 anos. Da mesma maneira, julgo que seria injusto pedir a uma escola profissional que ministrasse cursos secundários de carácter geral, como o faria e bem, uma escola secundária.Importa ainda que o Ministério da Educação respeite a rede de oferta existente nas Escolas Profissionais, de forma a não duplicar cursos e investimentos que tanto custam ao nosso país. É sabido que Portugal tem grandes carências de quadros técnicos intermédios, especialmente nas áreas mais ligadas às indústrias, mais tecnológicas. Considera que as escolas profissionais estão a saber adequar a oferta formativa que têm às reais necessidades do nosso país e da região?De facto, é importante fazer essa diferenciação entre algumas escolas que se limitam a ministrar os chamados “cursos de papel e lápis” e as escolas que apostam nas áreas formativas que mencionou, cursos bastante mais dispendiosos do ponto de vista financeiro mas que vão ao encontro das reais necessidades dos empresários. Estas escolas, entre as quais as que represento, têm efectuado grandes investimentos na construção de infra-estrutura e na aquisição de equipamentos tecnológicos. Isto tem sido feito com muito esforço porque a diferenciação feita pelo Ministério da Educação no que se refere ao financiamento deste cursos, acaba por penalizar as escolas que apostam nestes cursos. E esse esforço é recompensado?Eu penso que não há outra solução, as escolas profissionais têm de se adaptar para ir ao encontro das necessidades dos empresários, e essa deve ser a sua grande preocupação. Os empresários sabem reconhecer as escolas que apostam neste tipo de ensino, desenvolvem connosco parcerias e solicitam os nossos alunos para estágios e empregos. A recompensa advém do facto de sentirmos que os jovens por nós formados estão a contribuir para o desenvolvimento económico das empresas para onde foram trabalhar.Quantos alunos já foram formados? As escolas do distrito já formaram mais de 9 000 jovens técnicos. Isto em termos de respostas às empresas é significativo mas continua a existir uma grande carência especialmente nas áreas mais técnicas. Como pessoa com responsabilidades no distrito ao nível do ensino profissional quais são as suas grandes preocupações neste momento, relativamente a esta matéria?Preocupa-me que as escolas profissionais não sejam desvirtuadas pelas mudanças que estão a ser agora implementadas e espero que o Ministério da Educação respeite a rede de oferta formativa existente nas escolas profissionais. De resto, tenho a confiança que as escolas profissionais estarão à altura dos desafios e novas oportunidades que lhes estão a ser colocadas.

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