Intensificar o diálogo e a interacção com a comunidade
Drª Maria de Lurdes Asseiro e o futuro do Politécnico de Santarém
A ligação do Instituto Politécnico de Santarém à região tem sido uma prioridade mas com o Processo de Bolonha abriram-se novas possibilidades de diálogo e interacção que a presidente daquela instituição quer ver concretizadas. Maria de Lurdes Asseiro também quer que o Politécnico se afirme como um todo e não como uma soma das suas escolas. Para concretizar esse objectivo está a ser criado o Centro de Estudos e Desenvolvimento.
P. A que se deve a diminuição de alunos no Instituto Politécnico de Santarém? R. A diminuição do número de alunos não é um problema exclusivo do Instituto Politécnico de Santarém, verifica-se em todo o país. Por uma questão demográfica e pelo aumento da taxa de insucesso escolar no secundário. Tudo isto associado a um aumento do número de cursos superiores disponibilizados. A oferta é neste momento superior à procura.P. Há cursos onde a procura não baixa.R. Sim, há realmente cursos que continuam a ter interesse e a afirmarem-se como núcleos concentradores, com número elevado de candidatos. As áreas de estudo que são menos interessantes para os alunos são as que têm menos saída em termos profissionais. P. Na fórmula de financiamento dos Politécnicos o número de alunos tem bastante importância. Hoje as instituições não podem desenvolver-se e desenvolver a sua acção sem financiamento. Nas privadas é por via das propinas e de outras receitas. Nas públicas o contributo das propinas de modo algum responde ao custo do próprio curso e por isso há o financiamento por via do Orçamento Geral do Estado. No cálculo desse financiamento o número de alunos tem um peso significativo. Se não houver alunos não há financiamento.P. Há cursos com pouca procura que são importantes para o país?R. No Instituto Politécnico de Santarém, Escola Superior Agrária, temos por exemplo o curso de Equinicultura. Tem tido deficit de candidatos e alunos mas tem sido sempre considerado um curso com relevância pela sua especificidade. É único no país e funciona numa região onde as questões da equinicultura têm algum peso e significado.É uma excepção porque cursos que tenham um número de alunos inferior a vinte – foi esse o tecto estabelecido este ano pelo senhor Ministro – não serão financiados.P. É o Governo que define esse interesse?R. Sim. As áreas da saúde são claramente áreas onde desde que haja condições e disponibilidade as instituições podem aumentar o número de alunos. As áreas das artes e tecnologias que são tidas como prioritárias face ao desenvolvimento e necessidade do país na qualificação de activos e de jovens.P. O que responde aos que afirmam que o ensino está afastado da realidade? R. O Instituto Politécnico de Santarém tem uma ligação forte ao mundo do trabalho. Às empresas, às associações empresariais, às instituições públicas e privadas. Há uma articulação e aproximação que se traduz no desenvolvimento de estágios, na participação de profissionais em seminários, no estabelecimento de protocolos.O perfil do ensino politécnico tem que ser desenvolvido com grande proximidade às profissões. É isso que o caracteriza. É isso que o identifica como tal. P. A crítica que algumas vezes se ouve não é justa?R. Não corresponde à realidade. As escolas não estão afastadas das empresas nem dos contextos de trabalho. Há várias formas de o fazer. Umas podem estar a fazê-lo de uma forma mais sistematizada, mais forte, mais sustentada, outras de outra forma. Mas há uma ligação à realidade da região.P. Uma ligação que, pelo que já se sabe, vai ser reforçada.R. Sim, um dos nossos objectivos é fortalecer essa vertente. Não só porque a sentimos como essencial como pela implementação do processo de Bolonha que vem reforçar a necessidade de uma aproximação forte ao tecido empresarial e à sociedade. Esta questão já era um dos nossos pontos fortes e vai continuar a ser.P. Os empresários vêm ao Politécnico? R. Nós temos órgãos de gestão das Escolas e do Instituto Politécnico que têm no seu seio representantes das empresas e da comunidade. No Conselho Geral, nos Conselhos Consultivos, por exemplo. E vamos desenvolver mais acções para melhor divulgar o Instituto Politécnico. Cada vez mais estamos a conseguir essa aproximação. Até pelos meios e infra-estruturas que possuímos. Temos, por exemplo, um centro de informática que nos permite prestar alguns serviços a empresas. Há protocolos firmados com empresas para o desenvolvimento de alguns projectos em que os nossos docentes e infra-estruturas são utilizados para o desenvolvimento dos mesmos. São caminhos que se abrem para afirmar e dar mais visibilidade ao Instituto Politécnico. P. Cada Escola afirma-se por si ou há uma estratégia de afirmação para o Instituto Politécnico de Santarém?R. Vamos criar até ao final do ano um Centro de Estudos e Desenvolvimento que nos permitirá desenvolver projectos com uma maior aproximação ao tecido empresarial e às organizações e actualizar esta ligação que é fundamental à sustentabilidade de qualquer estabelecimento do ensino superior. Queremos que as nossas Escolas tenham um sentido institucional e que o sucesso de umas seja o sucesso das outras. P. E que desafios veio o Processo de Bolonha colocar?R. O processo de Bolonha está a ser discutido e reflectido no interior das nossas escolas há algum tempo por toda a comunidade académica e com representantes da sociedade. Não é uma discussão que tenha começado agora. Este ano já há metas mais delineadas relativamente aos instrumentos que são necessários implementar e desenvolver face às novas exigências e requisitos. Temos que ter uma oferta formativa que responda às necessidades das instituições e empresas. Que contribua para a qualificação dos activos. P. Disse já que a ligação ao mundo do trabalho e à região tem sido uma preocupação de sempre do Politécnico. Qual é a novidade agora?R. Foram criados instrumentos que nos permitem avançar com uma qualificação mais próxima das empresas, quer por via do tipo de cursos que nós desenhamos em termos curriculares, quer por via dos horários, quer pela via de entrada. Mudou substancialmente a forma de acesso ao ensino superior para maiores de 23 anos Até 2005 eram os tradicionais exames had-hoc. Agora os critérios de admissão são diferentes. Estão mais de acordo com a realidade existente. Issdo reflectiu-se já na procura. Tivemos no global do Instituto 242 candidatos.P. Para além dessa maior facilidade de acesso ao ensino superior que outras portas se abrem?R. Há uma outra oferta que estamos também a trabalhar e que será disponibilizada no decorrer do próximo ano lectivo, que são os cursos de especialização tecnológica. É um tipo de formação que tem um interesse especial para o meio e para a região porque vai dar resposta não só às necessidades formativas de jovens que concluíram o 12º ano mas também a quem já está no mundo do trabalho e que por razões várias não frequentou o Ensino Superior. Pessoas que podem melhorar a sua qualificação e desenvolver competências que lhes são necessárias para melhorar o seu desempenho profissional.Todos os estudos dizem que os trabalhadores portugueses têm um baixo nível de qualificação. É um desafio para as nossas escolas contribuírem para a melhoria desses indicadores. E eu julgo que temos condições para o fazer. P. Paralelamente foi feita a remodelação dos cursos. R. O Instituto Politécnico fez a adequação das suas licenciaturas ao estabelecido no Processo de Bolonha. Nomeadamente quanto à duração, às estratégias e metedologias. Os cursos têm que ser voltados para o desenvolvimento de competências dos alunos e muito em função do seu trabalho. Não podem estar centrados apenas no número de horas teóricas ou práticas. Para nós o centro de atenção é o aluno. Temos que desenvolver um trabalho que confira cada vez mais qualidade a todo o processo de ensino/aprendizagem. P. Já há confirmação do registo dos novos cursos? R. Já temos confirmação dos cursos da Escola Superior Agrária e da Escola Superior de Educação. A resposta relativamente aos restantes deve chegar nos próximos dias. Têm estado a ser enviados alguns dados complementares que foram entretanto solicitados. Na altura das inscrições estará tudo pronto. P. A mudança é total? R. Ainda há cursos que podem funcionar tendo por base a estrutura antiga. Temos cursos que não foram ainda enviados para registo de adequação mas isso será feito até 15 de Novembro.P. De onde são oriundos os alunos do Instituto Politécnico de Santarém?R. Há cursos com 70 a 80 por cento de alunos oriundos da região, por exemplo os cursos na área de enfermagem e da Escola Superior da Educação. Outros alunos vêm de regiões limítrofes. No global mais de 50 por cento dos nossos alunos são da região.P. Tem a noção da taxa de empregabilidade dos vossos formandos? R. Depende das áreas. Há algumas áreas com forte implantação na região que absorvem grande parte dos licenciados. A proximidade de Lisboa atrai alguns alunos. Mas a maioria dos nossos formandos trabalha na região.
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